Nilson, Chico Lang e um gol de placa - Gazeta Esportiva
Bruno Ceccon e Osmar Garraffa
São Paulo, SP
10/18/2019 18:29:31
 

O Estádio Paulo Machado de Carvalho, símbolo do futebol brasileiro, tem placas dedicadas a personagens como Pelé e Charles Miller, além de todos os campeões mundiais pela Seleção. Instalada nas imediações do portão principal, bem ao lado da peça que lembra o introdutor do futebol no País, há também uma oferecida pelo jornalista Chico Lang ao centroavante Nilson.

Com gols de Nelsinho e Viola, o Corinthians vencia o Botafogo-SP por 2 a 0, pelo Campeonato Paulista 1992. Aos 43 minutos do primeiro tempo, após cabeçada do zagueiro Vilson, Nilson pegou de primeira da entrada da área para marcar um dos gols mais bonitos da história do Estádio Paulo Machado de Carvalho, porém raramente lembrado.

“Nossa, Chico! Até hoje, fico emocionado. Às vezes, falo do gol e o pessoal não lembra. Então, busco no YouTube e mostro. Foi o mais bonito da minha carreira”, contou Nilson, que visitou o Pacaembu ao lado do comentarista da TV Gazeta. “A canhota não é meu forte. Com a pancada, fiquei uns dois dias com o peito do pé dolorido. Se eu errasse, a bola sairia do Pacaembu. Acho que o chute foi a mais de 100km/h”, estimou.

Mentor da homenagem ao esguio centroavante, conhecido como Nilson “Pirulito”, o jornalista Chico Lang, já a serviço da TV Gazeta e do jornal A Gazeta Esportiva, acompanhava a partida das tribunas de imprensa do Estádio do Pacaembu. Curiosamente, a história da placa envolve Luis Roberto de Múcio, então narrador da Rádio Globo e diretor do Estádio do Pacaembu.

“O gol saiu no final do primeiro tempo e, no intervalo, o Luis Roberto me pegou pelo braço para perguntar: ‘Chico, o que você está achando do jogo?’. Eu respondi: ‘O jogo está tão bom, que esse gol do Nilson merece uma placa!’. Então, ele repercutiu bastante na rádio e passou a me cobrar. Vou te falar uma coisa: não esperava que a placa fosse tão pesada e cara. Tive que pagar em prestações”, contou Chico, irreverente.

Luis Roberto, atualmente na TV Globo, lembra bem da história. “O Nilson acertou um sem pulo da entrada da área inacreditável! Dos gols mais bonitos da história do Pacaembu”, afirmou. “Provoquei o Chico Lang na Rádio Globo, com essa história de fazer uma placa. E não é que o Chico abraçou a ideia? Foi uma iniciativa linda e que está eternizada. Que golaço! Sabe de quem? Nilson, centroavantaço!”, completou, com um de seus bordões.

Vinte e sete anos depois, diante da histórica placa, Chico Lang leu o texto: “Uma homenagem ao artilheiro Nilson, do Corinthians. Ele, aos 43 minutos do primeiro tempo, marcou o terceiro gol corintiano na vitória de 4 a 0 sobre o Botafogo de Ribeirão. Que os filhos dos nossos filhos não se esqueçam jamais daquele instante mágico, ocorrido na noite do dia 3 de setembro de 1992”, diz a mensagem, atentamente ouvida por Nilson.

Em sua longa carreira, o ex-centroavante do Corinthians defendeu mais de 25 clubes, entre eles Palmeiras, Flamengo, Vasco, Fluminense, Internacional, Grêmio e Celta-ESP, além da Seleção Brasileira. Aos 53 anos de idade, com a carreira como atleta profissional encerrada em 2005, ele fala com carinho e gratidão sobre a placa oferecida por Chico Lang no Estádio do Pacaembu.

“Fico arrepiado. Emociona, né? É como diz aqui a placa: para que ‘os filhos dos nossos filhos não se esqueçam jamais’. Nunca recebi nada assim em um estádio e, no dia da inauguração, tive o prazer de trazer meus filhos, ainda pequenininhos. Foi uma homenagem feita em vida que é eterna. Essa placa que o Chico proporcionou nunca vai deixar de existir”, declarou o ex-jogador, ainda festejado pelo comentarista da TV Gazeta.

“O gol saiu na intuição do Nilson. Se você pedir para explicar como fez, não vai saber. Da merma forma, produzi a placa na intuição. Valeu a pena e, se pudesse, faria tudo de novo. Está faltando isso no futebol de hoje: valorizar as coisas belas. Estou cansado de jogador brucutu. Se eu estiver no estádio e sair um gol bonito, mando fazer outra placa. Mas, bonito como o do Nilson, vai ser muito difícil”, encerrou Chico Lang.