Central do Palmeiras - Gazeta Esportiva
Bruno Ceccon
São Paulo, SP
08/26/2017 00:02:05
 

A esquina das ruas Carlos Facchina e Ferrucio Sandoli é, por obra do acaso, um reduto alviverde. No humilde bairro de Americanópolis, com vias batizadas em homenagem a célebres dirigentes do Palmeiras, torcedores costumam se juntar em clima festivo para acompanhar as principais partidas da agremiação que completa 103 anos neste sábado.

Mário Trajano e Ronaldo Gonzaga são vizinhos e, unidos pelo amor ao clube, passaram a organizar reuniões de torcedores. Ambos moram em casas de fachada alviverde na rua Carlos Facchina (pai de Delfino Facchina, um dos principais presidentes da história do clube), perto da esquina com a Ferrucio Sandoli, mais um antigo mandatário. Na comunidade, o bar local ficou conhecido como “Central do Palmeiras”.

“Quando tem jogo importante, a gente fecha a rua e faz a festa. É churrasco para todo mundo. Recebemos amigos de Santana, Osasco, Jandira, Itapevi… Às vezes, juntamos mais de 1.000 pessoas. É tudo misturado: tem são-paulino, santista. Graças a Deus, até hoje nunca deu briga”, jura Trajano, vestido com uma calça vinho à la Cuca e camisa branca do Palmeiras, acompanhado pelo filho Matheus, também uniformizado.

As ruas em homenagem aos antigos dirigentes do Palmeiras estão entre as avenidas Cupecê e Yervant Kissajikian, duas das principais vias de Americanópolis. O bairro fica a mais de 25 quilômetros do renovado Estádio Palestra Itália, com ingressos a preços impopulares e, desde o ano passado, restrição de locomoção nos dias de jogo.

As menções a clubes de futebol são comuns no bairro da zona sul, com pessoas uniformizadas e inscrições em muros. Da mesma forma que os palmeirenses têm seu reduto, os corintianos acompanham as partidas em outro ponto. Ricardo Cerino, porém, vive em território adversário e, diariamente, vê as paredes das casas vizinhas enfeitadas com desenhos da Mancha Alvi Verde.

“Já houve umas discussõezinhas bestas antes, mas aqui é tudo tranquilo. O Mário coloca ordem na casa e não tem bagunça, não. É tudo de boa”, descreveu, trajado com uma camisa do Corinthians. “Quando sai gol, eles gritam mesmo. Gol é gol, não tem jeito”, conformou-se o comerciante de 31 anos, trabalhando nos últimos ajustes de uma pizzaria prestes a ser inaugurada, com o toldo da entrada nas cores da bandeira italiana.

A maioria dos moradores não sabe que as ruas do bairro homenageiam célebres dirigentes do Palmeiras, com exceção de Mário Trajano. Proprietário de uma empresa de filtros de água, o empresário de 43 anos exibe orgulhosamente na sala de sua casa fotos com ídolos como Marcos, Arce, Alex e Galeano, além dos técnico Luiz Felipe Scolari e Vanderlei Luxemburgo, entre outros.

“Os nomes das ruas me motivaram a vir morar aqui”, contou Trajano, que teve o sonho de jogar futebol profissionalmente interrompido por uma lesão no joelho. “Nasci em 1974, ano em que ganhamos do Corinthians na final do Paulista. Meu afeto pelo Palmeiras é muito grande e procuro transmiti-lo ao (filho) Matheus. Sempre mostro fotos e jogos importantes e ele chega a chorar. Eu não aguento e choro junto”, disse, sorrindo.

Ronaldo Gonzaga é um dos anfitriões do reduto palmeirense em Americanópolis (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

Em uma manhã ensolarada em Americanópolis, os anfitriões fizeram questão de exibir uma das bandeiras de mastro que possuem, agitada com cuidado para não tocar no emaranhado de fios elétricos da rua. Para mostrar uma faixa que vai de um lado a outro da via, com a inscrição “Somos Verdes”, contaram com a boa vontade dos motoristas, muitos deles conhecidos.

Os criadores da Central do Palmeiras, repetidamente, convidaram a reportagem para acompanhar um dia de jogo na comunidade da Zona Sul, sem cobrança de ingresso nem restrições de locomoção. Mário Trajano estava ansioso pelo 103º aniversário do clube que ama, mas, a exemplo de muitos torcedores alviverdes, já começou a pensar em 2018.

“Quem é palmeirense está chateado, mas nossa esperança é o ano que vem. Nesse ano, não tem mais o que fazer. Não adianta falar que vai ganhar. Vai nada… Pelo que sei, o Cuca não fica no Palmeiras. Fizeram as coisas certas no começo, mas no final elas terminaram erradas. Que venha o ano que vem e que seja melhor do que 2017”, clamou.

 



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