Professor refuta elitização e sugere a deputado esquecer pay-per-view
Por Olga Bagatini, especial para a GE.net
20/08/2015 às 09:00 • Atualizado: 20/08/2015 às 10:51
São Paulo, SP
"É transformar o estádio em um espaço chique e confortável, colocar seguranças, jogar a miséria para o lado e afastar dos olhos... Na TV, pobre só cabe na novela, nessa democracia maravilhosa onde um cara da favela janta na zona sul do Rio, ou em programas apelativos de final de tarde. É a mesma lógica de exclusão social que este senhor está defendendo", comentou Campos.
Vinte anos após a guerra entre são-paulinos e palmeirenses que matou o tricolor Márcio Gasparin da Silva no Pacaembu, o professor da USP observa a violência ainda presente mesmo nos modernos palcos erguidos para a Copa do Mundo do ano passado. Ela vai muito além dos torcedores organizados, banidos por Capez em 1995, e pode ser observada até em tiros de meta.
"O chamado torcedor comum destila seus preconceitos que também são violentos. Uma modinha dos estádios, sobretudo em setores onde não estão as organizadas, é chamar o goleiro de bicha quando ele vai bater o tiro de meta", disse Campos. "Capez deveria assistir a mais partidas de futebol no estádio, e não pelo pay-per-view. Assim, ele vai poder entender a lógica da torcida e dos torcedores e tentar combater o racismo, a homofobia e o machismo dentro do futebol."
Além dos preconceitos, processou-se uma exclusão social dos setores menos privilegiados da sociedade. As medidas defendidas por Capez, como a criação de espaços de entretenimento privados nos arredores dos estádios, a enumeração dos assentos e o consequente encarecimento dos ingressos acaba afastando os torcedores desprovidos e reduzindo os fãs do esporte a meros consumidores. Flávio se mostra veementemente avesso a essa "elitização".
"Legal que ele está sendo honesto, mas sou completamente contrário a essas medidas. São ideias que fazem parte da longa história do Brasil que criminaliza a população carente e desprovida. Você olha para o povo brasileiro e vê esses caras rebeldes, incultos e incivilizados. Legal mesmo é a classe média. O deputado pega o principal esporte do país, um dos últimos elementos da cultura popular brasileira que era acessível à classe trabalhadora e aos subalternos, e tem coragem de dizer que o caminho para acabar com a violência é elitizar e restringir isso à classe média", completou o professor.