O nome do tetra em 1994

“Quando eu nasci, Papai do céu apontou o dedo e disse: “esse é o cara’”. Foi desse modo nada modesto que, quando vestia a camisa do Fluminense, Romário se definiu. Um jogador provocador, que não fugia de polêmicas e gostava de ser desafiado. Grande condutor do Brasil no tetracampeonato, em 1994, o Baixinho se tornou um dos maiores atacantes da história da Seleção, com participações em duas Copas do Mundo (também jogou em 1990), dois títulos da Copa América e um da Copa das Confederações. Apesar de conhecido como Baixinho, mostrou-se um gigante com a bola nos pés.

Nascido no dia 29 de janeiro de 1966, no Rio de Janeiro, Romário já se destacava nas peladas organizadas pelo seu pai, Seu Edevair. Sua superioridade sobre os demais, inclusive os mais velhos, o levou ao Olaria com apenas 13 anos de idade. Mas seu futebol não ficaria por muito tempo restrito à Rua Bariri e, em 1981, transferiu-se ao Vasco da Gama, clube no qual estrearia profissionalmente quatro anos mais tarde.

Aos 20 anos, o jovem atacante já tinha uma grande inspiração ao seu lado no campo: Roberto Dinamite, o maior artilheiro da história do Cruz-maltino. Mesmo com o consagrado jogador como parceiro, foi Romário quem terminou o Campeonato Carioca de 1986 como artilheiro. Seu sucesso meteórico rendeu, no ano seguinte, a primeira convocação para a Seleção Brasileira, no dia 23 de maio, na cidade de Dublin, em um amistoso contra a Irlanda.

Convocado pelo técnico Carlos Alberto Silva, o atacante começou no banco de reservas e entrou em campo no lugar de Mirandinha, ex-Palmeiras. Naquela ocasião, Romário passou em branco, e o Brasil acabou derrotado por 1 a 0. Ainda em 1987, fez seu primeiro gol representando o País, em uma vitória por 3 a 2 sobre a Finlândia. Outros 70 ainda estavam por vir.

Antes de disputar sua primeira Copa do Mundo, Romário teve pela frente as Olímpiadas de Seul, competição na qual anotou seis gols, conquistou a medalha de prata e impulsionou sua transferência para o futebol europeu. Com a camisa do PSV Eindhoven, clube holandês que detinha o título de campeão do continente na época, o atacante alcançou uma média de gols superior a um por partida. A maioria deles de dentro da grande área ou em arrancadas impressionantes do meio de campo.

Diferente de algumas estrelas do futebol mundial, seu futebol não se escondia com a camisa da Seleção e, em 1989, ajudou o Brasil a conquistar a Copa América, troféu que não era levantado havia 40 anos. Naquela competição, o Baixinho foi o responsável pelo gol do título, na final contra o Uruguai, e também por uma “caneta” desconcertante em ninguém menos que Diego Armando Maradona, no clássico contra a Argentina.

Após ser peça fundamental nas Eliminatórias para a Copa de 1990, Romário não conseguiu mostrar o seu futebol na competição disputada na Itália. Ainda sem ter se recuperado plenamente de uma fratura no pé, o atleta jogou apenas a partida contra a Escócia, passando em branco, e depois assistiu do banco de reservas à eliminação contra os argentinos, nas oitavas de final.

O fracasso no Mundial não abalou Romário, que seguiu balançando as redes pelo continente europeu e conseguiu transferência para o Barcelona. A adaptação do jogador em terras catalãs não foi fácil, mas, como de costume, terminou a temporada como artilheiro de seu time e com mais um troféu nas mãos, desta vez do Campeonato Espanhol da temporada 1993/1994.

No mesmo ano, foi convocado para a Seleção com a intenção de salvar a equipe, que ia mal nas Eliminatórias para a Copa de 1994. Não decepcionou, e marcou duas vezes na partida decisiva contra o Uruguai. O palco não poderia ser melhor: um Maracanã lotado, que viu aquele camisa 11 garantir a presença de seu País no torneio que futuramente teria os Estados Unidos como sede e o Brasil como campeão.

Tetracampeão mundial

Em 20 de junho de 1994, Romário começa a escrever uma das mais brilhantes participações de um jogador em uma Copa do Mundo. Na cidade de São Francisco, o Baixinho abre a trajetória vitoriosa do Brasil, em um 2 a 0 sobre a Rússia. Ao lado de Bebeto, ele formou uma das maiores duplas de ataque que já vestiram a camisa amarelinha, anotou cinco tentos durante a competição, sendo também o responsável pela histórica esquivada na cobrança de falta de Branco contra a Holanda, que terminou nas redes do goleiro De Goey na semifinal, com um gol aos 35 minutos do segundo tempo.

Na decisão contra a Itália, porém, o atacante não balançou as redes, pelo menos não enquanto a bola rolava. Após os 90 minutos e a prorrogação, quando o placar se manteve zerado, o atacante foi um dos brasileiros que converteram sua cobrança na disputa de penalidades máximas. Ao fim do duelo no Estádio Rose Bowl, em Los Angeles, o Brasil sagrava-se tetracampeão mundial, feito inédito para uma seleção nacional até aquele momento.

Romário saía do torneio como o grande herói, com um troféu que não era erguido há 24 anos, e com a certeza de ser o Melhor Jogador do Mundo, título concedido pela Fifa pela primeira vez a um brasileiro naquela temporada.

Mesmo no auge de sua carreira, Romário permaneceu no Barcelona apenas até 1995, quando foi surpreendentemente contratado pelo Flamengo, maior rival do Vasco da Gama. Após uma passagem sem o sucesso esperado pela Gávea, o jogador retornou à

Espanha, desta vez para defender a camisa do Valência. Em 1997, conquistou mais uma Copa América. No mesmo ano, a Copa das Confederações também entrou no currículo do atleta, em uma parceria com Ronaldo, cunhada de Rô-Rô.

No ano seguinte, de Copa do Mundo, o Baixinho retornou para sua terra natal, novamente para defender o Rubro-negro, porém, uma lesão fez com que Zagallo, treinador da Seleção, cortasse o artilheiro do torneio da França. Substituído pelo volante Emerson, Romário voltou aos gramados enquanto o Mundial era disputado, e, como sempre, eternizou seu nome nos placares pelo País.

Depois do Flamengo, o atacante retornou ao Vasco e, depois, atuou com a camisa de outro grande do Rio de Janeiro, o Fluminense. Apesar dos 36 anos da idade, o seu nome ainda era associado à Seleção e, antes da disputa da Copa do Mundo de 2002, uma pressão nacional foi feita por sua convocação. Porém, o técnico Luiz Felipe Scolari não cedeu e o pentacampeonato foi conquistado sem a presença do Baixinho. O atleta até tinha sido capitão do Brasil no primeiro jogo de Felipão, mas perdeu a confiança do técnico com um pedido de dispensa de Copa América.

Milésimo gol e fim de carreira

Depois de mais uma ausência na competição máxima do futebol, o carioca voltou novamente ao Vasco da Gama e, entre 2005 e 2007, anotou 65 gols em 80 partidas disputadas pela equipe. No dia 20 de maio de 2007, em São Januário, diante do Sport, Romário chegou ao seu milésimo gol na carreira, em uma cobrança de pênalti contra o goleiro Magrão. Apesar de expressivo, o número é contestado por muitos por conta dos critérios – que inclui estatísticas anteriores à sua profissionalização – que o jogador adotou. Antes de atingir a marca, o atleta já havia se aventurado no futebol do Qatar, Estados Unidos e Austrália.

Aos 43 anos de idade, Romário entrou em campo por uma partida oficial pela última vez, com a camisa do América do Rio de Janeiro, como forma de homenagear seu falecido pai, torcedor da equipe rubra.

Sua despedida da Seleção havia acontecido em 2005, quando foi realizado um amistoso no Estádio do Pacaembu, contra a Guatemala. A partida terminou com vitória por 3 a 0 para o Brasil, com o Baixinho deixando sua marca. A homenagem da CBF até hoje é contestada por ter sido realizada em São Paulo, e não no Rio de Janeiro, cidade que sempre foi a verdadeira ‘praia’ do lendário atacante.

Fora dos gramados, Romário foi eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro em 2010 e se tornou um dos maiores críticos da organização da Copa do Mundo no Brasil, além de fazer também diversos protestos contra a direção da Confederação Brasileira de Futebol. Atualmente Senador da República, o Baixinho também se destacou por presidir a CPI do Futebol, que investigou escândalos de corrupção envolvendo a CBF e o Comitê Organizador da Copa do Mundo no Brasil.

*Narração: Marina Panizza. Edição de áudio: Bruna Matos