“A Libertadores é maior” - Gazeta Esportiva
Helder Júnior
São Paulo (SP)
10/17/2017 09:00:57
 

Quando conversou com a Gazeta Esportiva em dezembro de 2013, Tite ficou hesitante em se imaginar acima de Oswaldo Brandão, campeão paulista de 1977, como o maior técnico da história do Corinthians. Ele não tinha dúvidas, contudo, de que era ele quem estava no banco de reservas na conquista do título mais significativo do clube do Parque São Jorge.

“A Libertadores é maior”, declarou Tite, ao ouvir comparações entre a sua Copa Libertadores da América de 2012 e o Campeonato Paulista de 1977 de Brandão. Os dois torneios findaram grandes dramas corintianos – o de jamais ter vencido uma competição expressiva continental e o de passar quase 23 anos sem erguer um troféu importante.

Emerson Sheik assumiu o papel de Basílio na Copa Libertadores da América de 2012 (foto: Djalma Vassão/Gazeta Press)

Veja o trecho daquela entrevista em que o hoje técnico da Seleção Brasileira fala sobre 1977:

Gazeta Esportiva: Para alguns torcedores, o que separa o técnico campeão da Libertadores e do mundo do Oswaldo Brandão é apenas a quantidade de jogos no comando do Corinthians.
Tite: Qual é a diferente de jogos entre ele e eu? Ele tem uns 700, será? Bah! Não! Não dá para mim! Eu tenho uns 200. [Tite se despediu do Corinthians em 2016 com 378 jogos pelo clube.]

Gazeta Esportiva: O Brandão tem 435 jogos pelo Corinthians.
Tite: Dá para alcançá-lo, então?

Gazeta Esportiva: Com mais uma passagem sua pelo clube… Se bem que, com a iniciativa do Bom Senso FC de encurtar o calendário do futebol brasileiro, ficará difícil..
Tite: Vamos tirar esse Bom Senso daí, então [risos]!

Gazeta Esportiva: Você é muito ligado à história de técnicos vitoriosos no passado, como o Zagallo. O que sabe sobre o Brandão?
Tite: Sei que o campeonato de 1977, vencido por ele, foi um marco. Eu era garoto e acompanhei aquela campanha. Sabia da qualidade da Ponte Preta. Conheço bem a história porque aquele título transcendeu o Estado de São Paulo. No Rio Grande do Sul, eu pensava: “O Corinthians está há tanto tempo sem conquistas e ficou próximo disso agora!”. Aquilo foi um bum. Com um técnico gaúcho, então…

Gazeta Esportiva: A origem do Brandão foi um diferencial para você?
Tite: Porque o lado bairrista do gaúcho pesa em uma hora como essa. A gente falava: “Oswaldo Brandão! Um técnico gaúcho foi a São Paulo e teve essa grande conquista de 1977!”. Também me lembro de Basílio, Ruço, Biro-Biro, Tobias, Super Zé, um cara de quem guardo um slide da representação de sua raça até hoje. Para jogar no Corinthians, é preciso ter um pouco de Zé Maria. Aqui, você deve apresentar uma pitadinha de Ralf, de Guerrero…

Gazeta Esportiva: Você cita bastante os jogadores de 1977, comandados pelo Brandão. Esse título foi mais importante para o Corinthians do que o da Libertadores de 2012?
Tite: [Suspira.] Em termos de sede de título, o paralelo é válido. Mas a dimensão… Sem falsa modéstia, a Libertadores é maior. Talvez o cunho de tanto tempo sem esse título… E foi um título de Libertadores! Ainda me surpreendo com as pessoas emocionadas, que chegam até mim: “Tu não sabes, cara! Esperamos mais de 100 anos por um título de Libertadores! Ninguém mais virá até nós para querer zoar! Ninguém mais! Tu não sabes o que é isso!”.

Gazeta Esportiva: Já sabe o que é isso agora? Na época, você dizia que não tinha a dimensão exata da conquista.
Tite: Sei. Bastante. Deu para avaliar, sim.

Leia toda a especial da Gazeta Esportiva sobre os 40 anos do título estadual de 1977:

Quatro décadas de alívio
A herança de Ruy Rey
O segundo aniversário de Basílio
Zé Maria e o seu irmão ponte-pretano
A astrologia contra Ruy Rey
O caso do sapo e o carma da Ponte Preta