Mina de ouro - Gazeta Esportiva
Marcelo Baseggio
Cotia, SP
08/22/2018 09:00:19
 

Ainda restam 19 rodadas a serem disputadas pelo São Paulo no Campeonato Brasileiro, contudo, a torcida não esconde a empolgação de, enfim, voltar a comemorar um título, fato que não acontece há seis anos. Caso a conquista se confirme, uma das marcas da campanha tricolor será o uso massivo dos jovens revelados pelas categorias de base, fato cada vez mais presente no trabalho do técnico Diego Aguirre.

Somente neste ano 17 “crias” de Cotia já atuaram no profissional. Algumas delas, inclusive, se firmando como titular. Éder Militão, por exemplo, era o dono da lateral direita até ser vendido para o Porto, rendendo R$ 17 milhões aos cofres tricolores. Há também outros nomes menos badalados, como Liziero, que hoje já é uma realidade no elenco e primeira opção em caso de ausência de Jucilei ou Hudson, pilares do time são-paulino.

Apesar dos bons resultados que o São Paulo vem conquistando com a ajuda das categorias de base, se engana quem pensa que a promoção desses jovens é algo simples de se fazer.

“O sub-20 tem uma particularidade. Diria que o desafio maior é nós do São Paulo achar o momento certo da transição. Achando esse momento certo da transição, fica mais tranquilo de esses meninos se firmarem no profissional”, disse o técnico do sub-20 tricolor, Orlando Ribeiro.

“Em alguns casos a gente consegue fazer isso, mas vou dizer que na grande maioria das vezes precisamos prepará-los para o que for necessário no momento. Precisamos deixar todos prontos para a oportunidade. Quando ela vai aparecer, às vezes, não temos como falar, pode ser por contusão, expulsão, ter uma falta no elenco. Então, ela não é muito elaborada. O menino tem que estar preparado”, completou.

Dos 17 atletas vindos da base utilizados nesta temporada, dez estrearam no time profissional em 2018: Liziero, Caíque, Paulinho Boia, Pedro Augusto, Bissoli, Paulo Henrique, Luan, Rony, Cipriano e Lucas Kal. Apesar das diferenças entre eles, não é difícil encontrar algo em comum: a vontade de vingar na equipe de cima e, posteriormente, quem sabe, retribuir ao clube tudo o que lhes foi dado ao longo dos anos. Lucas Moura e David Neres são dois casos de sucesso. Somente esses dois jogadores abasteceram o clube do Morumbi com aproximadamente R$ 160 milhões ao se transferirem para o futebol europeu. Atualmente, o primeiro defende o Tottenham, enquanto o segundo vem sendo um dos protagonistas do Ajax.

Nem mesmo a distância de 40 km entre os centros de treinamento do time profissional e das categorias de base é empecilho para a integração entre os atletas. Isso porque o São Paulo conta com um profissional fundamental para que esse processo seja bem-sucedido: André Jardine. O ex-treinador do sub-20 foi promovido neste ano ao corpo técnico profissional e é o braço direito de Diego Aguirre quando o uruguaio precisa de uma solução caseira para as carências de sua equipe.

“O André [Jardine] trabalhou aqui, nos ajuda lá em cima. Durante a semana temos alguns atletas que vão treinar com o profissional e depois retornam para treinar com a gente. Essa distância está sendo superada dessa maneira. Tem atletas que vão, treinam dez, 15 dias, depois voltam. Nós já tivemos aqui o Raí, o próprio Ricardo [Rocha], a gente está sempre em sintonia, sempre conversando. Tenho certeza que é por isso que está dando certo”, pontuou Orlando Ribeiro.

Luan, grata surpresa em meio à carência de volantes

O jovem Luan jamais esquecerá do primeiro chamado para compor o elenco profissional. Planejando comprar ingressos para assistir ao clássico contra o Corinthians, o volante foi pego de surpresa ao ficar sabendo que iria ser relacionado pelo técnico Diego Aguirre para o Majestoso, no Morumbi, logo após o Tricolor vencer o Flamengo em pleno Maracanã lotado e se fortalecer na disputa pela liderança do Campeonato Brasileiro.

Com apenas 19 anos, o promissor garoto vindo de Cotia recebeu a oportunidade graças à lesão de Jucilei, que teve de ficar de fora se recuperando de um estiramento no músculo adutor da coxa esquerda, e não a desperdiçou.

“Foi uma experiência incrível. Inclusive, eu conto em toda entrevista que estava querendo comprar ingresso para assistir ao jogo contra o Corinthians. De repente, recebo mensagem que era para eu treinar no dia seguinte na Barra Funda. Foi uma experiência incrível. Desde que pisei o pé na Barra Funda, procurei aprender o máximo possível e, graças a Deus, deu tudo certo, consegui jogar”, relembrou Luan.

Aos poucos, volante do São Paulo vai conquistando seu espaço entre os profissionais (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

Após a vitória sobre o Corinthians, o São Paulo perdeu para o Grêmio em Porto Alegre. No dia seguinte da derrota para o Tricolor gaúcho, Luan recebeu mais uma grande notícia. Sem poder contar com Jucilei, machucado, e Hudson, suspenso, coube a Diego Aguirre acionar novamente o jogador recém-promovido, que, contra o Cruzeiro, no Mineirão, reeditou a dupla de volantes de seus tempos de base.

“A gente era do mesmo quarto [na base], então, quando cheguei na Barra Funda, conversei com ele, ele me contou como foi a história dele. Nossa história foi bem parecida, porque ele recebeu uma oportunidade quando algum lateral-esquerdo machucou. Ele me contou como foi estrear, jogar… ele me passou um pouco da experiência, apesar de ele estar lá há pouco tempo”, prosseguiu Luan.

Embora tenha mostrado uma tranquilidade fora do comum para um menino de 19 anos em sua estreia como titular do time profissional, o volante são-paulino prefere dividir os méritos da excelente partida realizada contra os cruzeirenses. Desde os 11 anos no Tricolor, Luan não esconde de ninguém que o acompanhamento que teve em Cotia vem se mostrando bastante útil nessa fase derradeira de sua formação como atleta.

“Desde a base temos um acompanhamento psicológico, mas a gente já vai sabendo que temos que estar preparados, porque a qualquer momento podemos ser chamados para jogar no profissional. O Aguirre e os demais atletas sempre me passaram muita confiança, então houve um conjunto de coisas para que eu pudesse fazer um bom jogo”, concluiu.

Neste ano, time sub-20 do São Paulo já faturou a Copa do Brasil da categoria goleando o Corinthians na final por 4 a 0 (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

Líder do sub-20, Walce sonha com uma chance

Campeão da Copa do Brasil sub-20 em cima do Corinthians, Walce é um dos líderes do atual elenco do São Paulo. O zagueiro de 1,87m é referência entre os comandados de Orlando Ribeiro e, inclusive, já chegou a treinar com o profissional neste ano. A oportunidade para ser promovido definitivamente, contudo, ainda não veio.

“Participei de um treinamento, que foi o jogo-treino contra o São Bento. Joguei o segundo tempo, mas o Aguirre não estava lá, estavam o auxiliar dele e o André Jardine. Foi um momento em que eu pude mostrar por que estou trabalhando, por que estou aqui e onde quero chegar”, afirmou Walce, que junto com seus companheiros trabalha de segunda à sábado em Cotia e, eventualmente, folga aos domingos.

O mato-grossense Walce mira trilhar mesmo caminho de Rodrigo Caio (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

Apesar da expectativa de possivelmente ser um dos próximos a receber uma chamada do profissional, o zagueiro entende que, no seu caso, as coisas são um pouco mais complicadas por conta da posição em que atua. Ciente de que na função de defensor é necessário passar absoluta confiança, Walce se inspira em Rodrigo Caio para deixar as categorias de base para trás e trilhar trajetória parecida no São Paulo.

“Eu entendo que a parte dos zagueiros é um pouco mais difícil de subir e se firmar lá, mas não é algo específico. O Rodrigo Caio foi uma peça importante, porque o São Paulo estava precisando, e ele encaixou nos jogos. Levo como exemplo, porque são jogadores que estão jogando em alto nível, é algo que eu busco. Eles agregam muito, porque dão conselhos quando vamos treinar. Sei que é um pouco mais difícil, mas trabalhando é que se chega lá”, completou.