O presidente José Carlos Peres e o técnico Jorge Sampaoli escancararam na noite da última terça-feira a má relação existente há meses no Santos.
O Peixe, por meio de nota oficial, relatou um pedido de demissão de Sampaoli durante a reunião de segunda, no CT Rei Pelé, e agradeceu pelos serviços prestados durante 2019.
O argentino, em contrapartida, nega ter solicitado a saída e diz ser "mais uma mentira" de Peres. Seu advogado garante a inexistência de documentos para provar o teor da matéria publicada pelo Alvinegro em seu site.
O Santos entregou o caso para o departamento jurídico e exige o pagamento de multas rescisórias, tanto de R$ 10 milhões de Jorge Sampaoli pelo vínculo até dezembro de 2020, quanto de R$ 3 milhões de sua comissão técnica pelas normas da CLT.
Sampaoli, porém, refuta ter pedido demissão, então não precisaria pagar nada. Ele quer sua liberação e dos demais profissionais: os auxiliares Jorge e Carlos Desio e os preparadores físicos Pablo e Marcos Fernández. Outros a deixar o clube devem ser o gerente Gabriel Andreata e o analista Felipe Araya.
Versão 1
Vários membros da diretoria usaram o termo "populismo" para comentar atitudes recentes de Jorge Sampaoli. O Santos vê o treinador em tentativas periódicas de ter a opinião pública favorável para sair do clube sem maior desgaste.
Um dos exemplos citados pelo Peixe foi a "satisfação" dada logo após a reunião da última segunda-feira, com o presidente Peres no CT. Gente ligada ao profissional avisou sobre um "papo tenso", mas não citou qualquer pedido de demissão.
O Alvinegro diz ter sido praticamente ameaçado por Sampaoli nesta reunião: ele teria dito não ver sentido na conversa se não há investimento previsto, pedido para sair e sinalizado falar sobre erros da gestão no caso da não liberação dele e de sua comissão técnica.
Pessoas da cúpula santista também destacam a suposta "ingratidão" de Jorge Sampaoli depois de voltar a ser reconhecido como bom técnico na Vila Belmiro e não ter estado em xeque mesmo com três eliminações no ano: para River Plate (URU) na Sul-Americana, Corinthians no Campeonato Paulista e Atlético-MG na Copa do Brasil. Outro fator é ter investido quase R$ 80 milhões em reforços e ter trazido gente de sua confiança e sem experiência suficiente no mercado.
As palavras dele, de acordo com dirigentes santistas, não se sustentariam na prática, como dizer sobre o "fanatismo" pelo Santos na última entrevista coletiva, assim como voltar a ser feliz na cidade de Santos, e pedir a demissão por não haver dinheiro suficiente.
Versão 2
Jorge Sampaoli admite ter se exaltado durante a reunião com o presidente José Carlos Peres e falado em "falta de sentido" diante do corte de custos para 2020. Ele, no entanto, nega ter pedido demissão.
Sampaoli não confia em Peres e queria R$ 100 milhões documentados para reforços, além da manutenção dos principais jogadores do atual elenco.
O argentino alega promessas não cumpridas desde a sua contratação, distância entre o futebol e a administração e lamenta a saída de Paulo Autuori da superintendência, uma espécie de remédio diante dessa turbulência.
Jorge Sampaoli diz a amigos sobre voltar a ser feliz no Santos e em Santos, mas vê José Carlos Peres como "corrupto" e não consegue enxergar êxito em campo dissociado da figura máxima da instituição.
Na opinião de Sampaoli, Peres e demais membros do clube tentam desmoralizar os feitos desta temporada, onde o treinador virou uma espécie de ídolo.
No meio do caminho
Jorge Sampaoli é mais respeitado que querido por jogadores e funcionários do Santos. Todos reconhecem seu talento para a profissão, mas muitos têm restrição com o jeito temperamental, falta de satisfação sobre mudanças na escalação e diferenças de relacionamento.
Sampaoli criou expectativa em atletas da base, porém, não revelou. E impediu partidas dessa categoria e das Sereias da Vila na Vila Belmiro.
O trato de Jorge com a comissão fixa do Peixe era totalmente diferente de sua comissão. Um exemplo é ter encostado o auxiliar Serginho Chulapa. Ele nem entrava mais no campo e só batia ponto.
E qual o destino?
Palmeiras e Racing (ARG) têm interesse em Jorge Sampaoli. O técnico ouvirá o projeto dos dois clubes nos próximos dias e não tem pressa.
Enquanto isso, Sampaoli sonha em dirigir o Flamengo e vive a expectativa de substituir Jorge Jesus se o português não renovar seu contrato depois do Mundial.