Vice com o Atlético-MG culpa Márcio Rezende por ser vendedor de imóveis - Gazeta Esportiva
Vice com o Atlético-MG culpa Márcio Rezende por ser vendedor de imóveis

Vice com o Atlético-MG culpa Márcio Rezende por ser vendedor de imóveis

Gazeta Esportiva

Por Helder Júnior e Olga Bagatini*

29/10/2015 às 08:03 • Atualizado: 02/11/2015 às 15:46

São Paulo, SP

Técnico que se destacou em 1999 não deu muito prosseguimento à carreira (foto: acervo/Gazeta Press)
Técnico que se destacou em 1999 não deu muito prosseguimento à carreira (foto: acervo/Gazeta Press)


Humberto Ramos se surpreendeu quando recebeu um telefonema da Gazeta Esportiva. Hoje acostumado a lidar com os negócios de sua construtora – ele compra terrenos, constrói e vende imóveis –, o ex-jogador e técnico do Atlético-MG no vice-campeonato brasileiro de 1999, título perdido para o Corinthians, está afastado do futebol há quase uma década. E aponta um culpado pelo ostracismo: Márcio Rezende de Freitas.

“No segundo jogo da final de 1999, o árbitro Márcio Rezende de Freitas não marcou um pênalti claro quando o Índio colocou a mão na bola dentro da área, ainda no primeiro tempo. No contra-ataque, o Luizão fez o primeiro gol da vitória do Corinthians”, acusou Humberto, referindo-se ao triunfo corintiano por 2 a 0. Antes, o Atlético-MG havia vencido por 3 a 2. E empatou por 0 a 0 na terceira partida da decisão. “Aquele erro não só pode ter alterado o resultado do campeonato, como prejudicado seriamente a minha carreira como treinador. Se a gente tivesse sido campeão, eu não teria saído da forma como foi.”

O mineiro Márcio Rezende de Freitas é o mesmo árbitro que ficou marcado por uma jogada que contribuiu com outro título brasileiro do Corinthians, em 2005. No duelo decisivo com o Internacional, que estava na disputa pelo troféu dos pontos corridos na ocasião, ele deixou de marcar um pênalti do goleiro Fábio Costa sobre o meio-campista Tinga no Pacaembu. Dez anos antes, no mesmo estádio, revoltou o Santos na final nacional contra o Botafogo, que se sagrou campeão.

Em 1999, Márcio Rezende não agradava a ninguém. “Cara feia é o que não faltou no Parque São Jorge com a sua escalação”, contou o jornal A Gazeta Esportiva, na época. O centroavante Luizão chegou a extravasar a sua indignação com a arbitragem: “Eu não gosto dele. Sempre tive problemas. Ele me persegue desde os tempos de Palmeiras. Sempre me dá algum cartão, amarelo ou vermelho”. O jogador receberia os dois cartões – amarelo e vermelho – na partida em que anotou os dois gols do Corinthians. A expulsão foi forçada nos acréscimos, em uma tentativa fracassada de obter um efeito suspensivo e disputar o terceiro jogo com o Atlético-MG.

Hoje afastado do futebol, Humberto negou usar peruca (foto: acervo/Gazeta Press)
Hoje afastado do futebol, Humberto negou usar peruca (foto: acervo/Gazeta Press)


O time mineiro também sofreu com o desfalque de um atacante. Comparando a importância de Marques para o Atlético-MG à de Neymar para a Seleção Brasileira, Humberto Ramos perdeu o atleta logo no princípio do primeiro duelo da final, por lesão muscular na coxa esquerda. “A ausência do Marques foi crucial, o fator preponderante para que a gente não conseguisse o título”, elegeu. “A conquista do Corinthians foi justa, pela campanha que fez e pela qualidade do time. Mas, nos 90 minutos do último jogo, o Atlético-MG foi melhor”, acrescentou.

De fato, a campanha do vice-campeão foi bastante inferior. O Atlético-MG obteve a sua classificação para o mata-mata com apenas a sétima colocação, a 11 pontos (três a mais do que a vantagem corintiana em 2015) do líder Corinthians. A duas rodadas de essa etapa ser encerrada, o treinador uruguaio Darío Pereyra foi demitido após uma derrota por 4 a 0 para o Guarani. Humberto Ramos assumiu o posto interinamente e agradou.

“Eu era coordenador de futebol e trabalhava diretamente com a comissão técnica, me reportando ao presidente. Lembro que algum dirigente procurou o Júnior e o Zagallo para o cargo, mas acabaram me escolhendo. Era o início de uma grande carreira, sem dúvida. Em tão pouco tempo, fiz tantas coisas. Depois que saí, milhares de treinadores de renome passaram por lá e não fizeram um terço. E a estrutura da minha época era bem precária”, rememorou o técnico que reanimou o Atlético-MG em 1999, com direito a uma classificação sobre o rival Cruzeiro nas quartas de final. “Quando assumi, fiz apenas alguns ajustes táticos. O mais importante foi o lado motivacional, a união do grupo. Não via nenhuma reclamação ou panela. A gente superou tudo. Infelizmente, o quase é terrível. Pintei um lindo quadro, mas não assinei”, lastimou.


Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press

HUMBERTO TEVE “RELAÇÃO PROFISSIONAL” COM TITE


Atual técnico do Corinthians, Tite foi chefiado pelo diretor de futebol Humberto Ramos no curto período que passou no Atlético-MG, em 2005. O time mineiro acabaria rebaixado naquela temporada em que o paulista conquistou o seu quarto título brasileiro.

Questionado sobre Tite, Humberto trocou a sua animação ao conceder esta entrevista por um tom de voz seco. “Tínhamos uma relação profissional. Não nos falamos desde então”, disse o ex-dirigente, que chegou ao clube quando o profissional gaúcho já estava no cargo. Depois, reclamou por não ter participação da contratação de Lori Sandri.

“O Tite não deu certo no Atlético-MG, assim como muitos treinadores não dão certo em vários clubes. Ele deixou o time na zona de rebaixamento. Às vezes, não era o mesmo Tite de hoje, com a experiência que tem, e talvez tenha cometido erros que não cometeria atualmente. Simplesmente, não deu liga”, resumiu Humberto Ramos.


Seja como for, a vida no futebol, em 1971 ou em 1999, não passa de memória para Humberto Ramos atualmente. Após ser vice-campeão brasileiro, ele estava animado para comandar o Atlético-MG na Copa Libertadores da América do ano seguinte, porém acabou desempregado ao perder para o Paraná na Copa Sul-Minas. “Deveria existir algo por trás disso”, desconfiou o profissional, que acionou a Justiça para receber pelo rompimento do seu contrato. “Fiquei sabendo que o Coritiba tinha interesse em mim, ou era o Fluminense, ou outro time grande aí. Acabou que fiquei fora dos planos. Depois de alguns meses, trabalhei no Marcílio Dias. De lá, fui para Avaí, Joinville, Vila Nova, Brasil de Pelotas e, por último, Brasília. Foi uma decepção. Não queria ser salvador da pátria, mas ter recursos para fazer um bom trabalho. Se já é difícil trabalhar em um lugar grande e bem estruturado, imagine em um sem estrutura alguma, que não investe em contratações.”

Humberto Ramos ainda atuou como dirigente do Atlético-MG e como comentarista antes de se afastar de vez do esporte e começar a se dedicar integralmente à venda de imóveis. Em 2012, submeteu-se a uma cirurgia no quadril e recusou algumas propostas de trabalho como técnico. “Aparecia muita coisa, mas só porcaria. Eu via que não daria resultado”, justificou.

O ex-treinador agora trata o futebol como lazer. Acompanhando pela televisão a reta final do Campeonato Brasileiro de 2015, que novamente envolve Corinthians e Atlético-MG na disputa pelo título, Humberto acha improvável que, desta vez, o troféu vá para Belo Horizonte. “O Galo deve lutar pelo vice-campeonato. Tem que pensar nisso para não perder o segundo lugar. Se um time brasileiro vencer a Sul-Americana, o G4 virará G3. Tem que ficar esperto”, recomendou, antes de fazer uma ressalva. “O título não está definido porque tudo por acontecer. Estou falando como analista de futebol. Agora, se você perguntar a minha vontade, não quero isso de jeito nenhum. É só uma intuição, um feeling, de que não escapa mais do Corinthians.”

Com as intuições de quem já vivenciou uma decisão nacional com o Corinthians, Humberto Ramos deu até conselhos para Levir Culpi, sugerindo “atenção redobrada” no duelo do Independência, no domingo, “mas sem perder as características” atleticanas. O assunto lhe deu nostalgia dos tempos de técnico. “Ainda mais ganhando o salário que os caras estão ganhando... Não estou aberto a propostas só do Atlético-MG. É de qualquer time. Estou por dentro do futebol e sei de todos os caminhos porque fui jogador, treinador dirigente e comentarista free lancer em Belo Horizonte. Para mim, não tem segredo. Mas acho que as chances de me chamarem são muito remotas”, reconheceu.

De qualquer maneira, o ostracismo não é capaz de tirar o bom humor de Humberto Ramos. A dúvida se ele esconde uma careca com uma peruca era comum entre torcedores do Atlético-MG desde que foi vice-campeão brasileiro. O que, sem qualquer constrangimento, aproveitou para esclarecer para a Gazeta Esportiva com uma risada. “Isso é tudo papo furado!”, garantiu o vendedor de imóveis.

*especial para a Gazeta Esportiva

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