Relembrar é sofrer - Gazeta Esportiva
Bruno Ceccon
São Paulo, SP
10/05/2018 08:00:25
 

Com um elenco estrelado nas mãos, o técnico Luiz Felipe Scolari conseguiu formar praticamente dois times diferentes para brigar pelo Campeonato Brasileiro e pela Copa Libertadores. Enquanto o Palmeiras brilha com atletas badalados como Dudu, Felipe Melo e Miguel Borja, os irmãos Thiago e Danilo Galhardo diariamente relembram jogadores que a torcida gostaria de esquecer.

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Com a filosofia de falar “um pouco dos bons e muito dos ruins”, o perfil Joguei no Palmeiras já reuniu aproximadamente 14 mil seguidores no Twitter em pouco mais de um ano de atividade. Thiago resolveu criá-lo após ouvir um jovem torcedor classificar o lateral esquerdo Egídio no Allianz Parque como “o pior jogador que já usou a camisa do Palmeiras”.

“Só na lateral esquerda, já tivemos Misso, Márcio Careca, Valmir Desmaio, Marquinhos Caruaru e Rivaldo Genérico improvisado. Quando ouvi o garoto falar que o Egídio era o pior de todos, pensei no que poderia fazer para que os mais novos conhecessem alguns atletas que atuaram em um passado recente”, explicou o organizador de eventos de 34 anos, justificando o lema “relembrar é sofrer” do perfil.

Iniciado com caráter informativo, o Joguei no Palmeiras ganhou um viés de humor e, curiosamente, teve o goleiro Bruno, cria das categorias de base do clube, como um de seus primeiros seguidores. A foto do perfil é do ex-centroavante gremista Jardel, alguém que até tentou, mas não conseguiu efetivamente jogar no Palmeiras.

“Era meu sonho de menino ver o Jardel com a camisa do Palmeiras, porque eu não aguentava mais tomar gols dele. Quando vieram Felipão e Paulo Nunes, eu tinha certeza que o Jardel também chegaria. Anos depois, ele chegou, colocou o uniforme e foi anunciado, mas nunca entrou em campo por medidas judiciais. Foi uma passagem folclórica”, lembrou Thiago.

A pedido da Gazeta Esportiva, os irmãos Galhardo montaram uma seleção, integrada por feras como Felipe “Sleep” Menezes, Edmilson, o “Canhão do Pantanal”, Cristiano “Calça Jeans” e Max “Pedreiro”, sob o comando de Marcelo Vilar. O meia Rosembrick, carinhosamente chamado de “El Magro”, não foi convocado, mas está entre os preferidos da dupla.

Seleção montada por Thiago e Danilo Galhardo, administradores do irreverente Joguei no Palmeiras

“O palmeirense tem uma cultura de preservar e dar risada do que já passou. Enquanto o cara está jogando, é xingado e criticado. Mas, depois, o pessoal fala: ‘Até que eu gostava dele. Tinha raça’. Com o Wendel, por exemplo, não podemos nem brincar. O palmeirense cultiva um certo carinho pelos perebas que já passaram pelo clube. Vira ‘meu pereba de estimação’. É ruim, mas não pode ser criticado”, sorriu Thiago.

Muitos torcedores se habituaram a marcar o perfil para repercutir novos feitos de atletas que já passaram pelo Palmeiras, como um gol de Mazinho, o “Messi Black”, ou uma falha de Leandro Amaro na Série B do Campeonato Brasileiro – os dois, por sinal, ganharam o improvável título da Copa do Brasil 2012, testemunhado pelos irmãos Galhardo no Couto Pereira. Com o volante Wesley, porém, o clima não é amistoso.

“Pelo que vemos na página, o jogador que a galera tem mais bronca é o Wesley. Ele não era ruim tecnicamente, tínhamos muitos piores. Mas, pelo comportamento, é uma bronca eterna. A torcida gosta quando é expulso e adorou a recente caneta do Moisés”, disse Thiago, dono de uma peculiar coleção de camisas, com peças já vestidas por nomes como Gerley, Mozart e Jumar.

Rosembrick José Bezerra de Lira era, de fato, magro (Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press)

Aos olhos dos curadores do Joguei no Palmeiras, fica evidente a evolução vivida pelo clube desde 2015, ano marcado pelo título da Copa do Brasil sobre o Santos. “Falam que o Borja é grosso. Beleza! Então, fica com o Dinei Genérico, fica com o Max Pedreiro. Eram essas nossas esperanças no passado. Tem gente que reclama de barriga cheia”, opinou o chef Danilo Galhardo, de 29 anos.

Os irmãos já foram procurados por torcedores de outros clubes interessados em criar perfis semelhantes e costumam interagir com eles para lembrar atletas que deixaram o Palmeiras para brilhar com outras camisas. Frequentadores assíduos das partidas do time alviverde, Thiago e Danilo agora enfrentam dificuldades para alimentar a página diante do sucesso da estrelada equipe de Felipão.

“Para o perfil, é ruim, porque a gente tem menos matéria-prima para trabalhar. Brincamos bastante com o Jean, o que está deixando um pouco a desejar. Até pouco tempo atrás, era o Deyverson. Então, sempre vai ter aquele jogador que agrada menos. Mas, como torcedor, é muito bom. É a realização de um sonho, na verdade”, afirmou Thiago, disposto a deixar o sofrimento no passado.

 



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