Aloísio relembra Mundial regado a danone e rechaça rótulo de ídolo - Gazeta Esportiva
Marcelo Baseggio*
São Paulo
12/18/2015 09:00:35
 
Aloísio, Amoro e Rogério Ceni se reuniram e aproveitaram para tomar um 'danone' (Foto: Reprodução/Instagram)
Aloísio, Amoro e Rogério Ceni se reuniram e aproveitaram para tomar um ‘danone’ (Foto: Reprodução/Instagram)

Aloísio Chulapa é um dos jogadores mais importantes da história do São Paulo. Responsável pelo passe para o gol do título mundial de 2005, contra o Liverpool, quem não o conhece não imagina que o “bebedor de danone”, festeiro, construiu a jogada que proporcionou ao time do Morumbi bordar sua terceira estrela vermelha na camisa. Em entrevista especial à Gazeta Esportiva, Aloísio comentou sua relação com o São Paulo, o desejo de atuar com a camisa do clube pelo qual sempre torceu e toda a emoção vivida no mês de dezembro de 2005, do outro lado do mundo.

Natural de Atalaia, cidade do interior de Alagoas, Aloísio começou sua carreia profissional no CRB. Passou por Flamengo, Guarani e Goiás, antes de se transferir para o futebol europeu, onde vestiu as camisas de Saint-Étienne, Paris Saint-Germains e Rubin Kazan. Na volta ao Brasil, teve a chance de disputar uma final de Libertadores pelo Atlético-PR, quando se destacou e se transferiu para o São Paulo. Ele também teve passagens pelo futebol árabe e pelo Vasco, antes de iniciar a parte menos glamourosa de sua carreira, em clubes de menor expressão. E engana-se quem acha que o atacante já se aposentou. Em 2016, Chulapa irá defender as cores do Maranhão Atlético Clube, na disputa do Campeonato Maranhense.

O jogador de estilo simples e brincalhão é tratado com grande respeito pela torcida são-paulina e conquistou o carinho dos rivais postando fotos em uma de suas redes sociais, onde aparece bebendo cerveja, com legendas pra lá de esquisitas e cheia de erros ortográficos. Se hoje o camisa 14 é destaque por onde passa, anos atrás a realidade que vivia era bem diferente.

Aloísio chegou no São Paulo logo após a Libertadores de 2005 (Foto: Marcelo Ferrelli/Gazeta Press)
Aloísio chegou no São Paulo logo após a Libertadores de 2005 (Foto: Marcelo Ferrelli/Gazeta Press)

Chegada no São Paulo

Aloísio atuava pelo Atlético-PR, em 2005, quando sua equipe enfrentou o São Paulo, na final da Libertadores daquele ano. O jogador tinha a difícil tarefa de estragar os planos do clube pelo qual sempre torceu, desde criança, além de tentar conquistar o título inédito para o time do Paraná. Com o estádio sem condições de abrigar o público exigido pela Conmebol, o Atlético-PR teve de adotar o Beira-Rio como sua casa no primeiro jogo da final.

Na primeira parte da decisão, Aloísio foi o responsável pelo gol do Atlético-PR no empate em 1 a 1. Já no jogo de volta, no Morumbi, o goleador ouviu de Rogério Ceni o que ele pensava fazer parte de uma estratégia do goleiro. “Quando estava 2 a 0 para o São Paulo, no Morumbi, o Rogério bateu nas minhas costas e falou que já tinha mandado me contratar e achei que era medo dele de tomar outro gol meu na final. Não acreditei no que ele falou”, admitiu Aloísio, que semanas depois se apresentou no clube que o derrotou na decisão do torneio continental.

Companheiro de Alex Dias no Paris Saint-Germain, Chulapa chegou a comentar com o amigo que o único sonho que faltava realizar era atuar com a camisa de seu time de coração, o São Paulo, ao contrário de Alex Dias, que queria chegar na Seleção Brasileira. A chance de realizar o sonho chegou em 2005 e o atacante não desperdiçou. “Desde criança sou são-paulino. Agradeço à Deus por ele ter me proporcionado essa felicidade de ser são-paulino doente. A maior emoção do mundo, um sonho que queria realizar era vestir a camisa do São Paulo e consegui ter essa oportunidade. Tudo o que eu passei nesses três anos defendendo o clube foi muito marcante”, comentou emocionado.

“Quando eu cheguei na Barra Funda e entrei na sala de musculação o Rogério logo me abraçou e disse: ‘Eu falei que você ia vir pra cá, agora me dá um abraço! ‘. Foi uma honra muito grande, alegria, tudo junto. Pensei comigo mesmo que naquela hora teria que comer a grama, suar sangue no campo. Por ele e pela torcida são-paulina que é a minha paixão”, completou.

Mundial de 2005

Após o término do Campeonato Brasileiro havia chegado o momento tão esperado por todos: a disputa do Mundial. Contando com o otimismo da torcida, que lotou o Aeroporto de Guarulhos no embarque da delegação tricolor ao Japão, o time do São Paulo viajava ciente das dificuldades que o Liverpool poderia apresentar ao São Paulo em uma possível final do torneio. A equipe comandada pelo espanhol Rafa Benítez não perdia uma partida há 13 jogos, além de não sofrer gol há 11.

Toda a imprensa creditava o favoritismo aos campeões europeus, que naquele ano conquistaram uma virada história sobre o Milan, na final da Liga dos Campeões, em Istambul, na Turquia. Mesmo com todos os números indo a favor dos adversários, Aloísio contou que o elenco são-paulino sabia que poderia fazer uma partida equilibrada e apontou a marcação forte em Gerrard como um dos segredos para a vitória improvável.

“O Liverpool estava há 13 jogos sem perder, sem tomar gol, mas nós éramos o São Paulo. A torcida estava confiante, o grupo estava entrosado desde a Libertadores, então a gente também tinha força para chegar e jogar de igual pra igual. Sabíamos que eles eram realmente favoritos e quando falavam que teríamos o Gerrard pela frente, um jogador diferenciado, sabíamos que tínhamos que marcar ele. O Mineiro estava numa fase extraordinária e conseguir dar conta do recado”, explicou, aproveitando para enaltecer o ex-companheiro e autor do gol do título.

Jogada ensaiada

A inesquecível jogada que originou o único tento tricolor na decisão não aconteceu por acaso, segundo Aloísio. O jogador comentou que esta jogada foi trabalhada nos treinamentos por Paulo Autuori, com uma única ressalva: o Fabão fazia um lançamento um pouco mais fraco do que o executado em Yokohama. “Foi uma jogada trabalhada, não foi por sorte. As pessoas pensam que aquele meu passe para o Mineiro foi uma coisa repentina, mas não foi. Ensaiamos isso nos treinamentos. Eu tinha que aparecer como pivô para o Fabão, que soltava a bola longa da defesa, só que a bola veio muito forte e eu matei no peito”, detalhou.

“Não é por nada não, mas quando eu pego pra matar a bola no peito parece que ela cola em mim. Matei no peito e dei aquela trivela que jamais vou dar outra igual na minha vida, só naquele dia que Deus me abençoou e o Mineiro fez o gol do título”, lembrou o camisa 14 tricolor, comemorando o sucesso de 10 anos atrás.

Após o gol, o São Paulo pouco apareceu no ataque e teve de se segurar na defesa para garantir o resultado. Antes do apito final, o Tricolor não só teve que suportar a pressão dos ingleses com uma linda defesa de Rogério Ceni em cobrança de falta de Steven Gerrard, como seguir concentrado mesmo sofrendo três gols invalidados pela arbitragem por impedimento.

Aloísio registrou o reencontro com Mineiro na despedida de Rogério Ceni, no Morumbi (Foto: Reprodução/Instagram)
Aloísio registrou o reencontro com Mineiro na despedida de Rogério Ceni, no Morumbi (Foto: Reprodução/Instagram)

Festa, danone e idolatria

Daí em diante foi só ‘danone’, como Aloísio costuma se referir à cerveja. O jogador lembrou que após o título a celebração não parou até o elenco aterrissar no Brasil, quando a festa continuou pelas ruas de São Paulo. Josué, Amoroso e Cicinho foram lembrados pelo atacante como os principais parceiros de comemoração.

Nos anos seguintes Aloísio ainda iria reforçar seu nome na história do clube conquistando três títulos brasileiros, em uma sequência comandada pelo técnico Muricy Ramalho. A supremacia no cenário nacional rendeu ao alagoano a oportunidade de atuar no futebol do Catar, deixando no São Paulo os títulos, a paixão de torcedor, além da gratidão por ter realizado o sonho de um dia vestir o vermelho, o preto e o branco.

Mesmo com todas as importantes conquistas e com o massivo carinho da torcida são-paulina, Aloísio não se vê como um ídolo tricolor. “Não me considero ídolo. Ídolo é o Raí, o Muller, Careca, Toninho Cerezo, Rogério… Me considero um jogador que jogou por amor à torcida, conquistei Mundial, conquistei três títulos brasileiros. O carinho dos torcedores por onde eu passo é muito grande e só por ter vestido a camisa tricolor eu já me sinto privilegiado. Foi um grande orgulho defender o meu time de coração”, finalizou, acreditando que, através da raça e das importantes conquistas, tem um grande e merecido espaço na história do São Paulo Futebol Clube, tricampeão mundial.

*especial para a Gazeta Esportiva



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