No mapa do bicampeonato - Gazeta Esportiva
Bruno Ceccon
Nova Friburgo, RJ
05/23/2018 09:00:22
 

A Seleção Brasileira frequenta Teresópolis regularmente desde 1987, ano da inauguração da Granja Comary. A relação do time nacional com a região serrana do Rio de Janeiro, no entanto, é bem mais antiga e inclui o município vizinho de Nova Friburgo, que abrigou parte da preparação para a Copa do Mundo de 1962.

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Durante uma semana do mês de abril, a delegação ocupou o primeiro andar do Hotel Sans Souci, descrito pelo jornal A Gazeta Esportiva como “ponto de reunião dos desportistas e políticos do mais alto gabarito”. O zagueiro Bellini, capitão em 1958, foi o último a se reunir ao grupo, já que perdeu o ônibus em Itapira, sua cidade natal.

“Friburgo está em festa com a presença da comitiva da CBD (Confederação Brasileira de Desportos, antecessora da CBF). Os defensores nacionais, que chegaram em dois grupos, foram recebidos sob aplausos e foguetes”, noticiou o tradicional periódico esportivo.

Nova Friburgo recebeu a segunda parte do período de treinamentos da Seleção Brasileira, iniciado em Campos do Jordão. Isaac Cherman, jornalista escalado pela Gazeta Esportiva para cobrir a preparação, descreveu um “perfeito entendimento” entre o elenco e a imprensa na cidade.

“Embora alojados no mesmo hotel, fazendo as refeições lado a lado, os pedidos feitos pelos dirigentes nacionais têm sido atendidos em todos os pontos. Os jogadores não são molestados nas refeições e, nos treinos, só ficam em campo os fotógrafos. É um ambiente de compreensão e camaradagem”, relatou.

Então campeão do mundo, o Brasil realizou processo de treinamentos físicos, trabalhos com bola e avaliações médicas e psicológicas. Em Nova Friburgo, Mario Trigo, dentista da Seleção, constatou que Pelé e Nilton Santos tinham os dentes em melhor estado, enquanto Germano e Valdir eram os mais problemáticos.

Na época, o técnico Aymoré Moreira ainda não havia fechado a lista de convocados para a Copa do Mundo. Na cidade serrana, Julinho Botelho sentiu lesão e passou por tratamento especial com ondas curtas, calor úmido e compressas durante quatro horas diárias.

Passagem da Seleção pela cidade foi encurtada (Foto: Acervo/Gazeta Press)

Com o elenco ainda indefinido, os dois coletivos realizados no acanhado estádio do Fluminense de Friburgo foram fundamentais. No primeiro, o time amarelo, considerado titular, ganhou da equipe azul por 3 a 1. De acordo com A Gazeta Esportiva, Pelé brilhou.

“Pelé, o único que já tem seu lugar garantido na equipe principal do Brasil, encara com muita seriedade os treinamentos. A cada coletivo, produz mais e vai adquirindo aquela forma que o fez conhecido em todo o mundo. Enfim, o craque santista é rei em todos os lugares onde se apresenta”, noticiou.

No segundo coletivo, apesar da inspiração de Pelé, o time azul ganhou do amarelo por 3 a 1. “Friburgo vibrou todinha com o último treinamento dos brasileiros lá realizado. Houve, inclusive, além de recorde de renda, invasão de campo”, relatou A Gazeta Esportiva.

O dia do segundo coletivo da Seleção em Nova Friburgo foi tumultuado e desagradou Paulo Machado de Carvalho, chefe da delegação. Com o hotel invadido por políticos, torcedores e curiosos, os atletas precisaram se refugiar no segundo andar. Assim, a CBD resolveu antecipar o fim da estadia na cidade e o grupo seguiu para o Rio de Janeiro.

Na Copa do Mundo 1962, o time que passou uma semana em Nova Friburgo teve sucesso, apesar da lesão precoce de Pelé. Com Amarildo e Garrincha como protagonistas, a Seleção Brasileira conquistou o bicampeonato ao bater a Tchecoslováquia na decisão.



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