A montanha-russa Audax - Gazeta Esportiva
Felipe Leite
São Paulo, SP
04/13/2018 09:00:27
 

Vila Belmiro, 8 de maio de 2016. Depois de um empate por 1 a 1 em Osasco, na semana anterior, o Santos derrotou o Audax em seus domínios, pelo placar mínimo, e conquistou seu 22º título do Campeonato Paulista. Naquele ano, mesmo com o troféu do Peixe, o grande destaque da competição ficou por conta do finalista rival, que com um estilo de jogo ímpar, liderado pelo técnico Fernando Diniz, roubou o protagonismo da disputa.

Com a utilização da estratégia do goleiro-linha, ausência de chutões e o toque de bola intenso, a equipe se projetou para o cenário nacional durante a campanha no Paulistão. Entretanto, pouco era esperado pelos torcedores do Audax e do esporte em geral que, somente dois anos após o vice-campeonato do Estadual, o time da Grande São Paulo seria rebaixado para a terceira divisão do futebol regional.

No último dia 24 de março de 2018, o clube de Osasco empatou com o Taubaté por 2 a 2 e, precisando da vitória para se livrar da zona de rebaixamento na última rodada da Série A2, teve sua queda decretada. Daquela final na Vila, em 2016, até o descenso neste ano, o que aconteceu?

O desmanche

A campanha que culminou na segunda colocação do Campeonato Paulista direcionou os olhares dos outros times aos atletas do Audax, que logo após a disputa, fecharam contratos com grandes clubes do Brasil. O desmanche, natural em qualquer equipe tida como pequena quando faz um bom torneio, já era previsto pela própria diretoria.

Isso porque, antes mesmo do início do Paulistão de 2016, a maioria dos jogadores do time tinha um contrato de curta duração em validez, devido ao calendário limitado do clube durante o ano. O fato ficou evidenciado durante a própria competição, quando os dirigentes do Audax tiveram que adicionar uma cláusula de 30 dias no acordo já existente com o goleiro Sidão e os jogadores de linha Juninho e Mike, que quase desfalcaram a equipe na grande final contra o Santos.

Mesmo com a visibilidade e a eventual saída da maioria dos atletas, o maior triunfo do clube foi assegurado após o torneio. O treinador Fernando Diniz, que incorporou o seu estilo de jogo e filosofia aos comandados, manteve-se no cargo técnico e chegou a comandar o Oeste na Série B do Brasileirão daquele ano, graças a um acordo entre o clube de Itápolis e o de Osasco, retornando no começo de 2017 ao Audax.

Fernando Diniz

Fernando Diniz comandou o Audax quando a equipe eliminou o Corinthians, de Tite, em plena Arena Itaquera (Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press)

Naquele ano, após salvar o Oeste do rebaixamento para a terceira divisão só na última rodada da Segundona da temporada anterior, Diniz não conseguiu repetir o bom desempenho na edição do Estadual. Depois de doze rodadas e uma campanha de somente duas vitórias, três empates e sete derrotas, o Audax teve o descenso para a Série A2 selado.

Ainda assim, o ex-jogador continuou como funcionário do clube. Atuando como uma espécie de consultor técnico, orientava e dava direcionamentos aos treinadores das categorias de base e de outras funções da equipe, mas não desempenhou a ocupação por muito tempo. Após deixar o Audax, acertou com o Guarani no final daquele ano, time que deixaria poucos dias depois para assumir o Atlético-PR, sua atual equipe.

Em entrevista exclusiva a Gazeta Esportiva, Eduardo Barros, presente na comissão técnica de Fernando Diniz desde novembro de 2015, atuando na função de auxiliar, não apontou somente o desmanche como causa principal para a queda à segunda divisão do futebol de São Paulo.

Acho que o rebaixamento é muito fatorial. Claro que tivemos a perda técnica em 2017, em relação à equipe do ano anterior, e isso é um fator. Mas não podemos atribuir os dois rebaixamentos ao que aconteceu após o vice-campeonato

“O clube como um todo, e a comissão técnica se coloca como parte disso na temporada seguinte, se sente como parte responsável do primeiro rebaixamento. Não podemos falar que foi só a perda dos principais jogadores de 2016. Nós não fizemos uma boa competição”, explicou.

O auxiliar também viu uma montagem errada do elenco para a disputa do Paulistão de 2017 como um dos motivos para o descenso, além da falta de aproveitamento nas oportunidades para fugir da zona da degola naquele torneio.

“Eu prefiro não opinar sobre o que aconteceu após a nossa saída. Não vivi a realidade do clube, não vivi o dia-a-dia, os problemas e as decisões que foram tomadas para jogarem a A2. Quando jogamos a A1, aí posso opinar. Nós acabamos tendo um elenco com um perfil que não foi o mais adequado para jogar uma competição curta e competitiva, como o Paulistão, e tivemos ‘n’ possibilidades de, ao longo da competição, escapar do rebaixamento e não fomos competentes. Acumulamos uma sequência de maus resultados e não conseguimos reverter”, afirmou.

“Quando você monta uma equipe, você tem que pensar não só no perfil técnico, mas em um perfil humano dos jogadores. E, nesse aspecto, a gente poderia ter montado uma equipe com um perfil humano melhor, jogadores mais envolvidos, engajados. Faltou essa composição para o elenco de 2017. Isso não isenta nossa responsabilidade. São vários elementos: era um time totalmente diferente, que poderia ter feito melhores escolhas, não fizemos bons jogos. Erramos também em estratégias de jogo. Em várias partidas, tivemos a possibilidade de nos livrarmos do rebaixamento e não éramos competentes para vencer os jogos”, finalizou.

Palavra do presidente

Vampeta atribuiu a queda do Audax a diversos fatores (Foto: Reprodução)

O mandatário do clube é um velho conhecido dos torcedores brasileiros de futebol. Marcos André Batista Santos, o Vampeta, assume a função de presidente desde 2013, e acumula algumas polêmicas desde então.

Depois da marcante campanha de 2016, o Audax estrearia no Campeonato Paulista do ano seguinte contra o São Paulo, à época comandado por Rogério Ceni, em seus domínios. O problema é que, por determinação da direção da equipe, os ingressos mais baratos custavam 100 reais, enquanto a torcida Tricolor teria que pagar 140 para acompanhar a primeira partida do ídolo do time como técnico do Soberano.

A medida, com os preços exorbitantes, desagradou tanto os visitantes quanto os donos da casa, algo não esquecido por ambas as torcidas até os dias de hoje. Além disso, mesmo tendo gerido o clube durante o vice-campeonato do Estadual de 2016, foi o mesmo Vampeta que acompanhou a derrocada atual do time.

Quanto aos sucessivos rebaixamentos, o presidente seguiu a mesma linha que Eduardo Barros, “culpando” uma série de fatores, em contato exclusivo com a Gazeta Esportiva: o desmanche, os investimentos direcionados às categorias de base da equipe, a inexperiência do elenco e a gestão de finanças do dono do projeto, Mário Teixeira.

“Quando a gente chegou na final do Paulista, houve depois uma debandada dos jogadores. Só ver o Sidão, Felipe Alves, Camacho, Tchê Tchê, de fato saiu a base do time toda. Depois, caímos para a A2 e nossos investimentos foram mais direcionados para as categorias de base. A gente foi com um time muito novo. É time de dono, são recursos próprios. A opção geralmente é do dono daquilo que se gasta lá”, explicou, por fim, o Velho Vamp.

Fato é que, depois de perder somente para o Santos na final do Paulistão de 2016, o Audax tem pela frente a Série A3 em 2019, que não deixa de ser uma oportunidade para o clube se reerguer. Os investimentos, de fato, foram direcionados para as outras categorias e modalidades do clube, que no restante de 2018, jogará o Campeonato regional feminino, além do sub 15, sub 17 e sub 20 do Estadual de São Paulo. Cabe ao torcedor do Audax a esperança e a luta, já características do clube.