Sobrevivente de um acidente aéreo, Bobby Charlton deu o único título mundial inglês
Em fevereiro de 1958, após a partida de volta pelas quartas de finais da Liga dos Campeões da Europa contra o Estrela Vermelha, em Belgrado, o elenco do Manchester United voltava para a Inglaterra com o objetivo de comemorar a classificação às semifinais. No entanto, falhas nos motores do avião causaram um grave acidente, que matou oito jogadores daquela brilhante equipe. Entre os sobreviventes estava um promissor Robert Charlton, habilidoso atacante e futura estrela da seleção.
O Renascimento
Depois de três meses, em uma surpreendente recuperação, "Bobby", como era apelidado, retornou ao Manchester United e conquistou um lugar na seleção inglesa que disputou as Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1958. Mas a principal missão da estrela solitária ainda estava por vir: a reconstrução do gigante Manchester United. A primeira grande conquista do time de Old Trafford, que ganhou a alcunha de Teatro dos Sonhos pelo jogador, ocorreu em 1963, quando os Diabos Vermelhos reencontraram a glória na Copa da Inglaterra.
De novo no cenário inglês, Manchester United e Bobby Charlton por pouco não venceram a Liga dos Campeões da Europa em 1966. Em uma equipe que contava com o escocês Denis Law e o norte-irlandês George Best, que formaram a Santíssima Trindade com o craque inglês, os Diabos Vermelhos pararam nas semifinais, eliminados pelo Benfica de Eusébio. Mas, para felicidade dos ingleses, a revanche viria meses depois.
Inventores do futebol conquistam o mundo
Principal nome da Inglaterra na Copa do Mundo de 1966, Bobby Charlton convivia com a pressão de conquistar o maior torneio futebolístico do planeta à frente da sua torcida. Depois de seguidos fracassos, o English Team apostava no torneio para finalmente levantar o troféu. Mas, logo na estreia, um tropeço: empate sem gols diante do Uruguai, campeão em 1930 e 1950.
Na segunda partida, a Inglaterra passou pelo México com tranquilidade, muito em parte pelo talento de Bobby. Autor do gol que abriu o placar da vitória por 2 a 0, o craque do Manchester United reacendeu a confiança do povo inglês sobre sua seleção no torneio. Assim, os donos da casa repetiram o placar diante da França, rival histórica, e terminaram na primeira colocação da chave 1.
A grande partida de Charlton viria nas semifinais diante de Portugal. Após vitória sobre a Argentina por 1 a 0 nas quartas, a Inglaterra enfrentava o temido time luso. Ainda convivendo com as lembranças da eliminação na Copa dos Campeões para o Benfica de Eusébio, o atacante inglês chamou a responsabilidade e conquistou a revanche ao marcar dois gols, que sacramentaram o triunfo por 2 a 1 e colocaram a equipe da casa na decisão.
Estádio de Wembley lotado. Torcida confiante no título. O clima era totalmente favorável aos ingleses naquele 30 de julho de 1966. Em uma partida cercada de polêmicas e emoção, o English Team derrotou a Alemanha Ocidental pelo placar de 4 a 2, após a prorrogação, e finalmente conquistou o mundo. Na final, Charlton acabou ofuscado por Geoff Hurst, autor de três gols, inclusive os dois do tempo-extra. Mas as exibições de Bobby não foram esquecidas e, no final do ano, o jogador acabou agraciado com a Bola de Ouro da revista France Football, prêmio direcionado para o melhor jogador europeu.
Glória europeia e título real
Um dos protagonistas do título da Copa do Mundo de 1966, Bobby Charlton conquistou, enfim, a Liga dos Campeões em 1968, quando o Manchester United encontrou novamente o algoz Benfica na final. Diferentemente do fracasso de 1966, às vésperas do Mundial, os Diabos Vermelhos superaram os portugueses e venceram o troféu mais cobiçado da Europa após uma convincente vitória por 4 a 1. 'Vingado' pela segunda vez, o atacante anotou dois gols na partida decisiva. Até os dias atuais, Sir Charlton ostenta a artilharia do clube com 249 gols.
Embora eliminado na Copa de 1970 com o English Team, o já experiente atleta entrou na fase de abandonar os gramados, encerrando sua trajetória pelo time nacional com 49 tentos assinalados, marca superada somente por Wayne Rooney, que possui 53. Após deixar o Manchester em 1973 e iniciar a carreira de jogador-técnico no modesto Preston, da segunda divisão, o protagonista do Mundial de 1966 terminou a temporada de 1974 com um prêmio notável dentro da Grã-Bretanha.
Pelos serviços prestados ao Manchester United e, principalmente, à seleção inglesa, a Rainha Elizabeth II, em 1974, condecorou Bobby Charlton com o título de Sir, honraria que o tornou parte da Ordem do Império Britânico. A honraria tornou-se ainda maior 20 anos depois, quando a Família Real ordenou o ex-jogador como Cavaleiro.
*Narração: Michelle Giannella. Edição de áudio: Bruna Matos.