Gazeta Esportiva

Depois de receber a Argélia na Copa, Atlético Sorocaba se prepara para A2

Fundado em 1991, o Atlético Sorocaba é um clube relativamente novo. Nos primeiros anos após sua fundação, o Galo se manteve na A3 por várias temporadas, mas a situação começou a mudar em 2000, quando a equipe foi adquirida pela Igreja da Unificação, instituição sul-coreana liderada pelo Reverendo Moon. O próprio Reverendo auxiliou na implantação de uma nova diretoria com objetivo de reestruturar o time e deixa-lo mais competitivo. Além disso, com recursos da Unificação, o Atlético não dependeria de patrocinadores.

Os efeitos da nova administração foram praticamente imediatos. No ano seguinte, Atlético já conquistava o esperado acesso à A2, além de ter uma boa participação na Copa São Paulo de Juniores, quando goleou o Internacional por 4 a 1. Em 2002, o Galo foi bem na Série C do Campeonato Brasileiro e se classificou para a terceira fase, mas foi eliminado pelo Marília. Com a base da terceira divisão nacional, o clube finalmente conquistou o acesso inédito à elite estadual em 2003.

Depois de passar uma temporada na A1, o time do interior paulista voltou a cair e só conseguiu repetir o feito em 2012, após uma vitória polêmica contra a União Barbarense, envolvendo gol de pênalti dos sorocabanos aos 54 minutos do segundo tempo e quatro expulsões. No entanto, com a morte do Reverendo Moon em setembro de 2012, houve uma mudança na relação da Igreja com o clube e a Unificação anunciou corte de recursos.

Vendo que o clube teria que se virar sozinho, a diretoria optou por investir na infraestrutura para tornar viável a autossuficiência do Galo. O Atlético Sorocaba reformou todo o seu Centro de Treinamento em Sorocaba, onde construiu um hotel em seus domínios para receber a seleção da Argélia na Copa do Mundo. A equipe ainda disputou a primeira divisão do Paulista em 2014, mas a preocupação em fortalecer a estrutura física do time tirou temporariamente o foco do futebol e o Galo acabou rebaixado novamente após uma derrota para o Corinthians no Pacaembu.

É válido notar que a Argélia foi uma das seleções que mais deu trabalho para a tetracampeã Alemanha no Mundial: nas oitavas de final no Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, os africanos pressionaram durante toda a partida, e após empate sem gols no tempo regular, os alemães conseguiram o triunfo por 2 a 1 na prorrogação para dar continuidade à campanha que levou ao título. Terminado o Mundial, acabou também a preocupação em deixar tudo pronto no padrão exigido pela FIFA, e agora o Atlético volta a focar em mais uma temporada na A2 e na busca pelo quarto acesso. A estreia será diante do São Caetano, neste sábado, às 16h (de Brasília), no Estádio Anacleto Campanella. 

Gazeta Esportiva.Net conversou com Waldir Cipriani, que esteve no cargo de vice-presidente de futebol do Atlético de 2000 até o ano passado e presenciou as etapas da evolução do clube. Cipriani falou sobre a preparação para a disputa da A2, das expectativas para a temporada, do trabalho realizado para receber a Argélia e do corte de recursos da Unificação. 

O Atlético disputou as duas últimas edições da primeira divisão do Campeonato Paulista, mas foi rebaixado. A diretoria e a comissão técnica fizeram algo de especial na preparação pra buscar o retorno à elite? Como foi a pré-temporada?

Durante a Copa Paulista de 2014, procuramos estabelecer uma base, ou seja, criamos uma “espinha dorsal” para a Série A2 deste ano. Nossa pré-temporada começou em dezembro do ano passado, quando buscamos os atletas em posições carentes e a comissão técnica fez toda a preparação física antes do Natal e na primeira semana deste ano para deixar os atletas em condições de iniciar os trabalhos técnicos e táticos. Foram realizados vários amistosos com times das Séries A1, como o Ituano e Capivariano, e A3, como a Juventus da capital e o Primavera de Indaiatuba.

Buscando voltar à elite do Campeonato Paulista, elenco do Galo se prepara para disputa da A2 – Credito: Divulgação

Quais as expectativas para a disputa da A2?

Não somos favoritos, mas acreditamos na realização de um bom campeonato. Vamos brigar jogo a jogo pelas vitórias, buscando sempre o acesso.

O formato da competição foi mantido pela Federação Paulista de Futebol (FPF). Serão apenas 19 partidas para que a equipe consiga o retorno à elite do Paulista. Já que o Atlético irá fazer apenas dez jogos em casa, há alguma campanha de marketing para que o torcedor possa apoiar o time durante o torneio?

Pelo ranking da A2, somos o terceiro clube, e os dez primeiros realizarão dez partidas em casa e nove fora, como visitante. Infelizmente o Clube Atlético Sorocaba (CAS), por ser jovem, ainda não tem uma grande torcida. Mas há várias torcidas uniformizadas, assíduas, que apoiam o time. Procuramos colocar nossos jogos em horários que não conflitam com os jogos de TV aberta dos quatro grandes times de São Paulo.

Quais foram os principais reforços para esta temporada? E as principais baixas?

Como já tínhamos uma base, procuramos buscar montar um segundo time à altura do primeiro. Os principais reforços vieram nas laterais esquerda e direita e o Elielton que se encaixou bem no setor defensivo. Perdemos o atleta Bismark, um excelente articulador de meio de campo, que saiu por ter recebido uma proposta financeira melhor. Apenas três atletas que compõem o elenco vieram de nossas categorias de base.

Ônibus da Argélia em frente ao hotel construído pelo Atlético para receber a seleção durante a Copa do Mundo – Credito: Divulgação

O Atlético se dedicou às reformas no Centro de Treinamento e à construção de mais um hotel para receber a seleção da Argélia na Copa do Mundo, bem no ano em que acabou sendo rebaixado. O clube deu preferência aos investimentos na infraestrutura, colocando o futebol em segundo plano? Foi proposital? O que o clube tem a ganhar com isso a longo prazo?

A pergunta é bem complexa. Ninguém que é profissional deseja perder um jogo e muito menos ser rebaixado em um campeonato. Contudo, o fato de estar bem no momento da preparação de um segundo hotel, que seria o hotel que a seleção da Argélia utilizaria durante a Copa do Mundo da FIFA, e considerando que o primeiro hotel, que hospedava o nosso time da Série A1, estava localizado próximo ao novo hotel em fase de acabamento, isso acabou, sim, influenciando na concentração e no rendimento do time na competição. O rebaixamento nos trouxe um grande prejuízo, mas por outro lado possuímos uma estrutura, e com boa organização e união podemos retornar à Serie A1 outra vez.

Como foi receber uma seleção na Copa do Mundo? O que isso agrega ao Atlético?

Nós fazíamos parte das brochuras da FIFA desde 2012, mas é a própria seleção que decide aonde vai. Recebemos um total de dez representantes de seleções e a Argélia, que foi a última, acabou escolhendo Sorocaba, tendo como base nosso CT. Em um megaevento como a Copa do Mundo, não se joga somente futebol. O Embaixador da Argélia visitou Sorocaba diversas vezes, antes mesmo que a equipe decidisse por Sorocaba. O envolvimento da mídia de modo geral foi muito grande. Um grupo artístico da Argélia fez um show na cidade, estudantes de várias escolas apresentaram temas ligados à Argélia, como comida, dança, etc. Houve também rodadas de negócios entre as partes.

Elenco da Argélia se une a diretoria do Atlético de Sorocaba em frente ao hotel no Centro de Treinamento – Credito: Divulgação

Como é o patrocínio do Galo atualmente? Com o falecimento do Reverendo Moon, houve mudanças na relação com a Unificação? Ela continua investindo dinheiro no clube? Se não, como o clube está se virando?

Em 2013, a Unificação comunicou que a partir de janeiro de 2014, o futebol do CAS deveria “caminhar com suas próprias pernas”. E foi neste ponto que a diretoria entendeu que deveria utilizar o legado da Copa do Mundo para criar uma estrutura que pudesse criar receitas para o CAS e para o time. Mas o clube tem feito parcerias, permutas com empresas de alimentos, parceiros no profissional e na base e detém direitos econômicos com atletas, como o Luan no Atlético-MG e Bruninho no Flamengo. Acreditamos que, com a nova regulamentação da FIFA, tirando gradativamente a figura do empresário na participação em direitos econômicos de atletas, os clubes poderão se tornar mais fortes nos próximos anos.

O Atlético é um clube relativamente novo, e nos últimos anos, o trabalho da diretoria o levou a uma posição de visibilidade no cenário nacional. Quais são os objetivos do clube para os próximos anos?

Neste momento, o Atlético Sorocaba está se reorganizado em todos os sentidos: conviver sem o principal patrono que é o Reverendo Moon, regressar à elite do Paulista e melhorar o trabalho da base. Porém, nosso objetivo principal é buscar autossuficiência financeira, retornar à Série A1 e buscar o Campeonato Brasileiro da Série D, e com isso ter um calendário anual adequado.

Seleção da Argélia realiza treino no CT do Atlético de Sorocaba durante Copa do Mundo – Credito: Divulgação

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