C4RLOS 4LBERTO P4RREIR4 - Gazeta Esportiva
Bruno Ceccon e Alexandre Silvestre
São Paulo, SP
07/15/2019 09:00:47
 

A pressão sobre Carlos Alberto Parreira era tamanha há 25 anos que ele sentiu mais alívio do que alegria no momento em que viu o italiano Roberto Baggio perder o último pênalti da final da Copa do Mundo 1994. Responsável por conduzir o Brasil rumo ao tetra, o ex-técnico recebeu a Gazeta Esportiva em sua residência no Rio de Janeiro.

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Em uma longa entrevista, Parreira contou o que chamou de “história real” sobre a convocação do herói Romário, chamado apenas para o último jogo das Eliminatórias. Ele pontuou as diferenças entre um time organizado e um time defensivo para defender a filosofia empregada em 1994 e lembrou da emoção no retorno ao Brasil.

“No avião, antes de pousar em Recife, o comandante falou: ‘Vou descer o máximo que puder para vocês verem o que tem de gente lá embaixo’. Quando enxergamos aquela multidão, foi a primeira vez em que chorei”, recordou Parreira, de pernas cruzadas no salão de festas de seu prédio de frente para o mar.

Aos 76 anos de idade, o responsável por findar o jejum iniciado em 1970 desfruta do reconhecimento tardio pelo feito alcançado nos Estados Unidos. Com a carreira como treinador de futebol já encerrada, Parreira gosta quando é identificado como tetracampeão no trânsito ou no supermercado.

Gazeta Esportiva – Você sucedeu o Falcão no comando da Seleção Brasileira em 1991. Quando assumiu, qual era o contexto geral?
Parreira – Quando se muda técnico de Seleção, é sempre em períodos de crise. Ninguém troca se as coisas estão correndo bem. No momento em que assumimos, havia um plano de trabalho voltado ao Mundial de 1994. Então, tudo foi direcionado para a Copa e em cima de uma coisa muito importante no contexto. Não existe um título mais importante do que o outro, mas aquele tinha uma circunstância especial: há 24 anos o Brasil não era campeão do mundo e isso incomodava muito. Precisamos ter quase um mantra de erro zero e eficiência máxima. Então, a primeira mensagem foi: o objetivo é ser campeão do mundo. Aí, o Zagallo dizia: “A canarinho tem que voltar a brilhar!”. E não podia errar. Errou, volta para a casa!

Gazeta Esportiva – Contra a inexpressiva Bolívia, o Brasil sofreu sua primeira derrota na história das Eliminatórias, em 1993. Qual foi o impacto desse resultado no grupo da Seleção?
Parreira – Você vai ficar surpreso: para nós, zero. Perder na altitude de La Paz, aconteceu com todo mundo. Argentina, Paraguai, Uruguai… É a coisa mais normal. Aquilo não afetou a gente em nada. Agora, vocês fazem um escarcéu: “A primeira derrota nas Eliminatórias”. Sabíamos que o importante seria vencer os quatro jogos seguintes. Em casa, ganhamos todos com facilidade. Ficamos em primeiro lugar do grupo, tudo dentro do planejado. Decidimos no Maracanã contra o Uruguai em uma atuação histórica, talvez entre as 10 melhores da Seleção. Para nós, foi tranquilo, mas havia uma pressão enorme, muita porrada, um negócio terrível. Se não fossem jogadores e comissão técnica experientes, a coisa poderia não ter funcionado.

Gazeta Esportiva – Durante esse período de pressão, houve um momento em que jogadores e comissão técnica se fecharam.
Parreira – Exatamente. Pensamos: “Nada vai nos tocar, sabemos o que queremos”. Depois do empate no amistoso contra o México, havia aquele tumulto todo no aeroporto, parecia que a gente tinha perdido a Copa do Mundo. Os jogadores se reuniram e falaram: “Parreira, que história é essa! Temos que continuar juntos. Agora, que já passamos pela altitude, vamos ganhar todos os jogos aqui no Brasil e ser campeões do mundo!”. Até lembro de Dunga, Ricardo Rocha, Ricardo Gomes, Raí. Não houve um pacto, foi uma coisa de todo o mundo se unir e querer ganhar a Copa do Mundo.

Gazeta Esportiva – Você chegou a pensar em deixar a Seleção Brasileira em algum momento?
Parreira – Não, não. Em nenhum momento. Depois desse empate contra o México, havia um movimento grande de fotógrafos no aeroporto. Falavam que o Parreira iria sair, que o Parreira não sei o quê… Da onde surgiu isso, não sei. São essas coisas que acontecem, né? Nunca falei que o gol é um detalhe. Nesse amistoso, perdemos gol pra cacete. Perguntaram por que os atacantes brasileiros perdiam tantos gols. Eu respondi: “Um detalhe na hora de bater na bola”. Pronto, virou: “O gol é um detalhe”. Tudo bem, essas coisas acontecem.


Gazeta Esportiva – Você enfim chamou o Romário na última rodada das Eliminatórias e viu o Brasil se classificar com dois gols dele contra o Uruguai. Depois de tudo que aconteceu, como foi recebê-lo na Seleção?
Parreira – Foram vocês que fizeram tudo acontecer. Nunca briguei com o Romário. Vocês deram um volume muito grande para a coisa e em função disso é que ele nem veio (antes). Havia um clima tão pesado, que não dava para chamá-lo de imediato. Agora, sempre tive o bom senso de saber o valor do Romário, que ele vinha arrebentando no Barcelona. A gente estava levando a Eliminatória tranquilo. Sempre perguntavam: “O Romário está fora? Não, ele volta na hora certa”. E voltou na hora certa. Qual foi a hora certa? Contra o Uruguai.

Gazeta Esportiva – Então, como exatamente você decidiu convocá-lo para o jogo decisivo contra o Uruguai?
Parreira – Se te contaram outra história, não é verdade. Vou te contar a história real. Eu estava em Angra, na minha casa. Domingo à tarde, voltei para o Rio de Janeiro. No caminho, liguei o rádio e ouvi: “A Bolívia acaba de se classificar”. Então, a segunda vaga ficaria para Brasil ou Uruguai. O Bebeto sofreu alguns probleminhas, o Muller estava contundido, o Valdeir e o Evair tinham enfrentado a Venezuela, mas o desempenho não foi de falar “esses são os caras para o jogo”. No caminho de três horas, eu vim matutando: “Romário”. Pô, estava arrebentando no Barcelona. Cheguei em casa e falei para o Zagallo, que era o coordenador: “Estou trazendo o Romário”. Na hora, o Zagallo respondeu: “Pode trazer, é isso mesmo”. Pronto! Se contaram para você uma história diferente, é mentira. A história é essa. Não foi Ricardo Teixeira, não foi ninguém. Tá?

Gazeta Esportiva – Tá. E ainda bem que vocês chamaram o Romário!
Parreira – Graças a Deus! Foi o melhor jogador da Copa, importantíssimo. Foi ótimo, as coisas se encaixaram. Não foi por acaso.

Gazeta Esportiva – Então, nunca houve qualquer tipo de problema entre você e o Romário ou entre o Romário e algum integrante da comissão técnica?
Parreira – Não, não, não. Nunca. Por uma série de problemas de ordem médica no Barcelona, ele quase não atendeu nenhuma convocação. A primeira que atendeu foi em um jogo contra a Alemanha, em Porto Alegre (em 1992). Tínhamos cinco atacantes: Romário, Bebeto, Careca, Muller e Renato Gaúcho. Por uma questão de coerência e bom senso, comecei com os jogadores que vinham atuando nos últimos amistosos, Bebeto e Careca. Quando a imprensa viu pelo treino que o Romário não seria titular, foi uma confusão. Só vocês conseguem criar confusão porque um atleta não vai começar a partida.

Gazeta Esportiva – Aí, então, houve um desentendimento?
Parreira – Não, só que criaram um clima pesado em cima disso. O Romário é muito inteligente, tem personalidade. Quando perguntaram, ele respondeu: “Eu vim para jogar”. Aí, eu disse: “Está certíssimo. Todos que estão aqui vieram para jogar”. Esse foi o máximo de problema que houve. Ganhamos da Alemanha por 3 a 1 e não se falava de outra coisa: Romário, Romário, Romário… A gente foi deixando acalmar. Só isso. A toda hora vocês me questionavam: “Romário está fora? Não, ele volta na hora certa”. E voltou na hora certa. Ajudou a gente pra caramba. Foi o melhor jogador da Copa, fundamental. Papai do Céu sabe o que faz.

Gazeta Esportiva – Na época, você trabalhava com alguns jogadores remanescentes da Copa do Mundo de 1990, como Dunga, Jorginho, Mazinho e Muller. Qual foi a importância dos atletas com esse perfil nos momentos mais difíceis?
Parreira – A experiência sempre traz um saldo positivo. Eles sabiam exatamente o que deveria ser feito para não repetir os erros, algo que ajudou muito a comissão técnica. Tínhamos que permanecer unidos, juntos. Houve uma decisão que eles tomaram e nós endossamos. Ficamos um mês nos Estados Unidos antes da Copa e, no primeiro dia, falaram: “Parreira, resolvemos que não vai entrar veículo de imprensa, nada vai entrar aqui. Vamos ficar concentrados”. Não éramos contra a mídia, mas você pode acabar sendo influenciado por notícias que não são verdadeiras. Lembro que, durante a Copa, um veículo importante do Brasil publicou “Está tudo errado” e outro, “Está tudo certo”. Um orgulho da conquista de 1994 é que não mudamos nada, apenas com as alterações naturais de qualquer planejamento.

Gazeta Esportiva – Você montou um time muito disciplinado taticamente. Qual era a essência daquela equipe?
Parreira – Basicamente, a filosofia era ter uma equipe organizada. Até hoje, 25 anos depois, tem gente que não entendeu a diferença entre um time defensivo e um time organizado. Aquele time nunca foi defensivo, era muito bem organizado. Ocupava bem os espaços, se fechava bem sem a posse, tinha oito jogadores atrás da linha da bola quando perdia, fechava bem o campo defensivo. E, com a bola, saía para o jogo. Uma equipe que tem Leonardo, Branco, Jorginho, Cafu, Romário, Bebeto… Qual time no futebol mundial escala dois atacantes que, de cara, não têm responsabilidade defensiva alguma? A Seleção Brasileira de 1994. Ninguém ganha só atacando nem só defendendo. A equipe que consegue esse equilíbrio fica próxima de um sucesso muito grande. Então, o time de 1994 era equilibrado, impunha sua maneira de atuar. E jogava com a bola no chão, tecnicamente e sem chutão. Sabia se defender e atacar.

Gazeta Esportiva – Você acha que, até hoje, o mérito daquela equipe ainda não foi devidamente reconhecido?
Parreira – Não sei. Eu nunca me preocupei com isso. O importante é que tínhamos um time equilibrado, bem montado e os jogadores se sentiam à vontade. Mudamos zagueiro, mudamos aqui e ali e o rendimento nunca caiu, porque havia uma maneira definida de jogar.

Gazeta Esportiva – Uma das mudanças foi a troca do Raí pelo Mazinho a partir das oitavas de final. Como essa alteração se concretizou?
Parreira – O Raí foi muito importante nas Eliminatórias. Ele se transferiu do São Paulo para o PSG e, no primeiro ano, não foi titular, o que coincidiu com a Copa do Mundo. Quando voltou à Seleção, não estava no melhor da forma física e técnica. Mesmo assim, por uma questão de bom senso e respeito ao jogador, comecei  com ele. Só troquei a partir das oitavas de final. Depois, o Raí foi maravilhoso. Ficou no grupo, ajudou, entrou contra a Holanda. Importantíssimo.

Gazeta Esportiva – Outro jogador que contribuiu sem ser titular foi o Ricardo Rocha…
Parreira – O Ricardo Rocha machucou no primeiro jogo, ficou se recuperando e estava apto a participar da última partida, se precisasse. Foi importantíssimo fora do campo. Que atleta maravilhoso! Que homem maravilhoso! Que agregador, que líder! Sempre pra cima, o tempo todo. Então, não foi campeão do mundo por acaso. Ninguém é campeão do mundo por acaso. Precisa ter um bom time e estar comprometido. As pessoas meteram tanto o pau, que depois foi duro reconhecer. Se você olhar: Taffarel, Jorginho, Cafu… Não quero nem citar nomes para não esquecer. Aldair, Dunga, Mauro Silva, Romário, Bebeto, Muller. A equipe era muito boa! Não foi campeã do mundo por acaso.

Gazeta Esportiva – Com a saída do Raí, o Dunga passou a jogar como capitão. Como foi o processo de passar a tarja para ele?
Parreira – Conhecemos o Dunga desde a época da Seleção de base e gostávamos dele. Foi um jogador importantíssimo, porque é um líder. Tem uma noção de futebol muito grande. Gosta e entende de futebol, sabe comandar dentro do campo. Tinha a liderança técnica e a liderança de estar presente, cumprindo o dever. De chamar a atenção, exigir e dar o exemplo.

Gazeta Esportiva – O Ronaldo, então com 17 anos, integrou a lista de convocados. Você convocou pensando no futuro ou mais pelo presente mesmo?
Parreira – O Ronaldo vinha se destacando de uma maneira impressionante. Com 17 anos, já fazia o que fazia. Quando foi convocado, estava no Cruzeiro. Colocamos em alguns jogos para testar e ele correspondeu. Então, não foi convocado porque era uma promessa, mas sim porque era realmente um jogador fora de série. Foi ótimo tê-lo levado, porque nunca vão poder falar: “O Parreira não chamou o Ronaldo para a Copa!”.


Gazeta Esportiva – Acho que o jogo mais emocionante da campanha foi a vitória por 3 a 2 sobre a Holanda, pelas quartas de final. Você chegou a temer pela eliminação?
Parreira – Estava uma partida fácil, com domínio total e tomamos dois gols que não poderíamos ter tomado: um escanteio e uma jogada de lateral. Mudou o jogo todo. Estavam perdendo por 2 a 0, mas tinham um bom time e se animaram. Só que nossa equipe não se entregou. O Raí entrou e lembro que, em um lance em frente ao banco, desarmou de carrinho. O banco aplaudia como se fosse um gol, até hoje isso não sai da minha cabeça. Aquilo inflamou todo mundo. O Branco, na estreia como titular, jogou muito. Acabou com o Overmars, criou a falta e fez aquele golaço. Foi uma partida que mudou, mas a Seleção teve a consciência de não se entregar e continuou brigando pelo resultado. Talvez tenha sido o duelo mais bonito da Copa. Cinco gols e duas equipes jogando um futebol maravilhoso.

Gazeta Esportiva – O Branco foi uma das apostas que você fez para a Copa do Mundo.
Parreira – Tomei muita porrada por ter levado o Branco. Estava há três meses no Corinthians sem jogar. Muita porrada, não foi pouca, não. Agora, eu conhecia o jogador desde 1984, quando fomos campeões brasileiros pelo Fluminense. Depois, ele disputou as Copas de 1986 e 1990. E a gente sabia que o Branco era um atleta que, na Seleção, crescia. Então, falei: “Vou precisar desse jogador”. Trouxe e foi útil. Havia outro atleta no banco que não precisou entrar, mas, se precisasse, teria correspondido: o Ronaldão. A imprensa não gostava, metia o pau. Conosco, jogou sempre muito bem. Se tivesse que entrar, seria tranquilo.

Gazeta Esportiva – A Itália não fez uma boa primeira fase e terminou no terceiro lugar. Houve um momento em que você passou a observar o time com mais cuidado?
Parreira – O futebol italiano deve ser respeitado sempre. Baggio, Baresi, Donadoni, com quem cheguei a trabalhar nos Estados Unidos. Que atleta maravilhoso! Albertini, Maldini. Era um timaço! Havia duas camisas de muito peso na final. Então, foi uma partida difícil? Foi. Porque, se você errar, não está perdendo um jogo. Está perdendo a Copa! E nós vínhamos há 24 anos sem ganhar. Não podíamos errar. Fizemos uma final muito estudada e pensada. Sabíamos que, se bobeássemos, o Baggio podia resolver a questão. Eles também jogaram respeitando o Brasil. Tem umas fotos que usamos nos estudos táticos que mostram sempre 10 jogadores atrás da linha da bola. É complicado ir para o suicídio. Pela qualidade das equipes, de se defender e tal, não foi um confronto de muitas chances.

Gazeta Esportiva – Os cobradores de pênalti já estavam definidos?
Parreira – Estavam pré-definidos. A partir das oitavas, você tem que se preocupar com isso, porque são quatro jogos que podem ser definidos assim e quantos na história das Copas foram para os pênaltis? Então, a gente sempre treinava e tínhamos uma ideia de quais seriam os cobradores. Definimos um grupo, mas, com prorrogação e substituições, aquele grupo foi desfeito. Dos cinco iniciais, acho que só Dunga e Márcio permaneceram. O Romário não era um dos indicados, por exemplo. Na hora, precisou refazer tudo. Aqueles 10 minutos antes das cobranças foi para ver com médico e preparador físico quem estava em condições físicas e até emocionais. O Bebeto seria o último a cobrar, mas não precisou.


Gazeta Esportiva – O Taffarel, herói dos pênaltis, foi um dos jogadores questionados nas Eliminatórias e bancados por você. Mesmo sem jogar no Parma, seguiu na Seleção.
Parreira – Não foi convocado no início, mas vimos a história dele e já tinha muitos jogos pela Seleção. Pensei: “Esse cara tem que estar aqui com a gente”. Não vinha jogando pelo Parma, estava um pouco esquecido, mas apenas em função do limite de estrangeiros vigente no futebol italiano. Veio nas Eliminatórias e, aos poucos, conquistou seu espaço. Houve um rodízio com Gilmar e Zetti e definimos pelo Taffarel, um dos maiores goleiros da história do futebol brasileiro.

Gazeta Esportiva – Você sempre foi um homem comedido, não era de demonstrar emoção. Como viveu todo aquele desgaste dos pênaltis?
Parreira – Não dormi na noite anterior nem na seguinte. Eu só fui chorar quando chegamos aqui no Brasil, no avião. Em Recife, o comandante falou: “Vou descer o máximo que puder para vocês verem o que tem de gente lá embaixo”. Quando enxergamos aquela multidão, foi a primeira vez em que chorei. Porque você fica tensionado até depois da Copa. O cara que está jogando, extravasa. Agora, para quem está de fora, é um outro tipo de comprometimento. A responsabilidade que é uma final de Copa do Mundo para uma seleção que não ganhava há 24 anos… Os jogadores foram maravilhosos, dedicados e comprometidos. Não tinha o negócio de família do lado. Da comissão técnica, ninguém levou família: mulher, irmão, nada. Não é que a família atrapalha, é a maneira de pensar. Os tempos são diferentes e, hoje, até entendo, mas, naquele momento, era importante a concentração total. Querendo ou não, com cachorrinho, mulher ou filho, você acaba se distraindo um pouco.

Gazeta Esportiva – Mas o que exatamente você sentiu no momento em que o Baggio chutou o pênalti para fora?
Parreira – É emoção pura, alegria pura. A gente estava em uma tensão tão grande… Não é pelo jogo em si ou pelos pênaltis, mas por tudo que passamos desde as Eliminatórias. Logo depois, na entrevista, perguntaram: Qual é a sensação? De alívio. Acabou, é isso aí. Tira um peso das costas, porque, quando você é indicado técnico da Seleção, acende aquela luzinha vermelha e ela só apaga depois que termina tudo. Só apagou depois dos pênaltis. Qual é a sensação? Mais do que alegria, alívio. A recompensa vem agora. Outro dia, quando estava de carro, abaixei o vidro e um cara no táxi ao lado falou: “Melhor técnico da Seleção Brasileira”. Fui fazer uma compra no supermercado e um rapaz disse: “Meu filho, esse é o técnico da Seleção Brasileira”. A recompensa vem agora, depois de 25 anos, com as pessoas reconhecendo um título da importância de ser campeão do mundo. Eu fui apenas uma pecinha na engrenagem.