Autor de golaço e preterido por Telê: relembre passagem de Aguirre pelo Tricolor - Gazeta Esportiva
Felipe Leite
São Paulo, SP
03/13/2018 09:00:47
 

Para substituir Dorival Júnior no comando técnico da equipe, a diretoria do São Paulo anunciou a contratação do uruguaio Diego Aguirre, que terá concretizada sua terceira passagem pelo futebol brasileiro como treinador. Bicampeão uruguaio com o Peñarol e tendo já assumido o Internacional, onde foi campeão gaúcho em 2015, além do Atlético Mineiro, o sul-americano chega com a missão de reerguer o Tricolor, que não conquista um título oficial desde 2012.

Entretanto, essa não será a primeira vez que Aguirre defenderá as cores do São Paulo. Em sua carreira como jogador, o agora ex-atacante foi contratado pelo clube após a campanha pífia no Campeonato Paulista de 1990. A reformulação do elenco era inevitável: depois de muitas especulações e ameaças de saída, Nelsinho, Bobô, Nei e Renatinho deixaram o time. Para suprir as ausências, a diretoria tricolor se mexeu e trouxe para o Morumbi os jogadores Leonardo, Alcindo, Juan Ramón Carrasco e o próprio Diego Aguirre, vindo do Internacional de Porto Alegre.

Após a saída precoce do Paulistão daquele ano e sem calendário previsto para a Copa do Brasil, depois do jogo contra o União Bandeirante, o São Paulo ficou sem jogos oficiais a serem disputados no mês de julho. Com isso, os comandados do também uruguaio Pablo Forlan realizaram um amistoso, em Cambuí, Minas Gerais, contra a equipe do Pouso Alegre. A vitória magra por 1 a 0 marcou a estreia de Aguirre com o uniforme do Soberano, que também viu o goleiro Zetti fazer seu primeiro jogo com a camisa tricolor.

Diego Aguirre demonstrou frustração com Telê Santana (Foto: Acervo/Gazeta Press)

Depois da partida, o elenco embarcou para o Chile, onde iria disputar um torneio amistoso, denominado “Copa da Amizade”, criado com o intuito de aproximar relações entre a Federação Chilena de Futebol e a CBF. Lá, o São Paulo levantou o troféu após empatar com o Colo-Colo por 0 a 0 e ganhar da Universidad Católica, por 2 a 0, em jogo que contou com o primeiro gol de Aguirre pelo time brasileiro.

Golaço no Beira-Rio

Na volta ao país, a equipe paulista já tinha data marcada para retornar aos gramados na disputa de uma competição oficial: no dia 2 de agosto, enfrentaria o Grêmio pela Copa do Brasil. O duelo foi disputado no Estádio Beira-Rio, do Internacional, já que o Olímpico foi interditado pela Federação Gaúcha por problemas estruturais. Durante o confronto, que contou com um gol do Grêmio na primeira etapa, marcado por Vílson, Aguirre jogou avançado, isolado no ataque do São Paulo e “prendendo” os defensores João Marcelo e Jandir.

Aos quatro minutos do segundo tempo, após ameaçar a meta de Mazzaropi três vezes, o uruguaio recebeu bola da linha de fundo e executou uma linda bicicleta, marcando “um dos mais bonitos gols do Estádio Beira-Rio”, segundo relatou na época o jornal A Gazeta Esportiva. A partida terminaria empatada por 1 a 1 e, com nova igualdade por 0 a 0 no Morumbi no jogo de volta, o São Paulo avançaria para a próxima fase da competição nacional.

Depois disso, vieram as estreias no Campeonato Brasileiro e nas quartas de final da Copa do Brasil. O São Paulo perdeu as duas partidas, para Atlético Mineiro e Criciúma, respectivamente, além de amargar outra derrota contra o Santos, na Vila Belmiro, também pelo Brasileirão. O Tricolor só iria se reencontrar com a vitória no dia 2 de setembro, contra o Bragantino, em partida que contou com gol único de Aguirre, que acabou sendo expulso no minuto final. No jogo seguinte, o embate de volta pela Copa do Brasil, o uruguaio mais uma vez garantiu o triunfo, que, entretanto, não foi suficiente para garantir a permanência da equipe no torneio mata-mata.

Os maus resultados recentes faziam crescer a pressão para cima do técnico Pablo Forlan. Nos quatro jogos seguintes, o São Paulo venceu dois (Portuguesa e Internacional), empatou um (Corinthians) e perdeu outro (Goiás). No dia 29 de setembro de 1990, na Fonte Nova, o Tricolor empatou com o Bahia por 2 a 2, em partida que ficaria marcada por ter sido a última que Diego Aguirre marcou um gol com a camisa do Tricolor. O embate seguinte, contra o Vasco em pleno Morumbi, terminou em 0 a 0, e foi a última vez que o uruguaio vestiu o uniforme da equipe paulista.

Durante a partida contra os baianos, Aguirre acusou uma contusão na perna direita. Após desfalcar alguns treinamentos do clube antes do confronto contra os cariocas, sendo poupado, conseguiu se recuperar e foi ao jogo. Entretanto, em 6 de outubro, um dia antes da partida do São Paulo contra o Botafogo, o atleta foi novamente vetado pelo departamento médico do Tricolor.

Uma semana depois, Pablo Forlan, mesmo tendo recuperado parcialmente os bons resultados, se demitiu do cargo técnico. “Pedi para sair, após uma reunião com o diretor Fernando Casal. Estou saindo em respeito à diretoria, ao elenco e aos verdadeiros são-paulinos”, justificou o uruguaio ao jornal A Gazeta Esportiva, alegando que a “torcida contra” de alguns torcedores foi essencial para sua saída. Aguirre, contratado por indicação de Forlan, mostrou-se descontente com o fato na época. “São coisas que acontecem. Deixou o clube dando oportunidade para outro. Foi superlegal com todos. Ele mantinha um bom relacionamento com o grupo”, lamentou.

Pouco espaço com Telê Santana

O contratado para substituir o treinador sul-americano seria aquele que marcaria seu nome na história do Tricolor: Telê Santana, vindo do rival Palmeiras. Com o novo treinador, Aguirre viu suas chances diminuírem. Como estava machucado quando o técnico chegou, o uruguaio viu Eliel ocupar sua vaga e corresponder no restante da campanha do São Paulo no Campeonato Brasileiro de 1990. A equipe se recuperou e acabou com o vice-campeonato, perdendo na final para o rival Corinthians, vencedor de seu primeiro título da competição. Após a decisão, em entrevista para A Gazeta Esportiva, Diego Aguirre não escondeu sua frustração por não entrar em campo, mas também evitou culpar Telê Santana.

“Achei melhor assim. Se fosse ao jogo ia ficar nervoso e tenso demais. Quando a gente não participa, o sofrimento é maior. Fiquei em casa e torci bastante. Mas não deu, infelizmente”, contou, ainda completando. “O Telê deve ter tido suas razões. Mesmo porque, quando assumiu o São Paulo, eu estava machucado. Cheguei a ficar 15 dias em tratamento. O Telê lançou o Eliel e deu certo”, finalizou. Com seu contrato de empréstimo válido até o dia 31 de dezembro de 1990, Aguirre demonstrou querer continuar.

Gostei do São Paulo e queria renovar o contrato. Mas são os dirigentes que decidirão o meu futuro. Vou esperar. Em momento algum pressionei o Telê para jogar. Mas tive muita vontade de jogar a decisão

O uruguaio ainda completou, reforçando seu desejo. “Se tivesse que entrar, ia acontecer naturalmente. Sempre pensava assim. Se eu ficar, espero ganhar uma chance para mostrar o meu valor”. Entretanto, a diretoria são-paulina não chegou a um acordo com o empresário do atleta, Juan Figer, e o uruguaio se despediu do Tricolor com 17 jogos na conta e sete gols marcados, além de uma expulsão. Na temporada de 1991, acertou com a Portuguesa, que seria sua última equipe defendida no futebol brasileiro.

Agora, 28 anos depois, Aguirre assume o comando técnico do São Paulo, destinado a fazer o Tricolor voltar ao caminho das conquistas. Em sua apresentação como treinador, na segunda-feira, o uruguaio recordou os momentos vividos no Morumbi e afirmou estar preparado para o desafio no CT da Barra Funda.

“Foi uma experiência maravilhosa. Pude ver jogadores de altíssimo nível, de Seleção Brasileira. Tenho o conhecimento do clube porque joguei aqui, porque me troquei no vestiário. Sou uruguaio, mas joguei aqui em vários times. Treinei o Inter e o Galo e me sinto com o conhecimento de tudo para poder fazer o meu trabalho”, explicou.