“Abriu mais portas do que fechou” - Gazeta Esportiva
Isabela Florêncio, João Favalli e Marina Begnini*
São Paulo, SP
11/12/2019 18:48:10
 

Então com apenas 11 anos de idade, Vrajamany Rocha foi atacado por um tigre durante visita a um zoológico da cidade paranaense de Cascavel e teve seu braço dilacerado, em 2014. O episódio trágico, com repercussão nacional, mudou os rumos da vida do garoto e, de maneira inesperada, criou a possibilidade de uma carreira promissora como nadador paralímpico.

“Abriu mais portas do que fechou, porque nunca tive dificuldade para nada e deu a chance de participar do esporte”, resumiu o atleta de 17 anos, que começou como parte da reabilitação. “Minha mãe queria que eu fizesse algum esporte que não machucasse e colocou na natação. Fui chamado para a Seleção de base e descobri que a carreira de nadador pode ser legal”, explicou.

Vrajamany faz parte da equipe de base do moderno Centro Paralímpico e está na classe s8 da natação – ‘’S’’ de swimming e 8 em alusão ao grau de deficiência. O atleta conquistou quatro medalhas de prata no Campeonato Brasileiro de Natação Paralímpica 2019 e foi vice do Open Internacional 2019, torneio classificatório ao Mundial.

“Desde o dia do acidente, as pessoas queriam me ajudar a colocar e tirar a camisa, a fazer coisas simples. E eu ficava bravo, não gostava, queria fazer tudo sozinho’’, contou o jovem, que costumava usar uma prótese com o desenho de um tigre e pediu para que o animal responsável pelo ataque não fosse sacrificado.

Bem resolvido com seu acidente, Vraja traça como meta até o final do ano completar os 50m livre em um tempo inferior a 30 segundos. Para ter chance de participar das Paralimpíadas de Tóquio 2020, ele precisaria diminuir sua marca em cerca de 4 segundos. “Nossa! Se eu conseguisse a classificação, me sentiria o melhor nadador do mundo!”, sorriu o pupilo da técnica Soraia Cabral.

Ainda no início de sua trajetória esportiva, Vrajamany tenta seguir os passos de Daniel Dias, ganhador de 24 medalhas em Paralimpíadas e 40 em Mundiais, um recorde. Para o ícone, a natação paraolímpica ainda não tem a visibilidade que merece, embora seja um dos carros chefes do Brasil em grandes competições.

Jovem sonha com Jogos Olímpicos (Foto: Arquivo pessoal)

‘’Melhorou após os Jogos de 2016. Ainda estamos longe do ideal, mas já noto diferença. Gostaria que o esporte paralímpico fosse visto como alta performance, o que de fato é. Que o drama de ser ‘coitado’ fosse definitivamente excluído e que a ‘superação’ fosse interpretada de outra maneira, com o mérito do esforço do alto rendimento. Somos atletas’’, afirmou Dias.

Em 2014, ao ser atacado pelo tigre em Cascavel, Vrajamany Rocha teve sua trágica história publicada nacionalmente pela imprensa. Ciente das dificuldades de ser paratleta no Brasil, ele espera dentro de alguns anos ganhar as manchetes de outra forma. “Gostaria que o esporte paralímpico em si fosse mais divulgado e passasse na TV aberta’’, sonhou o nadador.

*Alunos da Faculdade Cásper Líbero