Desde pequenininho - Gazeta Esportiva
Bruno Ceccon
São Paulo, SP
09/13/2017 09:00:23
 

Nélio Moura teve seu primeiro contato com o atletismo no Estádio Ícaro de Castro Mello e frequenta o Complexo Desportivo Constâncio Vaz Guimarães diariamente há mais de 30 anos. Mentor da campeã olímpica Maurren Maggi, o treinador confia na possibilidade de provar a importância de manter o espaço durante o processo de concessão.

Atualmente, nove empresas trabalham na elaboração de estudos voltados à gestão do Complexo. Antes de lançar o edital definitivo, além de analisar as propostas de cada interessado, o governo estadual realizará audiências públicas, momento ideal para os profissionais ligados ao atletismo se posicionarem, de acordo com Nélio Moura.

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“É importante que nossa comunidade se organize para participar. Se a gente não aparecer, vão falar: ‘O atletismo não está muito preocupado com isso’. Agora, se a comunidade mostrar a importância desse equipamento, acho que vamos conseguir sensibilizar o governo para que seja revitalizado”, disse o técnico, especialista em saltos horizontais.

A Gazeta Esportiva visitou o Estádio Ícaro de Castro Mello na semana passada. A reforma mais recente, concluída em 2011, não impediu a rápida deterioração da pista de atletismo, irregular e com algumas bolhas. No momento, é inviável promover competições no espaço.

“Temos condições razoáveis de treino, porque, infelizmente, a última reforma não deu muito certo. A pista não está no seu melhor estado e, realmente, precisaria de uma reforma completa. O problema maior são as bolhas. O segundo setor do salto em altura, por exemplo, está inutilizável”, explicou o técnico.

Nélio Moura ainda lembra da “pista vermelhinha” que viu na primeira vez em que pisou no Estádio Ícaro de Castro Mello, aos 13 anos de idade. Ele treinou no local durante sua breve trajetória como atleta e, desde 1984, contratado pela Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude (SELJ) estadual, trabalha diariamente no espaço.

Durante a longa estadia no Complexo, Nélio Moura treinou alguns dos principais saltadores brasileiros, como Maurren Maggi, que morou no local de 1994 a 2000 e foi campeã olímpica em Pequim 2008. Jadel Gregório, vice mundial em Osaka 2007, também passou pelo espaço. Assim como o panamenho Irving Saladino, mais um medalhista de ouro nos Jogos da China.

“Lembro bem do pessoal da época em que comecei, mas, que permanece aqui até hoje, sou o único”, atestou Nélio Moura, para quem o antigo estádio é um templo. “É assim que a comunidade toda vê o Ibirapuera. Quando a gente pensa em atletismo em São Paulo, sem dúvida pensa nessa pista”, comentou.

Ao lado da esposa Tânia, Nélio comanda os integrantes do Centro de Excelência, o antigo Projeto Futuro, programa do governo estadual que revelou no atletismo Maurren e Jadel. Caio Cezar Fernandes, ouro nas Olimpíadas da Juventude de Cingapura 2010, é um dos atletas que treinam diariamente no Ibirapuera.

Com a concessão do espaço à iniciativa privada, válida por 30 anos, a promessa é a construção de um “complexo esportivo-cultural multiúso next generation”. A SELJ não garante a permanência da pista de atletismo, tratando afirmações sobre construções, demolições ou modernizações como “mera hipótese”.

“Emocionalmente, todo o mundo sentiria muito. Eu, particularmente, estou ligado a isso aqui há mais de 40 anos”, disse Nélio Moura, o mais antigo frequentador do Ibirapuera, após pensar por quatro segundos quando questionado sobre a possibilidade de perder a pista.

“Temos pouquíssimos lugares em São Paulo nos quais é possível fazer um trabalho de desenvolvimento de talentos. Embora as condições da pista agora não sejam as ideais, o melhor deles é aqui, e os resultados obtidos nos últimos 15, 20 anos mostram isso”, prosseguiu o mentor de Maurren Maggi.

Treinada por Nélio Moura, Maurren Maggi viveu no Complexo do Ibirapuera entre 1994 e 2000 (Foto: Acervo/Gazeta Press)

Nélio Moura soube do processo de concessão por meio da imprensa no último mês de julho e ficou preocupado com os boatos sobre a possibilidade de perder o Ícaro de Castro Mello. O técnico, mais tranquilo após ouvir as informações oficiais da SELJ, confia em um desfecho positivo, desde que a comunidade do atletismo se una.

“A princípio, não vejo problemas em haver a concessão. É uma maneira de ter investimento no Conjunto inteiro e precisamos disso, mas de uma maneira que continuemos contando com esse equipamento. Nossa preocupação é manter a pista e precisamos mostrar por que isso é importante nas audiências públicas”, reiterou.



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