Gazeta Esportiva

São-paulino, autor de gol histórico corintiano reclama de falta de reconhecimento

Ex-jogador vive em Alfenas (MG), onde mantém uma escolinha de futebol e torce pelo São Paulo (foto: Divulgação)

Elivélton ficou surpreso quando ouviu “parabéns” ao receber uma ligação da Gazeta Esportiva na tarde desta quinta-feira. Afinal, o seu 44º aniversário de vida havia sido na semana passada. E, já há alguns anos, o dia 6 de agosto perdeu completamente o seu significado para o ex-jogador.

Foi nessa data que Elivélton marcou o histórico gol do título do Campeonato Paulista de 1995. Desacreditado, o então atacante do Corinthians substituiu Marques na decisão contra o Palmeiras (que vinha de marcantes vitórias sobre o rival) e, na prorrogação, acertou o ângulo com um chute de fora da área após receber passe de Tupãzinho. A bola estufou a rede do Santa Cruz, em Ribeirão Preto, e fechou o placar em 2 a 1 – antes, Nílson e Marcelinho Carioca haviam marcado.

O lance não foi suficiente para alongar a trajetória de Elivélton no Corinthians. Já no ano seguinte, ele acabou justamente no Palmeiras. E ainda rodou por Cruzeiro (pelo qual fez o gol do título da Copa Libertadores da América de 1997), Vitória, Internacional, Ponte Preta, São Caetano, Bahia, Uberlândia, Vitória-ES, União de Rondonópolis, Alfenense, Francana e Mixto.

Segundo o desabafo de Elivélton nesta entrevista, todos esses clubes foram mais gratos a ele do que o Corinthians. E nenhum deles ganhou o lugar do São Paulo em seu coração, time que o revelou e para o qual ele vai torcer bastante no Majestoso de domingo, no Morumbi.

Contratado por Alberto Dualib, o autor do gol do título de 1995 tem mágoa das diretorias corintianas (foto: Acervo/Gazeta Press)

Gazeta Esportiva: O seu gol contra o Palmeiras, na final do Campeonato Paulista de 1995, completa 20 anos hoje. É um dia especial?
Elivélton: Vinte anos? Para ser sincero, o Corinthians nunca ligou para mim. Desde que saí de lá, jamais me telefonaram ou manifestaram qualquer interesse. Houve aquela festa na arena, com um monte de gente…

GE: Mais de 100 ex-jogadores do Corinthians estiveram na festa de inauguração do estádio de Itaquera. Você não foi chamado mesmo?
Elivélton: Nem para isso me chamaram. Nunca fui lembrado pelo Corinthians. Essa é a verdade. Então, para mim, você me telefonar e dizer que faz 20 anos do título de 1995 é até uma surpresa. Se você não me falasse, eu nem saberia.

GE: Mas foi você quem marcou o gol do título.
Elivélton: Então… Tive uma passagem boa pelo Corinthians, e o reconhecimento foi esse aí. Se eu tivesse ido mal, os caras mandavam até me matar (risos).

GE: Essa mágoa é só com as diretorias que o Corinthians teve de 1995 até hoje ou também com a torcida?
Elivélton: Parte da torcida gosta de mim. Aonde vou, falam do gol de 1995. Só que é como eu disse: a diretoria nunca me ligou ou demonstrou qualquer interesse em mim. Faz 20 anos do título, não é? Então, faz 20 anos também que nunca me ligaram nem para falar um obrigado.

Faz 20 anos do título, não é? Então, faz 20 anos também que nunca me ligaram nem para falar um obrigado

GE: Por que você acha que foi criado esse distanciamento?
Elivélton: Não sei. Tive uma passagem bonita no Corinthians. É lógico que não fui o cara do time, mas honrei a camisa e fui titular por um bom tempo. Mesmo assim, o único clube que não me reconheceu foi o Corinthians. Infelizmente, o pessoal não me dá valor lá. Se eu fosse um cara sem vergonha… Isso dá mais ibope do que marcar gols. Mas também nem procuro entrar em detalhes. Eles seguem a vida deles, e eu, a minha. O mais importante é que não podem apagar a história que construí.

GE: Será que essa relação fria não começou quando você aceitou defender justamente o Palmeiras após sair do Corinthians?
Elivélton: Mas foram eles mesmos que não quiseram renovar contrato comigo. Aí, tive a oportunidade de jogar no rival. Da mesma forma que honrei a camisa do Corinthians, fiz isso pelo Palmeiras. É profissionalismo. Você não pode ligar uma coisa com a outra. O Edílson também jogou pelo Palmeiras e pelo Corinthians, não foi? Ele pode ter sido mais importante do que eu para o Corinthians, mas isso não muda nada.

Elivélton foi defender o Palmeiras com o também ex-são-paulino Cafu logo após sair do Corinthians (foto: Acervo/Gazeta Press)

GE: E o seu relacionamento com os seus ex-companheiros de Corinthians? Também foi abalado pelo tempo?
Elivélton: Hoje em dia, só mantenho contato com o Vítor. Quando marcam alguns jogos beneficentes, também encontro o Marcelinho Carioca. Mas a relação com eles todos sempre foi ótima. Graças a Deus, nunca tive problema de inimizade. Inclusive, fomos campeões em 1995 porque tínhamos um grupo forte e unido. O Marcelinho foi o cara, o top, mas depois dele éramos só gente trabalhadora que ia para o pau, sem frescura.

GE: O fato de você não se sentir valorizado pelo que fez em 1995 muda a importância daquele gol para a sua vida?
Elivélton: Aquele gol representa muito. Foi um marco na minha carreira, um divisor de águas. Eu estava voltando do Japão sem muito crédito. A mídia mesmo falava que eu não era mais o mesmo jogador, essa frescuiarada toda. Mas marquei o gol do título. Isso fez com que os olhos se voltassem para mim novamente.

GE: Posso escrever que o gol de 1995 foi o mais importante da sua carreira?
Elivélton: Não. O mais importante foi o do título da Libertadores de 1997, pelo Cruzeiro. É um torneio mais significativo.

GE: Você passou por muitos clubes. Acha que é mais lembrado como um ex-jogador do Cruzeiro por causa daquele gol?
Elivélton: Tenho maior identificação com o São Paulo. Foi o clube em que comecei, que me levou à Seleção Brasileira, que me proporcionou o bicampeonato da Libertadores. Quando o pessoal fala do Elivélton, o Elivélton do São Paulo é o mais lembrado.

GE: E o São Paulo te mostra o reconhecimento que você não tem por parte do Corinthians?
Elivélton: Sim, nossa! Eu é que estou devendo para o São Paulo. Eles me ligavam direto para prestar homenagens. Como ainda estava jogando, nunca conseguia comparecer nas datas em que marcavam. Mas fiquei sabendo que estão entregando medalhas e camisas no Morumbi, e falaram que logo vão me chamar para receber. Também estive recentemente no Cruzeiro, na festa de despedida do Alex, e ganhei uma medalha muito bonita. Os outros clubes estão sempre me convidando.

Revelado pelo São Paulo, Elivélton não tem dúvidas sobre a sua torcida no clássico de domingo (foto: Acervo/Gazeta Press)

GE: E agora, que parou de jogar, você tem mais tempo para receber essas homenagens? Como está a sua vida hoje?
Elivélton: Estou morando em Alfenas, na luta. Tenho uma academia, um campo de futebol society que alugo. Também damos aulas para crianças de seis a 14 anos. Estou tentando passar para eles um pouquinho do que aprendi em tanto tempo de futebol.

GE: Em todo esse tempo, quais outros clubes te marcaram além do São Paulo e do Cruzeiro?
Elivélton: O Inter foi muito importante para mim. Joguei dois anos lá e não fui campeão, mas tive uma passagem marcante. Também falo da Ponte Preta porque atuei em uma posição que não era a minha, a ala, e fui eleito um dos dez melhores laterais do Brasil na época. E o São Paulo…

GE: É o clube do seu coração?
Elivélton: Sim. Desde criança, tenho uma admiração muito grande pelo São Paulo. Foi o time de coração desde essa época.

Desde criança, tenho uma admiração muito grande pelo São Paulo. Foi o time de coração desde essa época

GE: Você ainda gosta de acompanhar o São Paulo como torcedor?
Elivélton: Vejo quando dá. O nível do futebol paulista caiu demais do meu tempo para cá. Assistindo a essa turma aí, vejo que ainda dava para eu jogar (risos). Fico até com muita vontade de estar em campo. Perdemos o respeito porque existem muitos jogadores que não honram a camisa do São Paulo.

GE: Mas você vai abrir uma exceção para eles e assistir ao clássico de domingo, entre São Paulo e Corinthians? Ficará com o coração dividido na semana em que o seu gol de 1995 completa 20 anos?
Elivélton: Vou assistir, sim. Mas por que time você acha que vou torcer? São Paulo, lógico (risos)!

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