Muito além da Pompeia - Gazeta Esportiva
Bruno Ceccon
São Paulo, SP
08/26/2017 00:01:45
 

Criada por um punhado de imigrantes italianos em 1914, a Sociedade Esportiva Palmeiras consolidou uma torcida de caráter nacional ao longo do último século, fazendo jus ao status de “maior campeão do Brasil”. Exatos 103 anos após a fundação, o clube estabelecido no valorizado bairro da Pompeia tem a memória de seus dirigentes preservada na periferia de São Paulo.

Na humilde vizinhança de Americanópolis, Zona Sul da capital paulista, milhares de pessoas transitam diariamente pela rua Delfino Facchina, paralela à Mario Frugiuele. Outras tantas vivem na Angelo Dedivitis, entre a Ferrucio Sandoli e a Comendador Artur Capodaglio. Ou então na Doutor Rafael Parisi. Todas batizadas em homenagem a antigos dirigentes do clube fundado como Palestra Itália.

Há diversos logradouros com o nome de ex-diretores palmeirenses, alguns em cidades do interior paulista, mas em nenhum outro local eles estão agrupados como em Americanópolis. As ruas do bairro foram batizadas entre junho de 1980 e julho de 1981, durante a gestão do prefeito Reinaldo de Barros, então integrante da Arena, partido de sustentação da Ditadura.

Em contato com a Gazeta Esportiva, alguns dos principais estudiosos da história do Palmeiras se mostraram surpresos com a homenagem aos antigos dirigentes no bairro da Zona Sul. A subprefeitura de Cidade Ademar também não possui maiores informações sobre o assunto. Assim como Carlos Bernardo Facchina Nunes, sobrinho de Delfino Facchina, um dos maiores presidentes da história do clube.

“Não sei, filho. Nunca estive nesse lugar, inclusive. É algo honroso, um orgulho. A lembrança é importante, mas eu sou meio avesso a esse tipo de coisa”, justificou Carlos Bernardo, que também presidiu o Palmeiras. “Tempos atrás, quando havia notícia de algum crime, muitas vezes era por ali. Mas, hoje, deve ter melhorado, né?”, questionou.

Independentemente dos pormenores da homenagem, se o Palmeiras chega aos 103 anos na condição de maior campeão do Brasil, deve parte disso aos diretores lembrados em Americanópolis, de acordo com o jornalista Fernando Galuppo. Mario Frugiuele, por exemplo, presidiu o clube na conquista da histórica Copa Rio 1951 e Delfino Facchina, durante a Primeira Academia.

Com exceção de Carlos Facchina, pai de Delfino, todos foram dirigentes do Palmeiras (Imagem: Reprodução)

“Foram homens de vanguarda, que deixaram um legado esportivo, social, administrativo e patrimonial. Então, não é de se espantar que tenham sido homenageados como contrapartida pelos serviços prestados não só à Sociedade Esportiva Palmeiras, mas à comunidade que pertenciam”, afirmou o estudioso da trajetória do clube.

Em muitos momentos, as histórias dos principais clubes paulistanos e da própria cidade de São Paulo se entrelaçam. Ao comentar o assunto, Galuppo lembrou que rendas de partidas de futebol foram empregadas tanto na construção do monumento a Duque de Caxias, na praça Princesa Isabel, quanto no fechamento da cúpula da Catedral da Sé.

Presidente Delfino Facchina (e) recebe taça do Robertão 1969 de João Havelange, da CBD (Foto: Acervo/Gazeta Press)

“A vida social até o início dos 1970 passava muito pelos clubes e os personagens centrais do mundo político estavam fatalmente ligados a algum deles. O próprio Palmeiras sempre teve uma relação particular com agentes da municipalidade e podemos ver a manifestação disso com a homenagem em uma rua ou praça”, exemplificou.

Na noite desta segunda-feira, em uma casa de shows nas imediações da avenida Francisco Matarazzo, personagem intimamente ligado ao Palmeiras, o clube promove seu tradicional banquete comemorativo. Em um ano decepcionante, Maurício Galiotte pode se mirar no exemplo dos antecessores Mario Frugiuele, Delfino Facchina, Ferrucio Sandoli e Rafael Parisi, todos campeões como presidentes, hoje discretamente homenageados muito além da Pompeia.



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