Patrocinadores dos Jogos Olímpicos enfrentam posição incômoda - Gazeta Esportiva
Patrocinadores dos Jogos Olímpicos enfrentam posição incômoda

Patrocinadores dos Jogos Olímpicos enfrentam posição incômoda

Gazeta Esportiva

Por AFP

01/06/2021 às 10:29

São Paulo, SP

Os Jogos Olímpicos de Tóquio colocam os patrocinadores japoneses sob pressão, em face de uma opinião pública local bastante relutante devido à pandemia de covid-19, embora esperem aproveitar o evento para uma grande exposição na mídia.

Quase 60 patrocinadores locais (incluindo Asics, Canon ou Fujitsu) injetaram 3,3 bilhões de dólares, um valor sem precedentes nos Jogos Olímpicos. Entre os grandes patrocinadores, comprometidos para várias edições, estão as gigantes japonesas Toyota, Panasonic e Bridgestone.

Todos acompanham a evolução da situação e a grande maioria está à espera dos acontecimentos.

"Parte da frustração da população é dirigida aos atletas, o que nos entristece como patrocinador (...) Sinceramente, nos perguntamos todos os dias o que devemos fazer", admitiu no mês passado Jun Nagata, diretor de comunicação da Toyota.

Pela primeira vez, um patrocinador oficial das Olimpíadas, o jornal japonês Asahi, pediu na semana passada o cancelamento do evento devido à ameaça persistente da covid-19 no Japão, onde a taxa de vacinação ainda é muito baixa.

O grande jornal de esquerda japonês também denunciou o "caráter egoísta" do Comitê Olímpico Internacional (COI), que parece firmemente determinado a organizar os Jogos, apesar dos temores da população local.

Alguns executivos de grandes empresas japonesas não associadas ao evento também se posicionaram: manter as Olimpíadas seria "uma missão suicida", considerou o presidente fundador da Rakuten, Hiroshi Mikitani.

Apoiar abertamente os Jogos é "muito difícil" para os patrocinadores japoneses, constata Norm O'Reilly, diretor do International Institute for Sport Business & Leadership da Universidade de Guelph, Canadá. "Eu os aconselharia a manter o foco no apoio aos atletas", disse ele à AFP.

Depois de renunciar à presença de público estrangeiro em março, os organizadores dos Jogos Olímpicos de Tóquio (23 de julho a 8 de agosto) ainda não se pronunciaram este mês sobre os espectadores residentes no Japão. As opções prováveis são que o evento seja a portas fechadas ou com um limite reduzido da capacidade.

Essa questão deve aumentar ainda mais o déficit orçamentário para os Jogos. O impacto deveria ser "muito limitado" para os patrocinadores principais, que pelo menos contam com a exposição que obteriam durante o evento para bilhões de telespectadores por meio da televisão e streaming, de acordo com O'Reilly.

"Na maioria dos países, as pessoas estão esperando desesperadamente pelo fim da pandemia e um retorno a uma certa vida normal, então olhando por esse ângulo eu acho que o interesse (pelas Olimpíadas) será muito alto e é isso que os patrocinadores desejam", estima.

Para Taisuke Matsumoto, advogado esportivo e professor da Universidade Waseda de Tóquio, os patrocinadores japoneses menores seriam "os mais afetados" se o evento for a portas fechadas ou em condições muito restritas.

No Japão, "a distribuição de ingressos grátis é uma ferramenta muito eficaz para patrocinadores nas relações públicas" com seus clientes e com colaboradores profissionais, explica à AFP.

As empresas cujo patrocínio olímpico se limita aos Jogos de Tóquio quase não têm conseguido "realizar suas atividades promocionais" vinculadas ao evento, acrescenta Matsumoto.

Uma mudança de posição dos patrocinadores locais para se opor às Olimpíadas é improvável, enfatiza, porém.

"Acho que o caso Asahi é uma exceção. Publicou seu editorial como órgão de imprensa e não como patrocinador oficial" das Olimpíadas.

Traços culturais japoneses, como preocupação com a "harmonia" e a moderação, também significam que patrocinadores locais não devem se opor individualmente às Olimpíadas, de acordo com Matsumoto.

"Acho que os patrocinadores ainda estão se perguntando como reconhecer a covid-19 e, ao mesmo tempo, comunicar histórias esportivas inspiradoras", diz John Davis, consultor de esportes e estratégia de marca, questionado pela AFP.

"Não é uma fórmula fácil de encontrar", admite.

Conteúdo Patrocinado