Denis reage com ajuda de coaching e quer espaço para cobrar faltas - Gazeta Esportiva
Tiago Salazar
São Paulo - SP
08/14/2016 08:00:59
 

Dia 11 de dezembro de 2015, Rogério Ceni, enfim, pendurou as chuteiras e as luvas. Mais do que a perda de um grande goleiro e homem de confiança nas bolas paradas, o São Paulo viu uma lacuna aberta na equipe que obviamente não teria um substituto a altura de prontidão. Sob muita pressão, Denis assumiu o posto e sofreu como esperava sofrer. “Eu teria de ter um tempo de adaptação, porque não é fácil você entrar em uma equipe grande como o São Paulo e substituir o maior ídolo da história do clube. Eu ia ter uma cobrança muito forte em cima disso, e foi o que aconteceu no início do ano”, diz o jogador logo no início de uma entrevista exclusiva franca à Gazeta Esportiva.

Neste domingo, contra o Botafogo, Denis fará seu 48º jogo na temporada. Goleiro do Tricolor no Morumbi desde 2009, a sequência é inédita. De 2013 a 2015, por exemplo, Denis atuou apenas 24 vezes. “O que mais atrapalhava era a ansiedade de querer fazer as coisas, querer fazer o certo o mais rápido possível, mas, depois eu vi que com o tempo, com o passar dos jogos, com muito trabalho, treino, as coisas iam se encaixar e melhorar”, explica.

E para superar essa ansiedade pessoal e trabalhar a parte psicológica para suportar a pressão que vinha das arquibancadas e da imprensa, ambos sempre muito imediatistas e impacientes, Denis procurou a ajuda de um coach profissional, que trabalha no desenvolvimento humano, pautado por ciências, como psicologia, sociologia, neurociências, e que usa de técnicas específicas para auxiliar as pessoas e empresas no alcance de metas. “Faz quatro meses que estou fazendo esse trabalho e me ajudou muito a melhorar a cada dia”, revela.

As comparações com Rogério Ceni ainda fazem parte da rotina de Denis (Foto: Gazeta Press)
As comparações com Rogério Ceni ainda fazem parte da rotina de Denis (Foto: Gazeta Press)

Denis ainda conta que soube perceber o momento de baixa, mas também enxergou seu crescimento jogo a jogo e, assim como boa parte da torcida são-paulina, entende que a atuação no clássico contra o Corinthians, em Itaquera, decisiva para o empate por 0 a 0, marcou uma nova fase. “Vindo de uma desclassificação na Copa Libertadores, a equipe ainda bem chateada com tudo o que aconteceu e eu consegui fazer boas defesas. Naquele jogo, sim, eu pude mostrar o verdadeiro Denis”.

Cheio de confiança, o jogador de 29 anos, natural de Jaú, interior de São Paulo, agora sonha com voos mais altos. Sem medo das comparações com seu antecessor que podem se intensificar, Denis espera ter uma nova oportunidade para cobrar uma falta em uma partida. Em 8 de novembro do ano passado, o camisa 1 acertou a barreira do Cruzeiro, no Mineirão, ao experimentar o desejo por marcar um gol.

“Eu venho já há três anos quase que diariamente treinando cobranças de faltas. Quando chegar o momento certo e eu tiver o apoio de toda a comissão e de toda a diretoria, sim, arriscar bater uma falta mais uma vez”, comenta.

No treinamento da última sexta-feira, por exemplo, Denis desafiou Gilberto, Buffarini, Andrés Chavez e Cueva após a atividade tática e saiu do gramado vencedor nas cobranças de falta. “Se eu estiver melhor e cobrando bem as faltas nos treinos, por que não bater no jogo? O Rogério ajudou tanto o São Paulo no jogo, fazendo gols, por que não continuar e ter essa sequência de ajudar também?”, questiona.

Denis ainda avalia os trabalhos de André Jardine, Ricardo Gomes e fala sobre a situação do São Paulo no Campeonato Brasileiro. Leia, na íntegra, a entrevista exclusiva da Gazeta Esportiva com o goleiro tricolor:

O São Paulo voltou a vencer no Brasileiro. Chegou a hora de acabar com o jejum em casa, já que o time não ganha no Morumbi desde 10 de julho?
Denis – Com a virada de turno, os jogos em casa são muito importantes. Nossa equipe já tinha frisado isso antes, mas nossa equipe não conseguiu conquistar os pontos necessários. Para recupera isso, tínhamos de vencer fora. E encerrar o primeiro turno ganhando foi muito importante. Era importante voltar a vencer no Brasileiro e agora sim, começando o returno, vai ser importante para o campeonato vencer em casa.

Na sua avaliação, qual era o motivo para os resultados ruins? Concorda com o Patón Bauza que as saídas dos atletas foi crucial para a sequência negativa?
Denis –Nossa equipe não vencia, mas jogava bem, marcava bem. Tivemos alguns empates em casa. É lógico que as saídas atrapalharam um pouco, porque eram jogadores titulares e de qualidade. Chegaram novos jogadores e acho até que essa adaptação foi muito rápida. O Chavez se adaptou muito rápido, o Buffarini também, até o Cueva se adaptou rápido. Ganhamos o último jogo porque esse entrosamento veio muito rápido.

Depois de muitas críticas, você tem sido decisivo para o São Paulo. Como você tem recebido essa reviravolta na sua carreira?
Denis –Eu teria de ter um tempo de adaptação, porque não é fácil você entrar em uma equipe grande como o São Paulo e substituir o maior ídolo da história do clube. Eu ia ter uma cobrança muito forte em cima disso, e foi o que aconteceu no início do ano. Um ano de uma sequência muito boa de jogos, como titular. No começo, com alguns altos e baixos, o que é normal. O que mais atrapalhava era a ansiedade de querer fazer as coisas, querer fazer o certo o mais rápido possível, mas, depois eu vi que com o tempo, com o passar dos jogos, com muito trabalho, treino, as coisas iam se encaixar e melhorar.

Eu tive um apoio muito grande, e gradeço, da diretoria, do Bauza. Eles têm uma grande parcela nessa minha melhora em campo. Fico feliz de poder trabalhar muito nos treinos, nos jogos, ajudando, fazendo excelentes trabalhos de corpo, físico e mental, que é muito importante. Depois que eu comecei a fazer um trabalho com um coach profissional, trabalhando a cabeça também.

Há quanto tempo você faz esse trabalho com o coach?
Denis –Faz quatro meses que estou fazendo esse trabalho e me ajudou muito a melhorar a cada dia. E é treinamento. Essa evolução se resume a muito trabalho.

Denis sabia que precisaria de um tempo para reencontrar a melhor forma após tanto tempo sem jogar (Gazeta Press)
Denis sabia que precisaria de um tempo para reencontrar a melhor forma após tanto tempo sem jogar (Gazeta Press)

Quando você se conscientizou de que estava mal e em que momento essa chave virou para uma boa fase?
Denis –O momento mais difícil acredito que foi a fase de grupos da Libertadores, o jogo na altitude (contra o The Strongest), com expulsão, tudo. Foi um momento muito delicado. E, depois das quartas-final, do Atlético-MG para frente, eu já me sentia muito melhor dentro de campo, já estava me sentindo bem, encaixando meu jogo, conseguindo fazer defesas. A partir das quartas eu acredito que meu jogo tenha melhorado bastante.

Muitos torcedores enxergam o clássico com o Corinthians como o jogo que marcou sua retomada. Concorda?
Denis –Também. Acho que foi o primeiro jogo que me destaquei ao máximo. Contra um rival, um clássico, fazendo boas defesas. A equipe não conseguiu uma vitória fora de casa, como a gente tanto queria, mas também não perdemos, o que era muito importante. Vindo de uma desclassificação na Copa Libertadores, equipe ainda bem chateada com tudo o que aconteceu e eu consegui fazer boas defesas. Naquele jogo, sim, eu pude mostrar o verdadeiro Denis.

Alguns jogadores defenderam a efetivação de André Jardine. O que você pode falar sobre o trabalho dele, e como avalia o Ricardo Gomes, com quem você já trabalhou?
Denis –O Jardine, sem dúvida nenhuma, tem uma capacidade muito grande, estava mostrando nas categorias de base e essa semana, com a semana cheia de treinos, ele mostrou que é muito promissor. Vai ser um grande técnico. Muito inteligente, estuda bastante, o que é muito importante para o técnico. Taticamente ele explica o que ele quer que a equipe faça. É um excelente técnico.
O Ricardo Gomes eu já tive o prazer de trabalhar com ele aqui no São Paulo mesmo e também é um excelente técnico. Teve uma passagem não muito boa. Por causa de resultados, não conseguimos ser campeões com ele. É uma pessoa sensacional, excelente profissional também. É uma pessoa que vai nos ajudar muito.

O goleiro teve seu nome gritado pela torcida nas últimas partidas do São Paulo (Foto: Gazeta Press)
O goleiro teve seu nome gritado pela torcida nas últimas partidas do São Paulo (Foto: Gazeta Press)

Você continua treinando muitas cobranças de faltas e até desafiado alguns jogadores, certo?
Denis –Eu venho já há três anos quase que diariamente treinando cobranças de faltas. Quando chegar o momento certo e eu tiver o apoio de toda a comissão e de toda a diretoria, sim, arriscar bater uma falta mais uma vez, o que também é muito importante.

Se precisar, você está pronto?
Denis –Se precisar, estou pronto, venho trabalhando para isso, não é novidade para ninguém que eu treino. Quem acompanha diariamente o São Paulo sabe que eu costumo ficar após os treinos cobrando faltas. Lógico que quem não sabe se assusta, faz comparações.

Muitos já fazem essas comparações e acreditam que você bate faltas só por causa do Rogério. Explica como que é isso.
Denis –Eu cresci vendo o Rogério jogar. Eu comecei a treinar faltas quando eu nem jogava no São Paulo ainda. Quando eu jogava na Ponte eu já treinava algumas cobranças de faltas. Lógico que não diariamente, com a mesma frequência que eu comecei a treinar aqui no São Paulo. E depois que eu comecei a trabalhar com o Rogério, eu fui pegando gosto, cada dia mais, não porque ele batia, mas, por que não? Eu venho trabalhando muito forte para isso, independente das comparações que podem existir. Se eu estiver melhor e cobrando bem as faltas nos treinos, por que não bater no jogo? O Rogério ajudou tanto o São Paulo no jogo, fazendo gols, por que não continuar e ter essa sequência de ajudar também?