FRANZ BECKENBAUER - Gazeta Esportiva

Franz Beckenbauer, o maior líbero da história do futebol mundial

No começo da década de 60, um jovem e talentoso meio-campista do Munique 1860 abandonou a equipe por ter sido agredido por um jogador do time profissional, antes de se profissionalizar. Alguns anos depois este mesmo jovem comandou a equipe do Bayern, maior rival do Munique 1860, em quatro conquistas nacionais e se transformou no maior jogador da história do futebol alemão. O seu nome: Franz Beckenbauer.

Com um estilo inconfundível dentro de campo, misturando habilidade e elegância, Beckenbauer começou a jogar um pouco mais recuado a partir do início da década de 70. Assim, tornou-se o maior líbero da história do futebol mundial. A inteligência com que atuava e a liderança demonstrada nos gramados chamaram a atenção da imprensa, que o apelidou de Kaiser (Imperador, em alemão) para ser reverenciado pelo mundo da bola.

No final da carreira foi aos EUA ensinar os truques da bola. Jogou no Cosmos, de Nova York, junto com outros grandes nomes, como Pelé. Mesmo depois de ter pendurado as chuteiras continua a trabalhar com futebol. Quando foi escolhido para dirigir a seleção alemã, sofreu grande pressão da imprensa, que questionava se uma pessoa sem diploma de treinador poderia dirigir a seleção. O Kaiser suportou tudo isso da mesma forma como atuava em campo: com segurança. O resultado foi a conquista da Copa do Mundo de 1990.

O símbolo da nova Alemanha

 

Em setembro de 1945, a Alemanha vivia um momento de reconstrução. Muitas cidades estavam destruídas pela Segunda Guerra, o que abriu uma grande ferida na alma do povo alemão, humilhado pela derrota. O país queria apagar a imagem trágica de morte e destruição. Os Germânicos precisavam de um ídolo que os representasse.

Beckenbauer representou como ninguém a geração alemã do pós-guerra. Determinado e competente, transformou o Bayern de Munique, então uma equipe com pouca tradição, inclusive na Alemanha, numa máquina de conquistar títulos. Foram quatro conquistas nacionais, quatro Copas da Alemanha e o histórico tricampeonato europeu.

O reconhecimento pelo trabalho aconteceu em 1972, quando o Kaiser recebeu a Bola de Ouro como o melhor jogador da Europa. Dois anos depois, Beckenbauer foi campeão mundial de clubes com o Bayern, na final contra o Cruzeiro.

Beckenbauer jogou nos Bávaros até 1977, quando se transferiu para o NY Cosmos. Em quatro anos de EUA, o Kaiser faturou três títulos nacionais. Afinal, um time com Beckenbauer, Pelé, Carlos Alberto Torres e outras estrelas mundiais era praticamente imbatível.

Em 1982, a saudade de casa apertou e Beckenbauer voltou para a Alemanha. Contratado pelo Hamburgo, jogou poucas partidas, pois passou a maior parte do campeonato machucado. Mesmo assim ajudou a equipe faturar o título daquele ano.

 

Imperador das Copas

 

A imagem de Beckenbauer jogando grande parte da semifinal da Copa do México, em 1970, com o ombro fraturado e imobilizado, por muitos anos foi o retrato da dedicação do craque pela seleção e pelo esporte.

A partida é considerada a mais emocionante da história das Copas. Disputada no Estádio Azteca em 17 de junho, diante de mais de 80 mil pessoas, definiria o adversário da Seleção Brasileira na final do Mundial. Os italianos levaram a melhor.

A primeira participação foi em 1966, na Inglaterra, quando a seleção local venceu por 4 a 2 em uma final até hoje contestada. Beckenbauer, então com 21 anos, marcou quatro gols e foi o vice artilheiro da Alemanha na competição. Só contra a Suíça, na estreia do Mundial, foram dois gols. Os outros foram marcados contra o Uruguai, nas quartas-de-final, e contra a União Soviética, na semifinal.

O sucesso veio em 1974. Jogando em casa, a Alemanha tinha a obrigação de vencer. No caminho, porém, estava uma das maiores seleções de todos os tempos: a Holanda de Cruyff, apelidada de Laranja Mecânica. Junto com Berti Vogts, o Kaiser conseguiu parar um dos mais rápidos ataques da história e ajudou a equipe a levantar o seu segundo título mundial. A despedida aconteceu 12 anos depois, numa partida contra a França. No total, foram 103 partidas com o uniforme da Alemanha, a maioria como capitão e 14 gols.

 

Um técnico de classe

 

Beckenbauer enfrentou um grave problema ao assumir o comando da seleção da Alemanha em 1º de agosto de 1984, substituindo Jupp Derwall. Amante do futebol solto e técnico, convocou jogadores que estavam na “lista negra” da Federação Alemã e foi criticado por não ter diploma, algo inconcebível no país na época.

O tempo provou que o Kaiser estava certo, mas antes ele passou por maus momentos. Em 1985, por exemplo, quase perdeu o cargo, quando a Alemanha foi derrotada por três partidas consecutivas.

A classificação para o Mundial do México preservou o cargo de Beckenbauer. A pressão aumentou, mas o Kaiser manteve a classe – e deu a resposta dentro do campo, levando a Alemanha a duas finais consecutivas de Copa do Mundo.

Após a conquista do Mundial, Beckenbauer deixou a seleção, dizendo estar cansado. Mas a carreira de técnico continuou. Dirigiu por algum tempo o Olympique de Marselha e comandou o Bayern interinamente na final da Copa da Uefa de 1996, contra o Bordeaux. Para variar, conquistou o título.

 

Futebol na veia

 

Beckenbauer nunca se afastou do futebol. Quando não estava jogando ou dirigindo uma equipe, o Kaiser tratou de ficar sempre perto do esporte. No começo da década de 80, logo após abandonar o futebol, Beckenbauer conseguiu uma coluna no jornal Blind. A presença dele como comentarista elevou as vendas do jornal de uma maneira assustadora.

Sabendo disso, o Cosmos contratou o craque para representá-lo na Europa. Beckenbauer ficou nessa função até assumir o cargo de treinador da seleção.

Faltava apenas presidir a equipe que o levou à fama. No dia 17 de novembro de 1994, foi eleito presidente do Bayern, com 2.912 votos. A gestão do Kaiser na presidência do time da Baviera seguiu o amor do jogador pelo futebol.

“Títulos não são mais a prioridade do Bayern. O nosso objetivo é apresentar um futebol atraente. O que mais interessa é que os torcedores voltem para suas casas rindo e contentes”

Presidente do Comitê Organizador em 2006

Em 2006, Beckenbauer foi peça fundamental para ajudar a Alemanha a sediar a Copa do Mundo daquele ano, superando inclusive a África do Sul, favorito a ser o país sede na época. Com o prestígio, ajudou os alemães a organizar o torneio e foi o Presidente do Comitê Organizador.

*Narração: Michelle Gianella. Edição de áudio: Bruna Matos