Amor na dor - Gazeta Esportiva
Bruno Ceccon
São Paulo, SP
04/17/2019 08:00:48
 

Principal parceiro de Dener na Portuguesa, Tico visitou o Estádio do Canindé ao lado dos filhos do antigo meia-atacante a convite da Gazeta Esportiva. Visto como um pai pelos herdeiros do amigo, Paulo Rogério Alves, mais conhecido pelo apelido, ficou emocionado ao recordar seu último encontro com o craque, vitimado por um acidente há 25 anos.

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Tico e Dener percorreram juntos o caminho da categoria dente de leite até o time profissional da Associação Portuguesa de Desportos. Enquanto brigavam para alcançar o sonho de vingar no futebol, os jovens de origem humilde já planejavam a convivência entre os herdeiros.

“Eu me sinto como parte da família e eles são como meus filhos”, disse Tico, ouvido atentamente pelo primogênito Denis Henrique e pelo caçula Dener Matheus – Felipe Augusto, o do meio, não pôde comparecer ao encontro. “Tudo que fiz foi de coração, por amá-los e por amar meu parceiro, amigo e irmão que se foi”, completou.

Amor recíproco
Denis Henrique, o filho mais velho de Dener com Luciana Gabino, tinha apenas quatro anos quando o craque sofreu um acidente automobilístico nas imediações da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. Os três herdeiros, portanto, não guardam recordações da convivência com o pai.

“Muitos Dias dos Pais, passamos com o Tico. Ás vezes, ouvir um conselho, conversar. Minha mãe fez o papel de pai e mãe na nossa criação, mas sentíamos falta de ter uma pessoa para falar alguma coisa de homem. E o Tico, muitas vezes, foi esse pai que a gente não teve”, descreveu Dener Matheus, 25 anos, dono da marca de roupas DNR.

Diferentemente do irmão, que prefere não saber detalhes das histórias do pai, o consultor bancário Denis Henrique, de 29 anos, já conversou longamente com Tico sobre o assunto. Ao comentar a relação com o antigo parceiro de Dener, o primogênito sublinha que a aproximação ocorreu de maneira espontânea.

“Eu não tenho nem palavras para falar do Tico. Não é porque foi amigo do meu pai que teria que ser amigo nosso. É uma coisa natural mesmo, que a gente foi construindo. Quando pensamos nessa figura de homem que não tivemos com nosso pai, vemos o Tico”, contou.

Encontro derradeiro
Nos primeiros meses após a morte de Dener, profundamente abalado, Tico sentia impotência por não poder ajudar os garotos. Vinte e cinco anos depois, ele ainda fica emocionado ao lembrar o último contato com o atleta que, emprestado ao Vasco da Gama, esteve no Canindé na noite anterior ao acidente para acertar sua ida ao Stuttgart.

“Acabou o treino da Portuguesa e nos vimos no estacionamento. O Dener estava descendo da sala da presidência e contou que havia sido vendido. Conversamos e ele foi embora. Quando vi a luz do freio do Mitsubishi acendendo, pensei: ‘Ele não veio de avião?’. Balancei a cabeça e achei estranho. Até fico com a voz embargada”, lembrou.

Após defender clubes como São Paulo, Grêmio e Coritiba, Tico encerrou a carreira em 2004. De volta ao Canindé, estádio em que jogou ao lado de Dener, o ex-atleta acredita que o amigo acabou prejudicado por pessoas interessadas em tirar proveito de seu sucesso, inclusive outros atletas.

“Já vi casos de o Dener estar quietinho em casa e alguém ligar do nada para falar: ‘Vamos ali fazer não sei o quê’. Havia pessoas que ele achava que eram amigas, mas, na verdade, não eram. Quando você tem alguém para puxar a orelha, ajuda. Ele poderia ter tido o ponto crucial na família, mas, infelizmente, faleceu sem saber disso”, disse Tico.



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