Aproveitando a jornada - Gazeta Esportiva
Fernanda Silva
São Paulo, SP
10/18/2018 08:00:44
 

“Não há nada pior na vida do que ser comum”. A tatuagem no bíceps direito de Borna Coric é sua filosofia de vida — e de jogo. E, se tem algo que não é ordinário, essa coisa é derrotar Rafael Nadal e Andy Murray antes mesmo de completar 19 anos. Outro feito que foge das regras foi alcançado pelo croata mais recentemente, na última semana. Para se sagrar vice-campeão em Xangai, ele passou pelo suíço Stan Wawrinka, pelo argentino Juan Del Potro e pelo número três do mundo, Roger Federer. O último, uma de suas grandes inspirações no esporte. Coric caiu apenas para Novak Djokovic, em sua primeira final de Masters 1000 na carreira.

Chegou em solo chinês no 19º lugar do ranking mundial. O bom tênis mostrado lá o fez subir seis posições e o colocou em seu melhor posto até agora. Antes, sempre tentou estabelecer metas. “Quero chegar ao número 20”, pensava. Mas nunca fez acontecer para atingir as marcas. Eram apenas “distrações”. Trocou, então, de equipe e, com ela, de abordagem. “Agora, só quero melhorar meu desempenho e jogar bem a próxima partida. O time estava focado nisso e os resultados foram visíveis”, destacou, em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva.

Agora, só quero melhorar meu jogo e jogar bem a próxima partida

Antes de poder sonhar a final na China, Coric cogitou desistir. Sentiu dores no pescoço alguns dias antes de estrear. Deixou de treinar, mas, por sorte ou destino, recuperou-se. “Concordei com a minha equipe que eu deveria dar uma chance e funcionou muito bem”, lembra.
Muito bem, diga-se de passagem! Lá, fez o que acredita ter sido seu melhor desempenho.

SEMANA A SEMANA

Se, naquele momento, foi preciso superar as dores e ainda mostrar uma performance quase impecável para seguir na disputa, Coric continua tendo duelos. Agora, consigo mesmo. “Se eu não conseguir repetir esse bom desempenho semana a semana, não vai valer de nada”, destacou. “Já estou de volta ao campo de treinamento trabalhando duro para melhorar”.

 

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Back to work @piattitenniscenter 💪🏻

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Na semifinal chinesa, tinha um grande desafio: Roger Federer. Acumulando 15 anos a mais de experiência nas quadras, o então número dois do mundo levou uma legião de fãs ao embate. Coric sabia: a maior parte estava ali para prestigiar seu rival. Mas não tinha problema “Melhor uma atmosfera excelente, com as pessoas do outro lado, do que uma arquibancada vazia”, destacou, otimista. “Recebi muitas mensagens de pessoas que vieram ver Roger e Novak e depois dos jogos, eles se tornaram meus fãs também”.

Coric é o atual número 13 do mundo (Foto: Johannes Eisele/AFP)

VENCENDO O ÍDOLO
Antes do início daquele jogo, Coric acumulava duas derrotas e uma vitória em cima de Roger Federer. “Jogar contra um dos maiores de todos os tempos definitivamente me dá arrepios, isso é algo que você sonha quando começa a jogar”, relembra. “Mas, por outro lado, é mais fácil, por essa razão, não há vergonha em perder uma partida contra Roger”.

Talvez, tenha sido a falta de pressão. Talvez, puro talento. No final, foi uma vitória em dois sets diretos, com duplo 6/4 que carimbaram a ida de Borna à final. “Toda vez que eu ganho a partida, é ótimo. Vencer Federer é, naturalmente, um pouco mais especial, porque é algo que eu sonhava quando era criança”, lembra o número 13 do mundo.

Ser número 1 é o objetivo final, mas por enquanto estou feliz em aproveitar a jornada

“Ganhei 84% de pontos no meu primeiro saque e não dei nenhuma oportunidade de descanso, então foi, definitivamente, uma das melhores apresentações que mostrei até agora”, destaca, com orgulho. “O retorno do primeiro e do segundo saque também foi ótimo, acho que ganhei mais de 30% dos pontos de retorno e, no final, acertei todos os backhands a 5 centímetros da linha de base. Tudo somado, fiquei muito feliz com o meu desempenho nessa partida”, avaliou.

Naquele torneio, Coric estreou em Xangai. Nunca antes tinha disputado naquelas quadras chinesas. Nunca antes, também, havia conseguido chegar a uma final de Masters 1000. Quando chegou, encarou seu grande amigo, Novak Djokovic. “Foi muito bom, obviamente, uma ótima experiência para mim. A atmosfera era realmente ótima e apreciei cada segundo disto”.

ENTRE OS MELHORES 
Apesar de sonhar alto, Coric mantém os pés no chão. Não mira em ser número um, mas sim em vencer jogo a jogo. Se isso o levar a subir no ranking, melhor ainda. Agora, ele se prepara para sua próxima parada, em Viena.

Lá, ele tenta acumular pontos para, quem sabe, garantir um espaço no Finals, torneio em que os oito melhores do mundo disputam. “Independentemente disso, estou feliz com a minha temporada até agora”, destacou. “Ser número 1 é o objetivo final, mas por enquanto estou feliz em aproveitar a jornada”, finalizou.