E. Felipe abre o jogo antes do Choque-Rei: "Posso melhorar demais" - Gazeta Esportiva
E. Felipe abre o jogo antes do Choque-Rei: "Posso melhorar demais"

E. Felipe abre o jogo antes do Choque-Rei: "Posso melhorar demais"

Gazeta Esportiva

Por Marcelo Baseggio e Felipe Leite*

30/03/2019 às 07:00

São Paulo, SP

Com apenas seis jogos na atual temporada. Everton Felipe foi de uma das últimas opções do elenco a titular do São Paulo sob o comando do técnico interino Vagner Mancini. Prestes a encarar o Palmeiras no jogo de ida da semifinal do Campeonato Paulista, o meia-atacante abriu o jogo em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva e, apesar do momento de ascensão, manteve um tom crítico em relação ao seu desempenho com a camisa tricolor.

“Fico feliz em voltar a jogar e estar ajudando, mas, ao mesmo tempo, foi uma ansiedade muito grande. Não consegui render aquilo que consigo no ano passado e esse ano também. Mesmo fazendo dois bons jogos, acho que fiquei muito abaixo daquilo que posso fazer no São Paulo. Não estou feliz com meu rendimento técnico, acho que posso melhorar demais”, disse o exigente Everton Felipe, titular em ambos os jogos das quartas de final contra o Ituano.




A escalação de Everton Felipe na ponta esquerda no primeiro jogo contra o Ituano foi considerada uma surpresa justamente por conta do desempenho do atleta nos últimos meses. O meia-atacante, entretanto, surpreendeu e participou diretamente dos dois gols que deram a vitória para o São Paulo. Ainda assim, ele acredita que já poderia ter caído nas graças da torcida, ainda desconfiada, há muito tempo.

“Quem me viu jogar no Sport, quando estava no auge da minha confiança, vai ter a mesma resposta que eu. Tecnicamente fui muito abaixo do que posso render. Taticamente joguei bem, ajudei a equipe com o principal, que era passar de fase, mas tecnicamente estou muito abaixo”, avaliou com frieza.

Aos 21 anos, Everton Felipe sonha com uma vaga na final do Paulistão, mas o jogador poderia estar neste momento bem distante do Morumbi. Em baixa com o técnico André Jardine, ele chegou a receber propostas de Flamengo e Cruzeiro, mas foi persistente e, querendo vingar com a camisa do São Paulo, acabou negando a possibilidade de ganhar o dobro do que recebe atualmente no Tricolor.

Abaixo, você confere a interessante e sincera entrevista de Everton Felipe:

Dos seis jogos que você fez pelo São Paulo, o time perdeu um, que foi o clássico contra o Palmeiras. Muito do seu aproveitamento veio com Vagner Mancini. O que ele sempre procura te passar nessas conversas?

Desde que eu estou trabalhando com ele parece ser um cara correto, parece um cara justo. E a partir do momento que ele assume a equipe, e tem os jogadores que ele vai escalar, por mais que alguns tenham qualidade, quando não estão rendendo cria-se uma dúvida na cabeça do treinador. O jogador que vai jogar é o jogador que está rendendo, é o que está acontecendo no São Paulo hoje. E os que estão rendendo são os meninos novos, de 18, 19 e 20 anos. O Mancini não está nem aí, ele não se preocupa com idade. Se o jogador tiver rendendo, ele vai jogar e pronto, e é isso que está acontecendo. E, graças a Deus, está funcionando muito bem. Quando ele assumiu, conversou comigo e disse que eu estava nos planos, ia bem nos treinamentos e queria me dar uma oportunidade. E deu. Como eu te falei, tecnicamente eu estou muito abaixo, mas, o que ele me pediu, estava apresentando, eu cumpri, e por isso eu estou me mantendo firme. Mas, tecnicamente, eu posso demonstrar mais.

O que você que foi fundamental para a mudança de desempenho do São Paulo a ponto de a equipe ter assegurado a classificação à semifinal do Campeonato Paulista?

Eu, com a pouca experiência que tenho, acho que o encaixe do time e a maneira de jogar, junto com as características dos jogadores, fizeram com que o São Paulo crescesse. Para ser bem claro, ele montou um time, com a maneira de jogar dele, que achava melhor para o São Paulo, com aquilo que o time poderia fazer, e o time respondeu da maneira que ele queria. As características dos jogadores se adequavam com o que ele queria, que era transição rápida, não ficar com posse de bola sem criatividade, uma posse de bola com produtividade. O time do São Paulo, se você assistir os jogos, é objetivo no que quer fazer no jogo, procurando sempre o gol. Errando ou não, sempre se busca o gol.

Por que você acha que não recebia essas oportunidades na época do André Jardine? Existia algum problema especial?

Não. A gente não tinha nenhum problema especial. Acho que tenho que ser sincero também comigo mesmo, eu estava indo bem, mas tinha outros jogadores melhores. Para ser bem sincero, eu não tive oportunidade, eu era um cara que jogava todos os jogos no ano, jogava mais jogos que todos os jogadores no Sport. Tive proposta do Ajax, do Spartak, do Sevilla, e, de repente, eu me machuquei. Fiquei 11 meses e meio parado, e vim parar no São Paulo. Fiquei mais sete meses sem fazer duas partidas seguidas, o que dá mais de um ano e meio. Então, eu acho que eu não sou uma máquina também, eu sou um atleta, que tenho 21 anos apenas. E a cabeça é uma m***, psicológico estava ruim. Para ser sincero contigo, eu precisava de confiança e estou recuperando a minha confiança.

Você chegou a pensar em sair do São Paulo em algum momento para poder jogar?

Cara, pensar em sair do São Paulo eu pensei, sim, porque queria jogar, queria ter ritmo de jogo. Até tive uma conversa com Raí e disse que não estava feliz por não jogar, eu só queria jogar. Eu só quero jogar, eu preciso jogar. Eu fiquei um ano e meio parado e preciso jogar, se é aqui, se é na China, em qualquer lugar, não importa. Eu só preciso jogar, porque só jogando eu vou conseguir recuperar a minha confiança que ainda está lá embaixo. Mas, não passou de uma conversa, porque escolhi jogar no São Paulo. Eu quis vir para o São Paulo. Tive proposta do Flamengo, do Cruzeiro, com o dobro do salário, mas eu preferi vir para o São Paulo. Então, eu falo para as pessoas que não sabem, isso para mim é muita coisa, eu tenho 21 anos, preciso ganhar dinheiro, preciso fazer minha vida, mas mesmo assim eu preferi vir para o São Paulo, ganhando metade do que outros clubes ofereceram.

Você chegou a receber proposta do Santos? 

Cara, teve uma sondagem do Santos, sim, só que as conversas eu deixei para o meu empresário, Marineu. Eu estou vivendo um bom momento aqui no São Paulo, que pode melhorar e muito. Como eu falei, tecnicamente estou muito abaixo, mas estou vivendo um momento bom aqui no São Paulo e graças ao Raí e ao Pássaro, que, em um primeiro momento, chegaram para mim e falaram que não iam me liberar porque acreditam no meu futebol. A coisa mais fácil do mundo era eles me liberarem, por pressão que tinha da torcida, porque os torcedores me criticam, e muitos com razão. Não queria isso, mas faz parte do futebol. Os dois foram os responsáveis por me manter aqui, acreditando num projeto. Também acreditava que uma hora ia jogar e essa hora está chegando. Espero poder ajudar o grupo, que é o mais importante para o São Paulo conquistar esse título Paulista, e o restante deixa em segundo plano.

Quando você não vinha sendo aproveitado, o Diego Souza saiu do São Paulo, e você tinha uma relação de amizade com o Diego. Quanto a saída do Diego Souza te abalou no dia a dia no clube? 

Eu vim para o São Paulo porque eu queria jogar no clube e porque duas vezes tentou me contratar, além do fato do Diego também estar aqui. Ele ter saído do São Paulo não mudou nada. Eu acho que cada um tem a sua carreira esportiva, as pessoas confundem muito a amizade verdadeira com outras coisas. Não é porque o Diego saiu para o Botafogo que eu vou para o Botafogo também. Não tem nada a ver. As pessoas acabam confundindo isso com uma amizade verdadeira que eu criei com uma pessoa. No futebol, uma amizade verdadeira também tem que se conquistar.

Qual sua expectativa de trabalhar com o Cuca?

Nunca trabalhei com o Cuca, mas só escutei coisas boas. É um cara que tem uma filosofia de trabalho parecida com o que a que gente está apresentando. É um cara de grupo, bem de grupo. É um cara paizão. Ele, quando o atleta faz tudo que ele está pedindo, quando mostra que vai ajudar a equipe, ele compra a briga dele. Então, espero que eu me dê bem com ele e que o São Paulo também se dê bem com ele, que o momento que a gente está passando siga.

Você acha que tinha muito individualismo no São Paulo e não tanto pensamento coletivo?

Eu acho que a mudança de treinador já causa impacto na equipe. No momento em que falaram que o treinador seria o Cuca, ficou todo mundo no aguardo dele chegar para vê-lo dentro de campo, treinando, para saber como é que funciona. Mas, graças a Deus, deu certo com o Mancini, que está fazendo um trabalho espetacular. O São Paulo foi o único a ganhar as duas no mata-mata. Desde 2003, alguma data assim, que o São Paulo não fazia isso, ganhava dois jogos de mata-mata no Paulista. Além disso, ele conseguiu ganhar o grupo, o Mancini fez com que todo mundo queira jogar um pouco mais, e o grupo do São Paulo é muito bom, não tem jogador que fica com a vaidade lá em cima querendo colocar seu próprio ego na frente do grupo.

Como você vê a chegada do Pato?

Não tem nem o que comentar sobre a chegada do Pato. Vi o Pato jogar na televisão, no Inter, e hoje vou poder jogar ao lado dele. É um jogador de Seleção Brasileira, jogador que já mostrou seu potencial num clube que já foi o melhor do mundo. Então, é uma felicidade muito grande. Te garanto que vou ser o primeiro cara a chegar e pedir para tirar foto com ele. Sou fã do futebol dele, é uma felicidade muito grande poder conviver e jogar ao lado. Espero poder ajudá-lo a fazer muitos gols.

O Palmeiras é o favorito nas semifinais do Paulista?

Por tudo que eu aprendi no futebol, clássico é clássico. Não se pode dizer quem é favorito ou não. O elenco do Palmeiras é maravilhoso, com jogadores renomados, craques, mas também vivemos uma fase muito boa, com muitos garotos mostrando seu potencial. Como eu disse, clássico é clássico, são duas camisas muito pesadas, então fica em aberto.

*Especial para a Gazeta Esportiva

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