Médium que viu ossada na Fazendinha sente carga negativa em Itaquera - Gazeta Esportiva
Médium que viu ossada na Fazendinha sente carga negativa em Itaquera

Médium que viu ossada na Fazendinha sente carga negativa em Itaquera

Gazeta Esportiva

Por Helder Júnior

06/05/2016 às 10:29 • Atualizado: 06/05/2016 às 12:11

São Paulo, SP

Roberio de Ogum (São Jorge, no sincretismo) foi protagonista na lenda do sapo do Parque São Jorge (foto: divulgação)
Roberio de Ogum (São Jorge, no sincretismo) foi protagonista no caso do sapo do Parque São Jorge (foto: divulgação)


O Corinthians já se cansou de engolir sapos em Itaquera. O quinto deles foi na quarta-feira, com o empate por 2 a 2 com o uruguaio Nacional-URU e a consequente eliminação na Copa Libertadores da América – somando-se às indigestas quedas em casa diante de Palmeiras (Campeonato Paulista), Guaraní-PAR (Libertadores), Santos (Copa do Brasil) e Grêmio Osasco Audax (Paulista).

Experiente em assuntos místicos relacionados ao Corinthians, o médium Roberio de Ogum não se surpreende com os torcedores que falam sobre a existência de uma maldição no campo semeado na Zona Leste de São Paulo. Ele esteve ali durante a construção do estádio em que a Seleção Brasileira abriu a Copa do Mundo de 2014 – encerrada de forma trágica para o time nacional – e afirmou ter sentido más vibrações.

“Se você pegar uma entrevista que dei para a televisão antes de o estádio ficar pronto, perceberá que falei de uma carga pesada ali dentro, não bem de uma maldição”, precisou Roberio, com uma voz bastante serena, assim que atendeu ao telefonema da Gazeta Esportiva. De fato, o famoso vidente mencionou até a presença de “espíritos sem luz e obsessores, que tiveram mortes fora dos seus carmas, provocadas por suicídio e coisas assim” após pisar em Itaquera. Disse que estava assustado com as revelações do “Senhor Ogum” – ou o padroeiro corintiano São Jorge, de acordo com o sincretismo religioso.

Não foi a primeira vez em que Roberio se mostrou desconfortável em uma casa do Corinthians. Décadas atrás, em 1977, o médium acreditou ter desempenhado um papel decisivo para que a equipe findasse um tabu de quase 23 anos sem uma conquista expressiva. Ele se tornou protagonista no lendário episódio em que um sapo teria sido desenterrado do gramado do Parque São Jorge, a Fazendinha, dias antes de Basílio marcar o histórico gol do título do Campeonato Paulista daquela temporada, no Morumbi.

Presidente Vicente Matheus chegou até o vidente com a ajuda do programa Mesa Redonda (foto: acervo/Gazeta Press)
Presidente Vicente Matheus chegou até o vidente com a ajuda do programa Mesa Redonda (foto: acervo/Gazeta Press)


Um dos primeiros que propagaram a existência do animal foi Jaú, zagueiro do Corinthians entre 1932 e 1938, que virou pai de santo ao encerrar a carreira esportiva e acabou até acusado daquele mau agouro. Conta-se que o sapo fora encontrado por acaso em um treinamento de 1968 e chutado pelos goleiros Diogo e Lula – ambos caíram em desgraça. O bicho sob o campo, portanto, seria uma das razões para a longa estiagem de títulos no Parque São Jorge.

Na lembrança de Roberio de Ogum, a sua caça ao sapo se deu com incentivo de José Italiano, cronista do programa Mesa Redonda, da TV Gazeta, que o recomendou para o então presidente corintiano Vicente Matheus. O médium relata que também auxiliava o treinador Oswaldo Brandão, espírita kardecista, na época abalado pelo câncer cerebral do filho Márcio. “Aí, o Italianinho falou de mim para o Matheus. Almocei com ele, e, à noite, fomos fazer o trabalho no Parque São Jorge. Desenterrei o sapo (perto de um dos gols). Não era um sapo, na verdade. Era uma ossada. Quem criou essa história de sapo foi o Matheus”, comentou.

Vicente Matheus preferiu alegar à imprensa que não acharam “nem osso de galinha” debaixo do gramado, apesar de a história ainda emocionar a sua viúva, Marlene, também ex-presidente do Corinthians. “Reagimos normalmente àquilo. Não tinha sido enterrado por alguém. Foi feito um transporte”, minimizou Roberio, ciente de que nem todos aceitaram tão bem o seu trabalho. O católico Dom Paulo Evaristo Arns chegou a ameaçar trocar o Corinthians pelo rival Palmeiras em seu coração se os rituais fossem adiante e ainda se satisfez porque o padre Santo Granzotto, amigo e colaborador, benzera a Fazendinha.




Seja como for, o Corinthians foi campeão paulista em 1977. Brandão sonhou que Basílio faria o gol do título – Roberio de Ogum garante ter sido ao menos coautor daquela previsão, em uma conversa com o técnico –, e a Ponte Preta acabou derrotada por 1 a 0 no Morumbi. Em Itaquera, ao contrário, o tabu persiste atualmente. “Mas a carga negativa não vai morar ali dentro para sempre e destruir tudo, como acontecia até 1977. Quando enfrentamos uma energia desse tipo, fica muito mais fácil de tirar”, assegurou o médium.

Os efeitos da carga negativa, contudo, podem ser tão ou mais drásticos do que o do mais odioso dos sapos. Para Roberio, o acidente que fez duas vítimas fatais quando Itaquera ainda estava em obras, as investigações em relação ao pagamento de propinas para a viabilização da construção, o desabamento de parte do teto do setor oeste, a demora para comercializar os direitos de nome do local e agora a série de eliminações do Corinthians estão ligadas ao que ele pressentiu na Zona Leste paulistana. “Tudo influencia. Tudo, tudo, tudo”, advertiu.

Roberio de Ogum aproveitou o assunto para divulgar mais algumas de suas predições. “O Corinthians não estava sentindo tanto essa força negativa em seu estádio por causa do Tite, da sua paz de espírito, do seu astral. Os jogadores viviam do talento espiritual do Tite. Só que ele será o novo técnico da Seleção Brasileira. Com toda a certeza. O Tite vai disputar a Copa do Mundo pelo Brasil. Não tenha dúvidas”, cravou o médium, para quem essa visão é justamente o motivo dos recentes fracassos corintianos. “Quando outra força nos chama – a Seleção, no caso do Tite –, ficamos muito mexidos. Quando o Tite, que está em um momento de muita reflexão e agonia por esse iminente chamado, cai, o time cai junto. Veja que o Corinthians começou bem o ano. Aí, quando vai decidir mesmo, não consegue. A força negativa de Itaquera passa a dominar. E já falei que nenhum time brasileiro ganhará a Libertadores neste ano. Nenhum”, emendou.

Em 2001, as galinhas d'angola de Roberio teriam sido decisivas para o time jogar bem (foto: Marcelo Ferrelli/Gazeta Press)
Em 2001, as galinhas d'angola de Roberio teriam sido decisivas para o time jogar bem (foto: Marcelo Ferrelli/Gazeta Press)


Roberio confia que o ex-presidente Andrés Sanchez, ainda ativo no clube, representaria a outra válvula de escape para a equipe de Itaquera. Desde que não precisasse dividir as suas atenções com o mandato de deputado federal. “O Corinthians tem um problema muito forte com a sua diretoria. Quando o Andrés se candidatou à presidência, o time estava para cair, e ele foi à minha casa em Alphaville. Do meu sofá, ouviu que faria história lá dentro. Por telefone, naquele jogo contra o Grêmio, falei que o rebaixamento não importava”, recordou. “Mas o carma foi abandonado e deu lugar a toda essa coisa política de que o Corinthians não necessita. O Andrés é um talismã e deve retomar o comando do clube, sem atrair essas negatividades do lado político. É uma carga muito pesada.”

Roberio de Ogum era quem parecia mais leve ao narrar o que já vivenciou no futebol. Em determinado momento, o vidente se entusiasmou e rememorou espontaneamente a sua longa parceria com o técnico Vanderlei Luxemburgo – a quem recomendou os supersticiosos meiões brancos do Palmeiras campeão paulista de 1993 e a inusitada criação de dezenas de galinhas d’angola no Parque São Jorge para o Corinthians sair da zona de rebaixamento e alcançar o título estadual em 2001. “Naquele ano, o Luxemburgo chegou com o joelho quebrado, assumindo o time em penúltimo lugar, e terminou lá em cima”, orgulhou-se, sem disposição para entrar em detalhes sobre as aves.

Hoje, aos 61 anos, Roberio está afastado do esporte. Explica que até foi procurado por alguns clubes de futebol, mas só pretende voltar à ativa quando sentir sintonia com algum treinador. “Cheguei à idade de fazer o que gosto”, sorriu o torcedor do Santos, com a calma de quem tem acompanhado o futebol pela televisão, bem longe de cargas negativas como a que vê em Itaquera. “O Corinthians não é bom para decidir no seu estádio. O que não quer dizer que nunca será campeão ali”, positivou finalmente o médium da ossada da Fazendinha.

A fé sempre acompanhou a Fiel, já carente de conquistas em jogos decisivos em Itaquera (foto: Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians)
A fé sempre acompanhou a Fiel, já carente de alegrias em jogos decisivos em Itaquera (foto: Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians)

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