A criança que atrai holofotes - Gazeta Esportiva
Pedro Nascimento
São Paulo, SP
02/23/2022 07:00:08
 

Uma das grandes promessas do futebol brasileiro, Endrick ainda busca se acostumar com a fama e a responsabilidade que o cercaram a partir do momento em que despontou de forma brilhante na base do Palmeiras. Aos 15 anos, tem ciência das privações que envolvem a carreira de um jogador de alto rendimento.

Em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva, Endrick reconheceu que seu status o obriga a abrir mão de diversões que fariam parte da rotina de um garoto da sua idade, mas deixou claro que entende a importância do foco na prática esportiva.

“Eu sou criança ainda, tenho 15 anos. Uma coisa que queria fazer era ir no shopping e comer uma coisinha boa aqui e ali, ir e brincar em um parque de diversões. Quando fui para a Disney, pessoas me reconheceram lá. Claro que sinto falta, mas essas coisas são ossos do ofício, fico tranquilo. Vou seguir com os pés no chão”, disse o jogador.

Mágoa do rival?

A trajetória no Verdão teve início em 2017, logo após o clube palestrino levar a melhor em uma disputa com o São Paulo pela joia, que desde sempre mostrou grande potencial. O Tricolor tinha uma parceria com o Brasília Fut Academy, clube em que Endrick atuava, e monitorava constantemente o jogador. Quando completou 10 anos, o atleta já poderia ser registrado no São Paulo, que fez uma proposta para ficar em definitivo com a revelação. No entanto, não topou bancar uma moradia para a sua família ou proporcionar um emprego para seu pai, Douglas.

Então, o Palmeiras surgiu. Convidou Endrick para testes e, após aprová-lo, ofereceu uma vaga ao seu pai no próprio clube alviverde. O jogador garante que não guarda mágoa do São Paulo, mas revelou que se sente bem quando balança as redes contra o time do Morumbi.

“Quando eu estava no São Paulo, chegou no ano de jogar como federado, no sub-11. Foi quando o Palmeiras chegou, arrecadou tudo, abriu as mãos e me pegou. Então, tenho uma gratidão imensa pelo Palmeiras. Quando jogo pelo São Paulo, não tento pensar, não sinto mágoa. Se eles não fizessem isso, eu poderia nem estar aqui falando. A mágoa não te leva a lugar nenhum. Claro que, quando faço gol no São Paulo, fico muito feliz, porque faz eles pensarem que me perderam”, afirmou.

Endrick em ação pelo Palmeiras no Allianz, em 2017 (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)
Profissional à vista

Endrick poderá assinar o seu primeiro contrato profissional com o Palmeiras em julho, quando completa 16 anos. A partir de então, estará liberado pelo clube para ser utilizado pela equipe principal, caso esse seja o desejo de Abel Ferreira. Em tese, o jogador já poderia atuar pelos profissionais, porém o Verdão prega pés no chão e não queimará etapas.

Até lá, o atacante vive a expectativa de poder entrar em campo pelo time principal do Verdão. No começo deste ano, Endrick teve a oportunidade de conversar com Leila Pereira, presidente do clube alviverde, que trouxe tranquilidade ao jogador.

“Quando nós estávamos indo para a semifinal (da Copinha), fomos para o CT, e a Leila estava lá. Então, ela me chamou e chamou todos os auxiliares do treinador. Me parabenizou pelo gol, falou para eu seguir do jeito que estou. Talvez, e se Deus quiser, posso estar lá depois. Eu falei que o título era nosso, ela ficou bastante feliz, disse que um dia eu posso estar com eles conquistando títulos importantes”, contou o atleta.

Endrick disputa jogo-treino com os profissionais na Academia de Futebol (Foto: Cesar Greco/Palmeiras)

Em meio à disputa da Copa São Paulo de Futebol Júnior, Endrick pôde treinar com o time profissional na Academia de Futebol. Inclusive, disputou um jogo-treino com a equipe principal do Palmeiras. No entanto, um obstáculo surgiu e interrompeu o momento mágico: o atacante testou positivo para covid-19.

“O dia em que joguei no profissional foi muito bom. Infelizmente, fiquei só um dia, porque depois peguei covid. No segundo dia, fiquei muito abalado. Essa experiência lá foi muito importante para mim, os jogadores me acolheram muito bem. Pude jogar o jogo-treino, consegui fazer tabelas, jogar com eles, me adaptando um pouco. Deixo tudo na mão de Deus. Se o Palmeiras me der uma chance, se o Palmeiras não me der… Que eu possa colher lá na frente”, pontuou.

Dentre os jogadores que estavam presentes no dia em que Endrick treinou na Academia, um se destacou de forma especial no tratamento com o garoto.

“Quando cheguei, o Dudu foi um cara que me acolheu super bem. Conversou comigo e me falou algumas coisas. Quando me mostraram que ele tinha falado de mim, fiquei mais feliz ainda. Agradecer muito ao Dudu por ter me acolhido assim, é um cara espetacular. É um gigante, apesar da estatura”, elogiou o jogador.

Endrick foi um dos grandes destaques do Palmeiras na Copinha (Foto: Fabio Menotti/Palmeiras)
Inspiração em revelação palestrina

Na história recente do Palmeiras, Gabriel Jesus é considerado a grande revelação do clube. Vendido por pouco mais de 32 milhões de euros ao Manchester City em 2016, o centroavante é uma inspiração para Endrick, que já teve a oportunidade de conhecer o atacante da equipe de Pep Guardiola. O atleta de 15 anos, no entanto, quer trilhar seu próprio no caminho, longe da sombra de outros jogadores.

“É um jogador importante demais, top. É um jogador de ponta. Ele já falou comigo, eu já falei com ele e com o Zé Roberto. São dois jogadores tops, me deram muitos conselhos e falaram da minha humildade, do meu estilo de jogo. Tento seguir os passos do Gabriel Jesus no Palmeiras, mas quero fazer os torcedores conhecerem o Endrick. Quero virar ídolo daqui, quero ficar no Palmeiras anos e anos”, garantiu a joia.

Assim como Gabriel Jesus, Endrick é um jogador versátil. Apesar de ser visto unicamente como centroavante, o jogador já foi testado em diversas funções do sistema ofensivo desde que chegou ao Palestra.

“No ataque, já joguei em todas as posições. Ponta esquerda, no sub-11. No sub-13, centroavante. No sub-20, no começo, joguei de ponta direita e, logo na minha estreia, consegui fazer um gol. Foi muito bom para mim essa adaptação a todas as funções no ataque, consegui jogar bem. Eu quero estar jogando. As pessoas me veem como um centroavante, creio que posso melhorar bastante ainda”, pontuou.

Endrick completa 16 anos no próximo dia 21 de julho (Foto: Cesar Greco/Palmeiras)
Cuidado fora do campo e Seleção

Até o momento, Endrick soma 171 partidas e 167 gols pelo Palmeiras. Um dos pontos mais importantes para o seu sucesso estrondoso na base é o cuidado com o corpo e a performance física. Para isso, está sempre atento a sugestões de competentes profissionais fora das quatro linhas.

“As pessoas que estão ao meu lado são espetaculares. Então, fora de campo, não busco nada, só sigo conselhos deles, porque são pessoas que querem o meu bem. Eu não sei de nada. Se alguém me mostra algo para fazer, dizendo que é bom, eu vou lá e faço. Eles falaram de nutricionista, soube que era bom e fui lá. A única coisa que eu quis mesmo foram os treinos fora do campo. Minha prevenção de lesão, minha força, estabilidade e mobilidade. Estou trabalhando, volto hoje a trabalhar isso, para estar bem. Tenho que melhorar bastante. Se Deus quiser, com os pés no chão, estarei muito bem”, disse o atacante.

Endrick não esconde que chegar à Seleção Brasileira é um grande objetivo de sua carreira. Inclusive, o jogador desponta como uma das possíveis estrelas da equipe que disputará os Jogos Olímpicos de Paris, em 2024. No entanto, a revelação do Alviverde evita pensar a longo prazo, focando em metas próximas ao seu atual momento.

“Claro que eu penso na Seleção Brasileira. Na Seleção Olímpica, nem tanto, porque ainda falta bastante tempo. Aqui na base, tento jogar bem para ser convocado para a Seleção sub-17. Vai ter Sul-Americano, Mundial sub-20. Tem tantas coisas que nem imagino… Tento pensar no presente, no agora. Infelizmente, não fui convocado para a Seleção sub-17 agora, creio que tenho que trabalhar cada vez mais para estar lá na próxima”, finalizou.

Endrick em evento de sua patrocinadora (Foto: Pedro Nascimento/Gazeta Esportiva)

Endrick bateu um recorde fora dos gramados nesta semana. O atacante firmou uma parceria com a OdontoCompany, maior rede de clínicas odontológicas do mundo, e passou a ser o jogador mais jovem do futebol brasileiro a fechar um contrato de patrocínio com uma empresa que não seja de fornecimento de material esportivo.