Ananias Parque - Gazeta Esportiva
Bruno Ceccon
São Paulo, SP
11/19/2019 08:59:10
 

Ananias defendeu o Palmeiras por uma temporada, mas entrou para a história do Allianz Parque como adversário. No dia 19 de novembro de 2014, em uma jornada frustrante para mais de 35 mil torcedores, o atacante marcou o primeiro gol da arena no triunfo por 2 a 0 do Sport. Cinco anos depois, a viúva Barbara Calazans se orgulha do feito e procura manter viva com seu filho a memória do pai, falecido no acidente aéreo da Chapecoense.

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Ganhador da Série B do Campeonato Brasileiro pelo Palmeiras em 2013, Ananias defendeu o Sport no ano seguinte. Sem o atacante, ainda em recuperação de lesão, o time pernambucano viajou para enfrentar o Atlético-PR e, em seguida, participaria da inauguração do Allianz Parque, fechado para reformas por quatro anos. Curiosamente, o autor do primeiro gol da arena chegou na última hora.

“De um jogo para o outro, o Ananias recebeu a liberação do departamento médico. Lembro que me avisou: ‘Vou viajar e fazer um gol contra o Palmeiras’. Saiu de casa falando isso, porque já tinha uma história de marcar contra ex-times. Então, encontrou a delegação em São Paulo, concentrou e jogou. Na hora em que fez o gol, lembrei da promessa e pensei: ‘Meu Deus do céu! E não é que ele cumpriu mesmo?’”, lembrou Barbara.

De volta à elite após disputar a Série B pela segunda vez em sua história, o Palmeiras vivia situação preocupante à época. Com o time alviverde seriamente ameaçado por uma nova queda, a esperada inauguração da arena pintava como alento para a torcida, mas a equipe então defendida por Fernando Prass, Victor Luis e Henrique Dourado acabou derrotada com gols de Ananias e Patric, o que rendeu uma série de memes.

“Ele mantinha um grande respeito pelo Palmeiras, mas ficou bem feliz por ter feito o primeiro gol da arena e entrado para a história. Depois, torcedores falavam que o nome do estádio era ‘Ananias Parque’. Até em uma viagem que fizemos aos Estados Unidos encontramos alguém que brincou com isso. Marcou muito e foi um dos gols mais importantes da carreira”, contou a viúva.

Moradora de Salvador, a enfermeira Barbara Calazans Monteiro mantém um acervo sobre a carreira de Ananias, uma das vítimas do acidente fatal sofrido pela delegação da Chapecoense em 2016. Cuidadosamente, ela guarda a medalha de campeão da Série B 2013, a camisa número 27 vestida pelo marido no Palmeiras e fotos do filho Enzo com o uniforme do clube, além do orgulho pelo primeiro gol da história do Allianz Parque.

“O Ananias foi um ser humano exemplar e um atleta bem-sucedido. Onde passou, teve conquistas, brilhou e deixou marcas. Saber que, hoje, ele é lembrado de forma positiva me traz muita honra. Fico bastante feliz e grata, porque, como esposa, eu compartilhei os momentos felizes da carreira. Sinto emoção e guardo boas lembranças”, afirmou.

Em 2011, dois anos após o casamento, Ananias e Barbara ganharam a companhia do pequeno Enzo. Atualmente, mãe e filho têm acompanhamento psicológico e procuram manter viva a memória do jogador. Meticulosa, ela escolheu o que chama de “fotos de vida” para montar um álbum com 500 imagens do pai ao lado do garoto. “Toda história de amor é maravilhosa, mas a nossa é minha favorita”, diz a capa do material.

“Todos os dias, trato com o Enzo sobre a memória do pai. Na época, como era pequeno, ele não compreendeu bem o processo, mas, agora, já entende a partida do Ananias. Comenta sobre o pai, vê os vídeos e fotos, ouve os áudios. Em uma das camisas que guardamos, que o Ananias usou por baixo do uniforme, está escrito ‘Enzo, papai te ama’. São diversas lembranças e mantemos isso vivo com muito orgulho, amor e gratidão”, contou Barbara.

Aos oito anos de idade, Enzo gosta de jogar futebol e treina em uma escolinha. Para seguir próximo do ambiente que vivia com pai, costuma pedir para frequentar treinos e entrar em campo com os jogadores do Bahia, time defendido por Ananias em início de carreira. Juntos, mãe e filho se esforçam para superar a perda do atacante de apenas 1,69m que deixou uma saudade enorme.

“O Enzo gosta de conviver com os jogadores, brincar. Ele tem boas lembranças e se sente bem nesse ambiente, que remete muito ao pai”, contou Barbara. “Foi uma perda bastante brusca, profunda e dolorosa. Sentimos muita falta e ficou um vazio imenso. A gente tenta enfrentar essa dor dia após dia, mas existem altos e baixos. Vamos superando da forma que dá, porque é uma dor que não tem remédio”, descreveu.

Erik vestiu camisa com nome de Ananias e presenteou viúva Barbara Calazans (Foto: Cesar Greco/Divulgação)

ERIK USOU CAMISA COM NOME DE ANANIAS EM 2016

Último time a enfrentar a Chapecoense antes do acidente aéreo, o Palmeiras homenageou as vítimas na rodada final do Campeonato Brasileiro 2016. No triunfo sobre o Vitória, alcançado no Barradão, os jogadores usaram camisas com os nomes dos atletas do time catarinense e Erik vestiu a peça dedicada a Ananias.

“O Erik teve o gesto de me presentear com a camisa utilizada naquele dia e tenho muito carinho por ele”, contou Barbara. “O Palmeiras foi um dos clubes que mais nos apoiaram após a tragédia. Fica meu agradecimento pela solidariedade”, acrescentou a viúva de Ananias.

Em janeiro de 2017, no primeiro jogo após o acidente aéreo, a Chapecoense enfrentou o Palmeiras com uma série de homenagens e renda revertida integralmente ao time da casa na Arena Condá. A equipe paulista também emprestou atletas como o lateral direito João Pedro, o zagueiro Nathan e o volante Amaral.