Tristeza que vira saudade - Gazeta Esportiva
Bruno Ceccon
São Paulo, SP
04/18/2019 08:00:17
 

Os irmãos Denis Henrique, Felipe Augusto e Dener Matheus quebraram a rotina nos últimos dias. Filhos de Dener, vitimado por um acidente automobilístico há 25 anos, os herdeiros não costumam falar sobre o pai, mas aceitaram fazê-lo em uma série de entrevistas como forma de manter viva a memória do genial meia-atacante.

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“Na verdade, em casa, a gente nem toca no assunto. O assunto Dener não existe. É bem pouco”, explica Denis Henrique. “Tantos anos depois, estamos aqui dando entrevistas. A gente faz só para a memória dele ficar viva, mas não é algo que agrade”, acrescenta o primogênito, que atendeu vários veículos de imprensa nos últimos dias.

A convite da Gazeta Esportiva, Denis Henrique e Dener Matheus visitaram o Estádio do Canindé, palco dos principais feitos do meia-atacante. Hoje, os filhos já falam com desenvoltura sobre o pai, algo que simplesmente não conseguiam fazer, mas a data da morte ainda é vivida com pesar.

Efeitos do tempo
“Com os anos, vai calejando um pouco. De tristeza, vira saudade”, define Denis. “O dia 19 de abril era uma data em que ficávamos cada um no seu quarto. A gente nem se via, porque era certo que, se olhasse um para o outro, já começaria a chorar. Sei que ele está em lugar melhor do que nós, mas é bem difícil”, completa Dener Matheus.

Luciana Gabino tinha apenas 21 anos no momento em que perdeu o parceiro e teve dificuldades financeiras para criar seus três pequenos filhos. Para finalmente ser indenizada pelo Vasco da Gama, a família de Dener precisou esperar mais de duas décadas.

“O orgulho da minha mãe é imenso. Alguns amigos do meu pai também ajudaram muito na nossa criação, como o Edinho (filho de Pelé). O leite e a fralda de muitos anos, quem deu foi ele. Depois, ganhamos o processo contra o Vasco e deu uma clareada quanto a dinheiro”, explica Dener Matheus, dono da marca de roupas DNR.

Horas antes de morrer, o meia-atacante revelado pela Portuguesa acertou sua transferência ao alemão Stuttgart por US$ 3 milhões, algo que mudaria a realidade financeira da família. Satisfeito com a vida que leva, o consultor bancário Denis Henrique evita especular sobre o que poderia ter ocorrido de diferente.

Estabilidade
“A gente já passou necessidade, mas, hoje, estamos bem. Nunca sonhei em ter muito e a vida que levo já é bacana. Eu queria mesmo é ter meu pai aqui, independente de ele ser jogador de futebol ou não. Sinto a falta do pai e não do Dener atleta. Minha mãe fala que eu saía com ele, mas não lembro”, contou.

Falecido com apenas 23 anos de idade, Dener viveu menos do que Denis Henrique (29), Felipe Augusto (27) e Dener Matheus (25). Os filhos, pequenos na época do acidente, não têm lembranças da convivência com pai, mas contaram uma história inusitada sobre o meia-atacante para encerrar o encontro com a Gazeta Esportiva.

“É engraçado, porque meu pai era são-paulino, mas sonhava em atuar pelo Corinthians. Meu bisavô tinha um xodó com ele, o único neto homem, e queria que jogasse no Corinthians. Então, para homenageá-lo, meu pai queria fazer isso”, contou o são-paulino Dener Matheus, ouvido atentamente por Denis Henrique, seu irmão corintiano.



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