Eterno - Gazeta Esportiva

12/30/2022 07:00:52
 

Maior jogador de futebol de todos os tempos, cidadão do mundo, Rei do Futebol e Atleta do Século. Estas foram algumas das denominações criadas para caracterizar Edson Arantes do Nascimento, morto na última quinta-feira. Porém, as hipérboles são insuficientes para explicar o imortal Pelé, um fenômeno da natureza. Com muita propriedade, ele mesmo definiu: “Pelé é coisa de Deus, é difícil explicar, não vai nascer mais”.

Predestinado, o filho de Dondinho e Dona Celeste deixou a pequena cidade de Três Corações direto para o estrelato. Um gênio dentro das quatro linhas, Pelé rompeu todos os obstáculos apenas com seu talento, sem fazer muito esforço. O primeiro problema superado foi a reticência da própria mãe, que não queria mais um jogador de futebol dentro de casa além do marido, mas acabou cedendo.

Como tudo na vida do craque, as coisas aconteceram rápido em Santos, clube que recebeu o garoto em suas categorias de base. Irreverente e corajoso, Pelé não precisou de muito tempo para provar o seu talento e assumir um lugar no time titular. Aos 17 anos, o primeiro de seus cinco títulos mundiais. A taça na Suécia, pela Seleção Brasileira, marcou o começo da mística da camisa 10, eternizada pelo atleta.

Em uma carreira como a de Edson Arantes do Nascimento, talvez a tarefa mais espinhosa seja escolher apenas alguns momentos. Uma mostra de seu talento particular é que Pelé deixou encravado na memória de milhares de torcedores até mesmo os gols que perdeu. O drible no goleiro Mazurkiewicz é um dos lances mais geniais da história. Assim como a tentativa de marcar do meio-campo contra a Tchecoslováquia.

São tantos os recordes conquistados pelo jogador que eles até parecem insignificantes. Seja com a camisa do Santos, do Cosmos ou da Seleção Brasileira, Pelé rompeu todas as marcas. Sua rara habilidade com a bola nos pés, aliada a um comportamento cordial do lado de fora do gramado, proporcionou diversos prêmios de veículos especializados e honrarias oferecidas por países e cidades.

Dico e Bilé

Edson Arantes do Nascimento nasceu em uma quinta-feira, noite de lua cheia. Seu pai estava fora da cidade, mas, quando viu o garoto, profetizou: “Vai jogar futebol”. O dia era 23 de outubro de 1940, a cidade era a pequena Três Corações, em Minas. E a ocasião vai ser lembrada até que o futebol deixe de existir. O pai, seu Dondinho, estava tão feliz com a chegada do filho que nem percebeu os erros do escrivão quando registrou Edson. Na primeira certidão estava escrito Edison e a data de nascimento era 21 de outubro.

Até os cinco anos, o único apelido de Edson era Dico. Nasceu como Edinho, evolui para Edico e depois virou simplesmente o Dico. Pelé, o apelido que carregou por toda a vida, começou a surgir aos três anos de idade, mas só passou a ser usado quando a família se mudou para Bauru. Em 1943, Dondinho jogava em um time de São Lourenço, cidadezinha de Minas. O goleiro do time, Bilé, impressionava o garoto, que sempre gritava: “Defende Bilé”. Em 1945, já na cidade paulista, nas peladas com os amigos, Edson ficava no gol, e a cada defesa que fazia, gritava Bilé. A pronúncia errada, característica da idade, e o forte sotaque mineiro se encarregaram de transformar Edson em Pelé.

Precoce no futebol, aos dez anos de idade formou seu primeiro time, o 7 de setembro. Como não podia deixar de ser, o time precisava de uniformes e de uma bola, mas os garotos não tinham como comprar o material. Solução: completaram um álbum de figurinhas que dava como prêmio uma bola e venderam amendoins roubados da estrada de ferro para comprar os uniformes. Em pouco tempo, o 7 de setembro ficou conhecido, assim como o futebol de Pelé. Ainda em 50, Edson ganhou 4.500 réis para jogar pelo Ipiranguinha, time de várzea. Foi o primeiro contrato.

Pelé jogou na várzea até os 14 anos, quando o Bauru Atlético Clube formou o Baquinho, uma equipe para garotos de 15 anos. Mais de 100 meninos fizeram peneira, 25 foram escolhidos e Pelé foi um deles. O técnico do time era o mesmo da equipe principal, o ex-jogador Brito, que tinha jogado a Copa de 1934 pelo Brasil. A estreia aconteceu no dia 29 de outubro, empate por 3 a 3 contra o Gérson França, time local. No jogo seguinte, o time mostrou força: 21 a 0 no São Paulo da cidade. Pelé marcou sete.

Devido às excelentes atuações no Baquinho, ele logo passou a ser cobiçado por muita gente. O Bangu foi o primeiro a mostrar interesse. Tim, técnico do time carioca, esteve em Bauru para tentar levar o jovem para o Rio de Janeiro. Mas dona Celeste, mãe do craque, não queria para o filho a carreira de jogador de futebol. Seu marido, Dondinho, já tinha sofrido muitas decepções com o esporte. Resultado: Tim voltou para o Rio de mãos abanando. Nove meses depois, Brito, técnico do Baquinho, levou o garoto para Santos. Brito era amigo de Dondinho e preparou um belo discurso para convencer dona Celeste. Deu certo. E foi o garoto Edson para Santos, com apenas 15 anos e ainda de calças curtas.

O Santos e o Gasolina

Com apenas 15 anos, Dico chegou ao Santos. O time tinha sido campeão paulista no ano anterior e tinha grandes nomes no elenco: Zito, Del Vechio, Pepe, Jair da Rosa Pinto, Pagão, entre outros. Indicado como craque, despertou a curiosidade dos diretores do time da Baixada, que queriam ver o que aquele garoto sabia fazer. No teste, recebeu massagens na perna pela primeira vez e foi colocado no time reserva pelo técnico Lula. No primeiro lance, ele já mostrou o que podia.

Posteriormente, o craque recordou a jogada: “O Zito perdeu uma bola para o Pagão, que passou para mim. Eu poderia tentar o drible no Ramiro (zagueiro) e partir para o gol. Mas, preocupado em não errar, devolvi para o Pagão, que driblou o Ramiro e fez o gol”. No final do treino, o técnico Lula elogiou: “Pelé é bom, vamos segurá-lo”. Outro que gostou do recém-chegado foi Jair da Rosa Pinto, que na saída do treino deu um tapinha nas costas de Pelé e falou: “Você tem pinta”.

Aprovado nos testes, o garoto passou a treinar com os juvenis e ainda ajudava nos profissionais. Um jogador, Wilson, impressionado com a forma e a velocidade do menino, passou a chamá-lo de Gasolina. O garoto ouvia “Vai, Gasolina” e, orgulhoso, resolvia correr ainda mais.

Travesso, mesmo entre os profissionais aprontava brincadeiras. Até que um dia exagerou. Em um treino com os profissionais, Pelé partiu para cima do zagueiro Hélvio. Deu um corte, depois deu outro e o zagueiro se desequilibrou. Se quisesse já podia passar pelo zagueiro. Mas não, deu o terceiro corte e o jogador caiu no chão. Foi a gota d’água. O menino deixou a bola e começou a rir. O zagueiro levantou e tentou bater naquela criança atrevida que o tinha humilhado. Por sorte, os companheiros seguraram Hélvio. O zagueiro foi expulso do treino e Pelé foi muito punido pela gozação. Mas ganhou um lugar entre os profissionais.

Sensação entre os juvenis, os diretores do Santos ainda não sentiam que Pelé estivesse à vontade no Santos. A diretoria queria que ele se desenvolvesse, mas havia muita pressão em cima daquele garoto, apontado como maior promessa do time. Resolveram oferecer o jogador para um time de outra cidade, onde não estivessem esperando muito dele. O escolhido foi o Vasco da Gama. Mas o dirigente do clube, Antonio Calçada, esnobou o craque. Ao ouvir o nome Pelé, disse: “Quem é Pelé? E só com 15 anos? Você deve estar brincando!”

A estreia no time profissional do Peixe aconteceu no dia 7 de setembro de 1956. Era apenas um amistoso, contra o fraco time do Corinthians de Santo André. O garoto foi chamado para completar o banco de reservas. No meio do jogo, o ponta de lança Del Vechio se machucou. Era o que Pelé estava esperando. Entrou e não decepcionou. Marcou um gol e o Santos ganhou por 7 a 1.

A chance no time titular veio ainda em 1956. E, infelizmente, por causa de uma perna quebrada. Na final do Campeonato Paulista de 1956, quando o Santos seria bicampeão contra o São Paulo, o ponta de lança Vasconcelos estava em ótima fase. Habilidoso e driblador, sabia como poucos conduzir a bola em direção ao gol. Já tinha sido convocado para a Seleção duas vezes. Aproveitando a boa fase, Vasconcelos foi para cima do zagueiro Mauro Ramos de Oliveira. Os dois se chocaram dentro da área e foram para o chão. Mauro levantou, mas Vasconcelos, não. A perna estava quebrada, dando uma vaga no time titular do Santos para Pelé. Vasconcelos ainda voltou a jogar, mas nunca como antes. E nunca mais recuperou a sua vaga, perdida para o maior jogador da história do futebol mundial.

A camisa 10

O sonho de todo o garoto que começa a jogar futebol é vestir a camisa 10 de seu time. O número carrega uma história, uma mística e é sempre uma responsabilidade usá-la. Na maioria das vezes, é o craque do time que recebe essa missão. Mas não foi sempre assim. Antes de Pelé, o número das camisas de futebol era algo usado meramente para identificar os jogadores.

Só que tudo isso mudou quando aquele brasileiro de apenas 17 anos assombrou o mundo na Copa de 1958. O mais curioso é que a escolha de Pelé para vestir a camisa 10 da seleção aconteceu por acaso. Antes da Copa da Suécia, os dirigentes brasileiros mandaram a relação de jogadores convocados para a competição. Só que eles se esqueceram de dar o número aos atletas. Para resolver o problema, um dirigente uruguaio que estava na sede da Fifa na ocasião acabou escolhendo os números dos brasileiros. O detalhe era que o uruguaio não conhecia os jogadores. Com isso, o Brasil foi para a Suécia com a numeração mais incomum da história das Copas. O goleiro Gilmar jogou com a 3, Garrincha, ponta-direita, jogou com a 11 e Didi, meia, acabou com a 6. E o destino quis que Pelé ficasse com a 10.

A coincidência acabou eternizando a camisa. Hoje, a maioria os garotos que quer uma camisa de futebol tem a preferência pelo número 10. E qualquer jogador que vestir a 10, de qualquer time, vai se lembrar do Rei.

O jogo inesquecível

Foi o próprio Pelé quem escolheu Brasil 1 x 0 Inglaterra, na Copa de 1970, sua partida inesquecível. A dramática vitória pela contagem mínima foi de vital importância para a Seleção chegar ao tricampeonato no México. Segundo a imprensa da época, o confronto seria uma final antecipada do Mundial, já que estariam em campo os campeões de 1958 e 1962 e a campeã de 1966. Uma derrota não seria o fim de um sonho, mas a vitória, em termos de composição de tabela, facilitaria a busca pelo título. E foi o que aconteceu. Por ser a primeira colocada no grupo, a Seleção Brasileira permaneceu em Guadalajara, contando com o apoio da torcida. E ainda enfrentou a inexperiente seleção peruana, treinada por Didi. A Inglaterra ficou com a segunda posição e teve que encarar a forte seleção alemã. Resultado: o Brasil passou pelo Peru (4 a 2) e os ingleses foram desclassificados pela Alemanha (3 a 2).

Brasil e Inglaterra jogaram com muita cautela no primeiro tempo, pois havia muito respeito entre as equipes. A tática brasileira para surpreender o adversário era o contra-ataque. E foi em uma jogada iniciada por Jairzinho que Banks, goleiro inglês, fez a defesa mais perfeita da história dos Mundiais. Entrando em diagonal pela direita, o “Furacão da Copa” cruzou para a área, onde Pelé estava entre a marca do pênalti e a linha da pequena área. Ele subiu e cabeceou com força para baixo, no canto esquerdo. Banks, que estava no meio do gol, em um salto espetacular, espalmou a bola para escanteio.

No segundo tempo, os ingleses ficaram na defesa, dando a impressão de que estavam satisfeitos com o empate. Porém, aos 15 minutos, Tostão fez um lance que destruiu a retranca adversária. Ele passou a bola por entre as pernas de um zagueiro, rodopiou sobre ela, tirando dois adversários da jogada, e, acossado por Bobby Moore, cruzou à meia altura. Pelé dominou a bola com o pé direito e, cercado por três ingleses, rolou mansamente para Jairzinho chutar e fazer o gol da vitória.

Em desvantagem no placar, a Inglaterra trocou a forte marcação pelo jogo ofensivo. Alf Ramsey, o técnico inglês, substituiu o experiente Bobby Charlton por Bell, e Lee por Astle, dois bons finalizadores. Nos minutos finais, em três oportunidades, os ingleses estiveram próximos do empate. Numa delas, Astle, sozinho diante de Félix, chutou por cima. Depois da partida, enquanto trocava camisas com Pelé, Bobby Moore disse: “fizemos o que nosso técnico pediu: ‘Não deixem o Pelé chutar’. Ele só não pediu para que não o deixássemos dar um passe…”

Dois lances antológicos e o gol de placa

Nenhum outro jogador deixou tantas jogadas espetaculares na memória popular. Mas três desses lances merecem atenção especial. Foram momentos de grande genialidade, em que Pelé deixou gravada toda sua maestria na arte de jogar futebol.

O primeiro desses lances aconteceu no Maracanã, em 1961. Jogavam Fluminense e Santos, pelo Rio-São Paulo. O Peixe já ganhava por 1 a 0, quando Pelé recebeu uma bola no meio de campo. A partir daí, a mágica tomou conta de todo o estádio. O primeiro a ser driblado foi Valdo. Depois, veio Edmílson, que também não conseguiu tomar a bola. O próximo era Clóvis, que foi superado pela velocidade incomparável de Pelé. A quarta vítima foi Pinheiro. Pelé jogou para um lado e cortou para o outro, deixando o zagueiro desabado no chão. O quinto a tentar parar a jogada foi Jair Marinho, que também foi superado. Assim, só restava o goleiro Castilho entre Pelé e o gol. Mas não foi nenhum problema. O Rei esperou o goleiro sair e tocou por baixo. Era o gol mais bonito que alguém já havia marcado no estádio. A beleza foi tanta que o jornalista Mário Filho, um dos ícones da imprensa brasileira, resolveu fazer uma placa para homenagear o mais belo dos gols feitos no Maracanã. E a placa dizia: “Neste campo no dia 5-3-1961 PELÉ marcou o tento mais bonito da história do Maracanã”.

Outro lance que ficou na memória aconteceu em 1970. No jogo de estreia da Seleção Brasileira na Copa do México, contra a Tchecoslováquia, Pelé quase marcou um gol que o mundo inteiro jamais iria esquecer.

Aos 40 minutos do primeiro tempo, quando a partida estava empatada por 1 a 1, Pelé, do meio de campo, em um lance de rara inteligência, percebeu que o goleiro Viktor se encontrava adiantado e chutou daquela distância, sem que ninguém esperasse. A bola foi caindo e o goleiro, que se encontrava na altura da marca do pênalti, recuou desesperadamente para tentar impedir o gol. Para sua sorte, a bola passou rente ao travessão.

Outra jogada antológica foi contra o Uruguai, nas semifinais do mundial do México. Sem tocar na bola, Pelé driblou o goleiro Mazurkiewicz e chutou meio desequilibrado, com um último esforço. O chute saiu cruzado e a bola passou perto da trave direita.

Quem foi rei nunca perde a majestade

No dia 19 de janeiro de 1961, no Pacaembu, Pelé fez coisas incríveis não só com os pés, mas também com as mãos. O Santos vencia o Grêmio por 4 a 3 pela Taça Brasil. Faltando cinco minutos para o final da partida, o goleiro do Santos, Gilmar, foi expulso. Como na época não havia substituições, o Santos teve que improvisar um goleiro. Pelé aceitou o desafio e vestiu a camisa número 1 do clube pela primeira vez.

Os jogadores do Grêmio sentiram que poderiam chegar pelo menos ao empate, devido à inexperiência de Pelé na posição, e chutaram de todas as distâncias. Mas quem foi Rei não perde a majestade, inclusive no futebol. Pelé fez duas defesas sensacionais e garantiu a vitória de seu clube por 4 a 3. Depois, como não poderia deixar de ser, foi carregado em triunfo pelos seus companheiros, por ser um herói, mesmo jogando improvisado na posição.

Mas essa não foi a única vez em que Pelé jogou no gol. O Rei atuou nessa posição por quatro vezes, todas pelo Santos. Nas quatro oportunidades, somou 43 minutos atuando debaixo das traves e não levou nenhum gol. O Rei sempre afirmou que gostava de jogar nessa posição e fazia suas defesas nos rachões do time santista quando tinha a oportunidade.

Mil vezes Pelé

Além do 10, que persegue Pelé até hoje, outro número fez parte da carreira do Rei. Nunca um atleta tinha alcançado tantas vezes o número mil nas estatísticas do futebol. Pelé conquistou o milésimo gol da carreira, o milésimo gol pelo Santos e a milésima atuação com a camisa do Peixe.

O milésimo gol do Rei, como não podia deixar de ser, foi marcado no Maracanã. No dia 19 de novembro, Santos e Vasco se enfrentavam e um empate por 1 a 1 persistia até os 32 minutos do segundo tempo. Foi aí que Pelé resolveu agir. Invadiu a área vascaína e tentou o drible no zagueiro Fernando. Pênalti. E lá foi Pelé cobrar. Não foi o gol mais bonito, tampouco o mais difícil. Mas foi o mais importante. Pelé se tornava o primeiro jogador profissional de futebol da história a fazer 1.000 gols na carreira. Mas ainda tinha mais.

O segundo mil da carreira do craque aconteceu nos Estados Unidos, mais precisamente em San Francisco. Em julho de 1972, o Santos estava em uma de suas turnês internacionais. No dia 9, jogou contra o Universidad do México. Pelé fez a festa da torcida presente no estádio, marcando o gol de número 1000 com a camisa santista. Para completar o show, ainda marcou o gol 1001.

O terceiro mil veio novamente no Brasil. No jogo contra o Santa Cruz, pelo Brasileiro de 1972, Pelé jogou sua milésima partida com a camisa santista. Era a coroação de uma carreira de vitórias e muitos gols. Foram 1.116 jogos pelo Santos e 1.091 gols.

O atleta do século

Além de Rei do Futebol, Pelé também virou o Atleta do Século, em referência ao século passado. Diversas eleições, feitas em todas as partes do mundo, deram o título ao brasileiro.

Em 1980, o jornal francês L’Equipe fez uma eleição com um júri formado por jornalistas dos principais veículos de comunicação do mundo. Os franceses elaboraram uma lista com o nome de 50 esportistas, a fim de que cada jornal escolhesse os mais completos. Entre os nomes que figuravam na lista estavam Muhammad Ali, Jesse Owens, Mark Spitz, Cruyff e Stanley Matthews, além de Pelé. Conforme os votos iam sendo apurados, dois concorrentes dispararam: Pelé e Jesse Owens. Em uma final apertada, o brasileiro ganhou por nove votos. Ele estava eleito o atleta do século. No dia 15 de maio de 1981, em Paris, Pelé recebeu o título.

Dezesseis anos depois de receber o título do L’Equipe, Pelé voltou a ser eleito o principal esportista do século XX. Desta vez, quem fez a eleição foi a francesa DuPont. A eleição durou três meses e foram entrevistadas pessoas de cinco países europeus: Itália, França, Inglaterra, Espanha e Alemanha. Pelé ganhou de novo, com vantagem.

Em uma eleição parecida com a feita pelo L’Equipe, a agência de notícias Associated Press elegeu o fato esportivo mais marcante do século XX. O fato eleito foi a carreira de Pelé, que, segundo a agência, transformou o futebol em um espetáculo mundial. Outra agência, a Reuters, pesquisou entre 270 jornalistas de todo o mundo e também elegeu Pelé o atleta do século. A além da imprensa, a Unicef também homenageou o craque, elegendo-o jogador de futebol do século.

Cidadão do mundo

Desde que começou a jogar futebol, Pelé enfrentou times de 66 países. Conheceu boa parte do mundo nas excursões da Seleção Brasileira, do Santos e do Cosmos. Além disso, é a personalidade mais famosa do globo. Não há como negar que o futebol fez de Pelé um cidadão do mundo. A Organização das Nações Unidas (ONU) percebeu isso e deu a Pelé em 1977 o Diploma de Mérito de Cidadão do Mundo.

Pelé também mereceu honrarias nos quatro cantos do mundo, como uma estátua na Índia, um estádio de futebol no Irã, uma rua em Montevidéu, Uruguai, e também uma praça em Los Angeles, EUA. Ele também recebeu o título de cidadão honorário de Nova Jersey e de filho preferido de Guadalajara. Mereceu também o título de Sir, recebido da Rainha da Inglaterra, em 1997.

Um reinado repleto de títulos e recordes

Pelé conseguiu bater quase todos os recordes de um jogador no futebol mundial. Algumas de suas marcas dificilmente serão igualadas ou superadas por qualquer outro atleta. Entre de 1956 a 1977, o Rei acumulou diversas glórias. Basta dizer que Pelé foi cinco vezes campeão do mundo: três pela seleção brasileira (1958, 1962 e 1970) e duas pelo Santos (1962 e 1963).

Outro recorde que talvez nunca mais seja alcançado: Pelé disputou 1.363 jogos e marcou 1.281 gols. Ao longo de mais de duas décadas de carreira, Pelé jogou nada menos do que em 62 países, nos cinco continentes, integrando o Santos e a Seleção brasileira. Sua presença nas partidas era mais do que obrigatória. Afinal, quem não queria ver de perto o Rei do futebol?

Além de três Copas do Mundo e dois Mundiais Interclubes, outros títulos importantes foram: bicampeão da Taça Libertadores da América, pentacampeão da Taça Brasil e duas vezes tricampeão paulista, todos os títulos pelo Santos. Foi também campeão norte-americano pelo Cosmos. Pelé só não conseguiu ser campeão sul-americano (atual Copa América).

Outros recordes exclusivos de Pelé são os números de jogos disputados e gols marcados em sua carreira profissional. Em sua despedida do futebol, no dia 1º de outubro, de 1977, quando jogaram Cosmos e Santos no Giants Stadium, em Nova Jersey, o Rei completou 1.363 jogos. No total, foram 1.281 gols. Mas ele fez muitos outros gols que não estão computados na história, por ter participado de partidas beneficentes e festivas, durante e depois de sua carreira profissional.

Dos 21 anos em que suas chuteiras correram a grama dos estádios, três foram ainda mais especiais. Em 1959, 1961 e 1965, o atacante rompe a barreira dos 100 gols por temporada. Em 1959, são 127 gols em 103 jogos (média de 1,23 gol/jogo), em 61 são 111 gols em 75 jogos (média de 1,48gols/jogo), e em 1965 a segunda melhor média (1,41 gols/jogo) com 105 gols em 74 jogos.

Artilheiro em 11 campeonatos paulistas, Pelé deixa recordes no chão com a mesma facilidade com que comanda a bola. São 1.091 gols pelo Santos, 63 pelo Cosmos e 95 pela Seleção Brasileira.

Raio-X

Nome: Edson Arantes do Nascimento

Data de nascimento: 23/10/1940

Naturalidade: Três Corações (MG)

Posição: meia-atacante

Filiação: João Ramos do Nascimento (Dondinho) e Celeste Arantes do Nascimento

Clubes: Santos e Cosmos

Títulos

Pelo Santos:

10 títulos do campeonato paulista (1958/60/61/62/64/65/67/68/69/73)
2 vice-campeonatos paulistas (1957/59)
2 terceiras colocações nos campeonatos paulistas (1963/66)
1 quarto lugar no paulista de 1970
4 vezes campeão do Torneio Rio São Paulo (1959, 1963, 1964, 1966)
5 vezes campeão da Taça Brasil (1961/62/63/64/65)
Campeão da taça de Prata (Torneio Roberto Gomes Pedrosa) (1968)
Campeão da Recopa Mundial (1968)
Bicampeão da Taça Libertadores (1962/63)
Bicampeão mundial de clubes (1962/63)
Campeão do Torneio Tereza Herrera (1959)
Campeão do Pentagonal do México (1959)
Campeão do Torneio de Valência (1959)
Campeão do Torneio Dr. Mário Echandi (1959)
Campeão do Torneio Giallorosso (1960)
Campeão do Quadrangular de Lima (1960)
Bicampeão do Torneio de Paris (1960/61)
Campeão do Torneio Itália 61 (1961)
Campeão do Torneio Internacional da Costa Rica (1961)
Campeão do Pentagonal de Guadalajara (1961)
Campeão da Taça das Américas (1963)
Campeão do Torneio Internacional da Venezuela (1965)
2 vezes campeão do Hexagonal do Chile (1965/70)
Campeão do Torneio Internacional de Nova Iorque (1966)
Campeão do Pentagonal de Buenos Aires (1968)
Campeão do Octogonal do Chile (1968)
Campeão do Torneio da Amazônia (1968)
Campeão do Torneio de Kingston (1971)
Campeão do Torneio Laudo Natel (1974)

Pelo Cosmos

Campeão norte-americano de futebol (1977)

Pela Seleção Brasileira

3 vezes campeão da Copa do Mundo (1958, 1962 e 1970)
2 vezes campeão da Copa Rocca (1957 e 1963)
3 vezes campeão da Copa Oswaldo Cruz (1958, 1962 e 1968)
Campeão da Copa Bernardo O’Higgins (1959)

Outros

Campeão Sul-americano Militar, pela seleção das Forças Armadas Brasileiras (1959)

Campeão brasileiro de seleções, pela seleção paulista (1959)