Há 21 anos no Palmeiras, supervisor de futebol foi gandula em 1996 - Gazeta Esportiva
Bruno Ceccon
São Paulo, SP
06/03/2016 09:00:22
 

O supervisor de futebol Leonardo Piffer guarda com orgulho seu primeiro holerite como funcionário da Sociedade Esportiva Palmeiras, datado de fevereiro de 1995. Atual integrante do departamento profissional, ele começou a trabalhar no clube de forma inusitada e foi gandula no jogo que garantiu o título paulista de 1996, como mostra a última da série de reportagens publicada pela Gazeta Esportiva na semana em que o feito completa o 20º aniversário.

Com 15 anos, acompanhado por um grupo de amigos, Léo resolveu cabular aula para jogar fliperama no shopping West Plaza, vizinho ao Palmeiras. Durante o passeio, ele se perdeu dos colegas e deixou o local preocupado, já que não conhecia bem a região. No caminho de volta, viu na fachada do clube o anúncio de uma vaga de office boy e resolveu concorrer.

Aprovado, o jovem iniciou sua trajetória no Palmeiras na segunda-feira seguinte e passou a conhecer melhor a cidade de São Paulo. “Eu morava na Freguesia do Ó e logo no primeiro serviço tive que ir até Santo Amaro. Como não sabia o caminho, ligava para o meu pai de algum orelhão e ele me falava quais ônibus pegar para chegar ao destino”, recordou Léo, que recebeu R$ 48,94 líquidos em seu primeiro holerite.

Após aproximadamente um ano como office boy, o garoto passou a trabalhar na secretaria geral do Palmeiras e, para incrementar a escassa renda mensal, começou a atuar como gandula durante os jogos disputados pela equipe no Estádio Palestra Itália. Da beirada do gramado, Léo Piffer teve a oportunidade de ver um dos melhores times da história do clube.

Vice-campeão paulista em 1995, o Palmeiras acertou o retorno de Vanderlei Luxemburgo no final do ano e passou a planejar a temporada seguinte. O meia Djalminha, o atacante Luizão e o lateral esquerdo Júnior, integrados a um elenco que já tinha nomes como Cléber, Cafu e Rivaldo, fizeram história na edição de 1996 do Estadual.

Léo Piffer guarda primeiro holerite como funcionário do Palmeiras (Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)
Léo Piffer ainda guarda primeiro holerite como funcionário do Palmeiras (Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

Depois de faturar o primeiro turno com facilidade e muitas goleadas, o Palmeiras evitaria o quadrangular final se vencesse também o segundo. Para garantir o título de maneira antecipada na penúltima rodada, bastava empatar com o Santos no Estádio Palestra Itália. Há 20 anos, com o jovem Léo Piffer como gandula, o time de Vanderlei Luxemburgo ganhou por 2 a 0.

“Eu estava atrás do gol em que o Luizão marcou o primeiro contra o Santos. No segundo tempo, o Clebão fez o outro. Minha família era corintiana, mas depois que comecei a trabalhar aqui, virei palmeirense. Viver aquilo como vivi foi muito forte e me fez ser palmeirense. Levei isso para minha filha de 10 anos e hoje ela também torce pra caramba”, contou.

Como era funcionário do clube, Léo acabou convidado para a festa oficial pelo título paulista, realizada na boate Limelight ao som de canções de pagode e axé, intercaladas com o hino do Palmeiras. “Isso tudo é muito marcante para mim. Lembro que os atletas que ainda moravam aqui na Academia de Futebol também foram e participaram das comemorações”, recordou.

Além do primeiro holerite recebido no Palmeiras, Léo Piffer também guarda uma edição da revista oficial do clube do ano de 1996 em que aparece em uma reportagem. A proximidade com os jogadores, novidade no início, passou a ser rotina algum tempo depois, no momento em que ele foi escalado para atuar como recepcionista na Academia de Futebol.

Na época, as categorias de base também trabalhavam no centro de treinamento localizado na Barra Funda e Léo passou a ajudar o responsável pelos garotos. Após atuar como office boy, na secretarial geral e de recepcionista, ganhou o cargo de supervisor do infantil. Ele foi ascendendo gradualmente e teve a primeira oportunidade com o time profissional na Copa dos Campeões 2000, disputada no Nordeste.

Léo Piffer (à direita) começou a trabalhar no Palmeiras em 1995 como office boy (Foto: Reprodução)
Léo Piffer (à direita) começou a trabalhar no clube em 1995 como office boy (Foto: Reprodução/Revista do Palmeiras)

“A equipe tinha passado por uma espécie de desmanche e o Cruzeiro contratou o Felipão. O gerente de futebol da época não quis ir para a Copa dos Campeões e me mandou como supervisor. O time era considerado zebra e todos pensavam que voltaríamos rápido. Lembro que até fiz a mala com poucas roupas. Mas o Palmeiras foi avançando, chegou na final e acabou campeão. Desde então, não saí mais do profissional”, recordou.

O jornal A Gazeta Esportiva noticiou a classificação de Palmeiras e Sport à decisão da Copa dos Campeões 2000 com a manchete “Zebras do Nordeste”, já que Flamengo e São Paulo eram os favoritos nas semifinais. Retratado durante a festa dos atletas palestrinos após a vitória sobre o time carioca nos pênaltis, Léo Piffer aparece na capa do periódico, guardada como relíquia.

Aos 36 anos de idade, ele atualmente é subordinado no departamento profissional a Alexandre Mattos e Cícero Souza, diretor e gerente de futebol, respectivamente. Como supervisor, Léo Piffer é responsável por administrar a logística do time principal, área em que se aperfeiçoou no Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial).

“Era diferente, porque a comunicação mudou muito”, observou, ao comparar o perfil dos boleiros atuais com os antigos. “Lembro muito dos batuques do Juninho lateral nos galões (de isotônico), tinha outro cantando, outro batendo na porta do vestiário. Como não havia muito celular e Whatsapp, a interação era maior. Hoje, também tem interação, mas muitas vezes você deixa de falar e usa o telefone”, afirmou.

Léo Piffer viveu intensamente as glórias e tragédias do clube vizinho ao shopping West Plaza nos últimos 21 anos, da Copa Libertadores 1999 aos sofridos rebaixamentos. Contratado em 1995, ele deseja completar as bodas de prata com a agremiação que aprendeu a amar em 1996. “Meu sonho é continuar trabalhando aqui e ver o time do Palmeiras cada vez maior”, resumiu o ex-gandula.



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