eSports: A vida além das telas - Gazeta Esportiva
Andressa Mazzini, Leonardo Maia, Lucas Vannucci e Lucca Gotardi*
São Paulo, SP
11/02/2019 11:00:50
 

Os eSports, ainda vistos com desconfiança no Brasil, mudaram de patamar no momento em que foram abraçados por clubes como Corinthians, Santos e Flamengo. O time rubro-negro, que, embalado por Gabigol, persegue o título do Campeonato Brasileiro, tem uma equipe oficial de esportes eletrônicos, modalidade em que os atletas contam com treinamento especial para suportar exaustivas partidas com até seis horas de duração.

Nos eSports, as batalhas são vencidas com o cérebro e não com os músculos. O preparo físico, de fato, é importante, mas pouco adianta se o pro-player não souber aliar aspectos como tática, estratégia e concentração, comuns a qualquer esporte, do futebol ao vôlei. Embora os atletas não tenham que correr, precisam de muita dedicação e treinamento, rotina incondizente com alguém sentado passivamente diante da tela.

O jornalista Bruno Pereira é um dos personagens que levam a sério os eSports, a ponto de ganhar a vida como narrador específico da área. Em 2012, convidado para atuar no primeiro Campeonato Brasileiro de League of Legends, na Brasil Game Show, ele fez um acordo com o pai, que ainda via a modalidade com suspeita e desejava colocar o filho em uma universidade tradicional.

“Meu pai falou: ‘Você vai narrar esse campeonato. Depois, parar e voltar para o cursinho’. Eu concordei com uma condição: que ele fosse me assistir narrando. Quando chegou o dia do evento, ele viu o filho tirando fotos com a galera, dando autógrafos e narrando para mais de 500 pessoas ao vivo e mais de 50 mil na transmissão. Entendeu o tamanho da área e o quanto ela tem potencial para crescer”, contou Bruno.

Como narrador de eSports, o jornalista Bruno Pereira está acostumado a relatar os feitos de competidores como Paulo “PSK1” Arneiro – na cena dos esportes eletrônicos, os pro-players costumam ser mais conhecidos por seus apelidos. Jogador de Rainbow Six, ele atualmente integra a equipe Team Liquid, uma das maiores do mundo na modalidade.

PSK1 é um entusiasta das gaming houses, casas que reúnem os componentes de uma mesma equipe. “É essencial. Eu, por exemplo, como morava em Macapá, tinha internet ruim, enquanto meu time inteiro tinha internet muito boa, com computadores bons. Em uma gaming house, está todo mundo nivelado. Então, é algo que agrega bastante e acaba virando uma vantagem”, explicou.

O jornalista Bruno Pereira é narrador de eSports e teve trabalho para convencer o pai (Foto: Leonardo Maia)

As gaming houses são repletas de computadores potentes, muitas vezes fornecidos por patrocinadores. Na rotina de preparação, os pro-players têm horários rígidos, exercícios físicos obrigatórios e alimentação balanceada, elaborada por nutricionista. Os atletas mantêm contato constante com seus treinadores e são acompanhados por fisioterapeutas para evitar lesões nas mãos, além de psicólogos.

Estruturadas, as equipes contam com investimento de gigantes como Red Bull, Nike, Cola-Cola e Chevrolet. Contudo, por se tratar de um fenômeno recente e de pouca repercussão nas mídias de massa, poucas pessoas conhecem os bastidores de uma modalidade que só tende a crescer. O pai do narrador Bruno Pereira, por exemplo, já foi convencido.

“Naquela visita à Brasil Game Show, acho que tudo fez sentido para ele e até para mim, porque era meu primeiro evento. Desde então, tudo cresceu. Do evento de 2012, passou para o Allianz Parque em 2015 com 13 mil pessoas e mais de 200 mil na transmissão. Quando você mostra essa progressão para uma pessoa que tem preconceito, ela vê que não é só um jogo de computador. É muito mais que isso”, narrou Bruno, para orgulho de seu pai.

Paulo “PSK1” Arneiro é jogador de Rainbow Six e hoje integra a equipe Team Liquid (Foto: Leonardo Maia)

*Alunos da Faculdade Cásper Líbero