Palmeirense de coração - Gazeta Esportiva
São Paulo, SP
Bruno Ceccon
01/02/2018 09:00:53
 

Afastado dos gramados por mais de um ano, Anderson Silva da Paixão teve sua promissora carreira repentinamente ameaçada por um problema cardíaco. O goleiro palmeirense, devidamente recuperado e apelidado de Dida por Dudu, hoje busca o título inédito da Copa São Paulo.

Então com 18 anos, convocado pela Seleção Brasileira sub-20, Anderson vivia o ponto alto de sua curta trajetória. Em julho de 2016, no dia seguinte a uma partida pelo Campeonato Paulista, o goleiro acordou com dores no peito em um domingo de folga e, removido para o hospital, teve alterações cardíacas detectadas por exames.

“Havia sido convocado pela Seleção no mês anterior e não tinha como esperar um problema desses. É uma coisa para a qual é impossível se preparar. Pode acontecer com qualquer um e aconteceu comigo. Pensei: ‘Justo agora, que estou vivendo uma fase boa’”, contou Anderson à Gazeta Esportiva.

Afetado por uma miocardite, o goleiro ouviu dos médicos que precisaria ficar três meses afastado de suas atividades, prazo que aumentou e passou a preocupar o jovem goleiro. Seis meses após sentir dores no peito, ele foi recomendado a abandonar a carreira.

“Passei por novos exames, uma alteração foi detectada e falaram que eu teria que parar. Foi aí que o Palmeiras buscou outros médicos”, explicou Anderson, rememorando o caso com serenidade. “Então, disseram que eu poderia voltar, sim, mas fazendo outros exames mais detalhados”, completou.

Anderson voltou no Campeonato Paulista Sub-20, conquistado pelo Palmeiras (Foto: Fabio Menotti/Divulgação)

Com seu goleiro ameaçado de encerrar a carreira, o Palmeiras procurou uma maneira alternativa de mantê-lo envolvido no cotidiano do clube. Anderson passou por estágios em diferentes áreas, como análise de desempenho e preparação física. Atuou como palestrante em projetos sociais e foi até supervisor da delegação em um torneio sub-13.

“Depois disso, passei a ver as diferentes áreas do clube com outros olhos. Você pensa: ‘Ah, é assim que funciona tal coisa aqui dentro’. É algo muito importante para o atleta e acho que, se todos pudessem viver isso, seria bacana. No campeonato sub-13, ganhamos o título. A viagem foi engraçada e muito legal”, descreveu.

A sonhada permissão para retomar os treinamentos veio nove meses depois do fatídico domingo de folga. Durante o processo, ele foi acompanhado por médicos, preparadores e fisiologistas do Palmeiras. A psicóloga e assistentes sociais do clube também participaram.

No último dia 26 de agosto, data de fundação do Palmeiras, Anderson Silva da Paixão foi relacionado para o confronto com o Atibaia, pelo Campeonato Paulista sub-20. No segundo tempo, ganhando por 3 a 0, o técnico Wesley Carvalho em sua última substituição promoveu o retorno do jogador após um ano e um mês de afastamento.

Atleta precisa fazer exames a cada seis meses (Foto: Fabio Menotti/Divulgação)

“Com certeza, foi o dia mais feliz da minha vida. Não sabia que voltaria naquele jogo. Ainda faltava uma substituição, mas, como goleiro nunca entra, pensei que continuaria no banco até o final. Na hora que entrei, todo o mundo que estava lá começou a bater palmas e fiquei bastante emocionado”, contou.

O goleiro vem trabalhando sem restrições desde então, inclusive com participação em alguns treinamentos da equipe profissional do Palmeiras na Academia de Futebol. Do capitão Dudu, ele ganhou o apelido de Dida, goleiro campeão por clubes como Cruzeiro, Corinthians e Milan, titular da Seleção na Copa do Mundo 2006.

“Os profissionais só me chamam de Dida. Vi pouco ele jogar, mas costumo assisti-lo bastante em vídeos. Acho que temos características semelhantes, como biotipo e envergadura. A carreira que ele teve, nem se compara. Se Deus quiser, posso tentar alguma coisa parecida”, vislumbrou.

A exemplo de Dida, Anderson é canhoto, mas tem habilidade com os pés e costuma treinar pênaltis – ocasionalmente, brinca até em cobranças de falta. Em 2018, com o empréstimo de Vinícius Silvestre à Ponte Preta, o jovem deve passar a frequentar a Academia de Futebol com maior assiduidade.

No começo da temporada, Anderson ‘Dida’ Silva tem a chance de mostrar serviço na Copa São Paulo, torneio jamais conquistado pelo Palmeiras. Às 21h30 (de Brasília) desta terça-feira, o time alviverde enfrenta o Luverdense, no Estádio Joaquinzão. Moto Club e Taubaté completam o grupo.

“Sempre tem uma pressão de o clube nunca ter vencido a Copa São Paulo, mas não jogamos pensando nisso”, disse Anderson, sem empolgação pelo recente título paulista sub-20. “Outros times também ganharam seus campeonatos estaduais e não podemos subestimar ninguém”, alertou o goleiro, palmeirense de coração.