Em meio ao momento de euforia e assimilação dos torcedores no Pacaembu, o escanteio foi cobrado e Nilton cabeceou firme. O goleiro do Corinthians só olhou e a bola explodiu no travessão antes de sair pela linha de fundo.
Em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva, o autor do lance ofuscado, mas não menos perigoso contou os bastidores de um dos confrontos mais marcantes da história recente do futebol brasileiro.
Se eu tivesse feito o gol, Nossa Senhora... Eu acho que eu seria tão odiado por alguns corintianos (risos). Tenho muitos amigos corintianos e o pessoal fica até brincando: ‘Nossa amizade ia acabar naquele momento, nem ia ligar mais para você, ia tirar da agenda’.
Bem-humorado e em quarentena na Capital Paulista, Nilton afirmou que viu ali sua primeira grande oportunidade de ser campeão da Libertadores escorregar pelos dedos. Mais tarde, ele pararia junto com o Internacional em uma semifinal.
“Quando vi o Paulinho cabecear e nossa luta indo por água abaixo foi traumatizante. É um jogo que você não esquece. Eu demorei um tempinho para poder assimilar e entender que a gente tinha sido eliminado jogando tão bem”.
O QUE DIZER SOBRE DIEGO SOUZA?
Eu queria matar o Diego no sonho, pelo telefone, quando estava com ele...(risos) Parceiro meu.
Apesar de brincar com o ex-companheiro, Nilton reconhece que talvez tomasse a mesma decisão na hora de concluir o fatídico lance para os vascaínos.
“A gente fala que daria cavada, tirada, mas só vai saber quem estava ali. Se eu fosse o Diego, eu ia manter a tirada, porque aconteceu comigo no Mineirão, um Cruzeiro e Atlético, dei uma arrancada do meio campo até a entrada da área, Ronaldinho me acompanhando, eu poderia ter dado uma tirada e eu acabei finalizando, preferi finalizar, e o Vitor defendeu com os pés. É um peso muito grande na hora”.
Eu posso garantir que foi mérito do Cássio, porque o Cássio pegou na ponta da unha, fez uma armadilha para o Diego bater naquele canto e estava preparado para quilo. Na sequência, mandei a bola no travessão e falei: ‘A bola não vai entrar hoje’. Cara, poderia ter um pênalti, que o Cássio ia pegar naquela noite.
Indiretamente, Alessandro é um dos protagonistas de toda essa história, afinal, foi a partir de um erro do lateral que tudo isso aconteceu. E Nilton também aproveitou a amizade com o ex-capitão do Timão para revelar uma conversa mais íntima.
“O Alessandro é meu parceiro e hoje eu falo para ele: ‘Você entregou o bicho para o Cássio, né?’. E ele diz: ‘A minha alma saiu do meu corpo’”
“Ia acabar com a carreira dele. Depois você vê ele levantando a taça, aquele peso. Muito legal”.
RECONHECIMENTO DE TITE
Nilton tinha 25 anos quando teve de absorver a eliminação. Antes, em 2004, ele havia trabalho com Tite no próprio Corinthians. À época, ainda era só uma promessa em transição entre a base e o profissional.
A relação com o atual técnico da Seleção Brasileira e o desempenho no Pacaembu ocasionaram uma cena ainda no gramado, logo após o apito final naquela quarta-feira.
Quando acabou, o Tite entrou em campo e veio na minha direção. Achei que ele ia falar com os jogadores do Corinthians para comemorar, mas ele veio em mim e disse: ‘Garoto, você jogou muito’. Eu falei: ‘Obrigado e parabéns pela vitória’. Ele respondeu: ‘Pode ficar tranquilo, porque o campeão era para sair desse jogo’. Eu disse que torceria para o Corinthians ser mesmo, porque assim teríamos saído para o campeão. E olha que tinha o Santos do Neymar, p... time.
A maior lamentação, no entanto, talvez esteja ligada ao primeiro duelo, em São Januário, quando as equipes alvinegras ficaram no 0 a 0 em um jogo debaixo de muita chuva.
“O jogo de ida estava a coisa mais linda, lotado. Anularam aquele gol do Alecsandro, falaram que ele estava impedindo por um pé, mas fizeram aquela linha na diagonal, não é possível (risos). O campo estava um mangue”.
De qualquer maneira, Nilton evita reclamar. Afinal, foram três títulos Brasileiros na carreira, além de estaduais e Copa do Brasil. O carinho recebido pela passagem no Corinthians também é motivo de orgulho para o volante, hoje sem clube desde a saída do CSA.
“O pessoal sempre lembra e isso tem 11 anos, cara. Para você ver que eu deixei uma boa impressão”.