Críticas ao presidente de Tóquio-2020 continuam apesar de desculpas - Gazeta Esportiva
Críticas ao presidente de Tóquio-2020 continuam apesar de desculpas

Críticas ao presidente de Tóquio-2020 continuam apesar de desculpas

Gazeta Esportiva

Por AFP

05/02/2021 às 11:36

São Paulo, SP

As críticas continuaram nesta sexta-feira após as palavras sexistas pronunciadas pelo presidente do comitê organizador dos Jogos Olímpicos de Tóquio, Yoshiro Mori, que se desculpou na véspera, mas descartou uma possível renúncia.

Na quarta-feira, o ex-primeiro-ministro do Japão (2000-2001) de 83 anos reclamou que "os conselhos de administração com muitas mulheres levam muito tempo".

"Se você aumenta o número de membros executivos femininos, e se seu tempo de palavra não estiver limitado em certa medida, terão dificuldade para terminar, o que é irritante", declarou, segundo o jornal Asahi.

Na quinta-feira, Mori se desculpou durante uma entrevista coletiva na qual se posicionou na defensiva, retirando suas palavras enquanto explicava que não falava "frequentemente com mulheres nos últimos tempos".

Mas suas desculpas não diminuíram a ira de alguns líderes políticos e esportivos, bem como de atletas e voluntários empenhados na preparação dos Jogos.

"Fiquei chocada, porque palavras como essas não deveriam ser permitidas", disse nesta sexta a governadora de Tóquio, Yuriko Koike, citada pela agência Kyodo.

"A missão da cidade e do comitê organizador é preparar Jogos seguros e protegidos, e estamos enfrentando um problema sério", lamentou Koike, uma das poucas mulheres no primeiro plano da política no Japão.

"Se ele acredita que retirar suas declarações é o suficiente, ele não se preocupa com as pessoas", estimou a representante comunista no Parlamento Chizuko Takahashi por meio do Twitter.



O presidente do Comitê Olímpico Japonês, Yasuhiro Yamashita, considerou os comentários de Mori "inapropriados" e "contrários ao espírito dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos", embora não tenha feito referência à renúncia, segundo a mídia local.

"É inútil retirar palavras que já foram ditas", tuitou a jogadora de futebol Shiho Shimoyamada, primeira atleta profissional assumidamente gay no Japão, acrescentando: "A mesma coisa acontecerá novamente se não admitir seus preconceitos e não tomar medidas para remediar".

"Não quero falar muito porque isso pode me afetar moralmente", reagiu a medalhista olímpica de natação Satomi Suzuki. "(Suas palavras) me pareceram bastante deploráveis e me irritaram", disse, de acordo com a mídia local.

Diferentes petições foram lançadas na quinta-feira na plataforma Change.org. Uma delas, que pede medidas para evitar que tal incidente se repita, tinha mais de 57 mil assinaturas nesta sexta.

Mas a indignação se espalhou além das fronteiras japonesas. A ex-jogadora canadense de hóquei Hayley Wickenheiser, membro da Comissão de Atletas do Comitê Olímpico Internacional, anunciou seu desejo de "dizer duas coisas" a Mori.

"Nos vemos em Tóquio! #Oldboysclub", alertou no Twitter.

"Uma medalha de ouro no sexismo", escreveu a ONG Human Rights Watch em seu site, lembrando que o comitê organizador tem um "papel importante na defesa da igualdade de gênero".

Segundo a mídia japonesa, a prefeitura de Tóquio recebeu reclamações de voluntários dos Jogos, adiados um ano por conta da pandemia e que, a princípio, serão disputados em menos de seis meses.

Ouvir essas palavras "me desencorajou muito", confessou um voluntário de 54 anos ao jornal Mainichi, afirmando que não havia sido convencido pelas desculpas de Mori.

A polêmica representa um novo obstáculo aos organizadores dos Jogos, enquanto mais de 80% da população japonesa se opõe à sua realização no próximo verão (hemisfério norte), por questões sanitárias, segundo várias pesquisas.

Mori é conhecido pelas gafes que cometeu quando era primeiro-ministro. Esta semana provocou outra polêmica ao declarar que os Jogos de Tóquio serão celebrados "independente do que aconteça" com a evolução da pandemia no mundo.

O Japão ocupa o 121º lugar entre 153 países no ranking de igualdade entre homens e mulheres, e o 131º na proporção de mulheres em postos de direção nas empresas, política e governo.

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