Encanto verde e amarelo - Gazeta Esportiva
Marcelo Baseggio
São Paulo
03/02/2019 08:00:25
 

Bode expiatório do fracasso da Seleção Brasileira nas duas últimas edições da Copa do Mundo, Fernandinho, ao menos, tem seu futebol reconhecido por grandes figuras do futebol mundial. Tido como um dos maiores ídolos do Manchester United, Bryan Robson (62) participou de um evento em São Paulo promovido pela DHL, patrocinadora dos Red Devils, e foi só elogios ao volante do rival Manchester City e também a outros atletas que já vestiram a Amarelinha.

“O Fernandinho, para mim, é um dos melhores jogadores da Premier League. Ele tem demonstrado um futebol absurdo nos últimos cinco anos. As pessoas falam de Aguero, mas esquecem do Fernandinho. Eu assisti o Fernandinho jogar. Ele é um volante bom na bola aérea, muito bom nos desarmes, passa bem a bola, pode marcar gols de qualquer lugar. Para mim, é um dos melhores jogadores não só da Premier League, mas do mundo todo na posição em que ele atua”, afirmou Bryan Robson.

Entre diversas histórias contadas pelo ex-jogador que mais vezes vestiu a braçadeira de capitão do Manchester United – foram 12 anos liderando o time -, a admiração que Bryan Robson possui por atletas brasileiros chama a atenção. Quando era treinador do Middlesbrough, foi o responsável por tirar Juninho Paulista do São Paulo. No Boro, como o clube inglês é apelidado, também trabalhou com o tetracampeão Branco e com o ex-volante Emerson.

“Sempre tive uma grande admiração por jogadores brasileiros. Um dos meus primeiros jogos com a camisa da seleção inglesa foi contra o Brasil, infelizmente eles ganharam. Foi uma grande experiência. O Zico fez o gol. Em 1980, 1982, o Brasil tinha um time fantástico. Se tivessem um goleiro melhor, um centroavante melhor, provavelmente eles teriam vencido a Copa do Mundo na Espanha, em 1982, porque Sócrates e Falcão eram jogadores fantásticos”, comentou.

“The Little Fella”

Além de Fernandinho, Bryan Robson recorda com bastante apreço o período em que teve a oportunidade de treinar alguns brasileiros. Em 1995, o ídolo do Manchester United veio ao Brasil para convencer Juninho Paulista a assinar com o Middlesbrough. Sua decisão se provou acertada anos depois, quando o meia, apelidado de “Little Fella” acabou se tornando ídolo ao retornar ao Boro e conquistar a Copa da Liga Inglesa, em 2004.

“Tive a sorte de vir a São Paulo e levar o Juninho Paulista quando assumi o Middlesbrough. No Middlesbrough ele é um superstar, um ídolo. Foi um grande jogador, com um grande caráter, adorava treinar, adorava jogar futebol. Ele era muito duro, mesmo sendo pequeno”, relembrou o inglês.

E a gratidão é recíproca. Atual presidente do Ituano, Juninho Paulista também não esquece do período em que trabalhou com Bryan Robson na Inglaterra e fez questão de agradecer todo o apoio dado pelo ídolo do Manchester United em sua primeira experiência no futebol europeu.

“O Bryan foi o grande responsável de eu ter aceito a ir para a Inglaterra. Ele veio para o Brasil, mostrou todo o projeto, disse que gostaria que o Middlesbrough se tornasse uma equipe mediana, grande da Inglaterra, consolidar o clube de vez na Premier League. Queria mudar o futebol inglês, colocar a bola mais no chão. Chegando lá ele me entregou tudo o que prometeu. Ele é um cara que se preocupava não só comigo dentro de campo, mas fora também, com o meu bem-estar, com o bem-estar da minha família. Sempre que surgia algum problema, ele pedia para a secretária resolver. Enfim, além de um treinador, uma pessoa fantástica, ele foi o grande responsável pelo meu sucesso lá”, contou Juninho.

Mas não foi apenas sobre o futebol brasileiro que Bryan Robson abriu o jogo. Hoje embaixador global do Manchester United, ele comentou sobre o trabalho de José Mourinho, demitido por conta do mau desempenho do time inglês na temporada, a ascensão de Ole Gunnar Solskjaer como interino, a imagem que os jogadores brasileiros passam aos ingleses, os segredos para se consolidar por tanto tempo como capitão de um grande clube, as chances dos Red Devils contra o PSG na Liga dos Campeões e também sobre quem deve ser o grande líder do clube inglês. Você confere abaixo a entrevista na íntegra:

Vida longe dos gramados

É fantástico para mim, porque, quando eu era criança, tudo o que queria fazer era jogar futebol. Jamais imaginei que jogaria pelo Manchester United e pela seleção inglesa, o que foi uma grande honra. Eu amaria ser treinador, mas após 12 anos como treinador, decidi tirar férias, me dedicar à família, aos meus netos. Para mim, agora, ser embaixador do Manchester United me proporciona a chance de representar um grande clube ao redor do mundo e ao mesmo tempo estar com a minha família. Tenho muito orgulho de fazer parte disso.

A passagem de José Mourinho pelo United

Mourinho em seu primeiro ano ganhou a Copa da Liga Inglesa e Liga Europa, o que foi brilhante. Todos acreditaram que Mourinho seria o cara certo para reconduzir o clube ao caminho das glórias, mas isso, de fato, não aconteceu. Os torcedores do Manchester United sempre se acostumaram com um estilo ofensivo de jogo. Quando Ole [Gunnar Solskjaer] veio, ele devolveu aos jogadores a liberdade para atacar, deixando de lado um pouco essa estratégia de contra-atacar. Acho que os torcedores estão se divertindo mais agora com o modo de jogar do Manchester United. Mourinho fez um bom trabalho, mas Ole devolveu a confiança aos jogadores e vem conquistando vitórias importantes, batendo o Chelsea na Copa da Inglaterra e o Tottenham no Campeonato Inglês em pleno Wembley. Mais do que a tática, ele devolveu o sorriso no rosto dos jogadores.

Ole Gunnar Solskjaer

Se tudo continuar como está indo, com os resultados chegando, terminando entre os quatro primeiros colocados no Campeonato Inglês, chegando à final da Copa da Inglaterra, a tendência é que seja oferecido a ele o cargo de treinador efetivo. Temos que esperar o fim da temporada para ver o que irá acontecer, mas, neste momento, o clube seria justo se mantivesse Ole no cargo.

Capitão desde criança

Quando eu tinha oito anos de idade, no time da escola, o professor me escolheu como capitão. Eu tinha que gritar com todo mundo, com o árbitro, e sempre me comuniquei dentro de campo. Assim, me tornei capitão. Fui crescendo e em todo o time que jogava acabava exercendo o papel de capitão, e acho que é porque sempre me comuniquei com meus companheiros de time, o que é uma parte importante do jogo, especialmente quando se trata de futebol profissional. Você precisa organizar, não pode ter medo, não pode dar a informação errada aos seus companheiros. Você tem que acreditar em si mesmo. Foi algo que aconteceu naturalmente para mim. Quando eu comecei no West Bromwich, havia muitos jogadores experientes, com esse espírito de liderança, e o que eu pude aprender com eles é que o espírito de equipe é muito importante. Jogar golfe ou apenas sair para comer juntos pode ajudar um jogador a conhecer o outro, ter o grupo unido, fazer as coisas de forma unida não só dentro de campo, mas fora dele também.

Manchester United x Paris Saint-Germain

O Manchester United reverter o resultado (2 x 0) do jogo de ida das oitavas de final da Liga dos Campeões contra o PSG é algo que passa pelo treinador. É ele que tem que armar uma equipe para não sofrer mais gols, ter uma postura ofensiva, porque será preciso marcar gols para se manter na competição. O Paris Saint-Germain é um time muito bom, mas com os jogadores que o Manchester United tem, é perfeitamente possível reverter o quadro.

O preconceito dos ingleses com jogadores brasileiros

Na Inglaterra há um certo preconceito de que os jogadores brasileiros são meio preguiçosos, bon-vivants, mas o fato é que eles sempre estão em forma, tem grande facilidade de vencer o “um contra um”, se você os chuta, eles te chutarão de volta. O Thiago Silva é um grande zagueiro. Ele tem bom passe, é muito bom nas bolas aéreas, ele é forte, é o tipo de defensor que o Manchester United precisa. Neymar é um dos melhores jogadores do mundo ao lado de Messi e Ronaldo.

Capitão ideal do Manchester United

No atual elenco, quem tenta organizar e se comunica bem com os companheiros são só dois: Chris Smalling e Ander Herrera. Vejo ele [Ander Herrera] nos treinos e ele é um organizador. Às vezes você pode pensar que Paul Pogba poderia ser o capitão, mas Pogba é o melhor jogador do time, você não dá a capitania para o melhor jogador. Ele não tem o perfil para organizar, colocar cada um no seu devido lugar. Com a bola, é genial. Mas, para corrigir seus companheiros, creio que não tenha o perfil.