Futuro da lateral brasileira - Gazeta Esportiva
Victoria Leite*
São Paulo, SP
07/12/2017 10:00:25
 

É certo que a rivalidade entre o Brasil e a Alemanha aumentou ainda mais depois de o episódio em 2014. Mesmo com a boa fase atual da equipe principal, os germânicos continuam sendo um dos mais fortes adversários que os atletas da Amarelinha terão pela frente. Mas a relação entre estes dois países não é apenas de oposição, já que os clubes alemães têm investido bastante nos jogadores brasileiros, tornando o caminho destes à Seleção ainda mais fácil. É o caso do lateral esquerdo Wendell, que deixou o Brasil em 2014 e hoje é titular absoluto do Bayer Leverkusen. Além da ótima atuação com o time, o jogador chamou a atenção com seu bom futebol, chegando a ser convocado pelo técnico Tite a uma das posições mais concorridas da equipe do Brasil e se tornou alvo de grandes europeus como a Roma e a Internazionale.

A trajetória de destaque do lateral iniciou no Londrina, quando retornou de empréstimo do Paraná em 2013 e foi considerado o melhor jogador da posição no Estadual. No ano seguinte, Wendell chamou a atenção do Grêmio e se mudou para Porto Alegre, onde participou de 47 partidas, marcou três gols e foi considerado mais uma vez o melhor lateral do Gaúcho. Após uma ótima atuação com os tricolores, o jogador foi vendido ao Bayer Leverkusen, seu atual clube.

Prestes a completar sua quarta temporada defendendo as cores do time alemão, Wendell acredita que sua ida ao Bayer possa ter ajudado em sua convocação à Seleção principal. Exclusivo à Gazeta Esportiva, o jogador de 23 anos afirmou que trabalhar com o técnico Tite foi uma das melhores experiências de sua vida. “É um cara que me deixou sentir à vontade no meio do grupo. Estava indo pela primeira vez, ele me ajudou bastante e me ensinou coisas para o dia a dia de um atleta. Foi uma fase muito boa e espero que logo eu possa trabalhar com ele de novo, com muita fé em Deus”, disse. O lateral foi convocado para as Eliminatórias em outubro do ano passado, nas vitórias contra a Bolívia  (5 a 0) e Venezuela (2 a 0), anteriormente, ele já havia sido chamado para servir à Seleção de base.

Wendell atuou com Tite na convocação para os jogos contra a Bolívia e Venezuela, no ano passado (Foto: Pedro Martins/MoWa Press)

Ciente da dificuldade que é disputar espaço com dois dos melhores laterais do mundo na Seleção (Marcelo e Daniel Alves), Wendell também ressaltou que o Brasil vive uma boa fase nesta posição. Para ele, os torcedores da Amarelinha podem ficar despreocupados, que terão reforços nas laterais por muito tempo.

“Há uns seis ou sete anos, eu ainda era novo e a nossa posição sofria carência, porque só tinha Cafu ou Roberto Carlos. Hoje, acho que o Brasil tem uns oito jogadores para cada lado. Os dois melhores do mundo são brasileiros, Marcelo e Dani (Alves). Filipe Luís também, que é muito craque e eu me espelho muito. Vários jogadores estão aparecendo e não só no futebol brasileiro. Tem Alex Sandro, Douglas Santos, Alex Telles. No Brasileiro, Júnior Tavares e Guilherme Arana, por exemplo. Meninos que vêm crescendo demais na posição. O Brasil pode ficar tranquilo que as próximas seleções vão ter jogadores capacitados pra função”, acrescentou.

Com experiência na Alemanha, Wendell tem propriedade para ressaltar as diferenças entre estas duas potências do futebol. Como diferencial, o jogador apontou a metodologia dos alemães e a forma de tratamento da base. Sondado pela Roma, Wendell soma 116 partidas pelo Leverkusen, com três gols e sete assistências.

Confira o bate-papo da Gazeta Esportiva com o lateral esquerdo Wendell: 

1. Você está há três anos no futebol alemão. Acredita que isso possa ter facilitado as suas convocações para a Seleção?

No Brasil eu também jogava num grande clube e minha primeira convocação foi quando eu estava lá. Graças a Deus, o futebol daqui é mais visto. Todo mundo está de olho. Nossas competições são muito grandes e isso me deu muita visibilidade, ajudando a chegar de novo na Seleção.

2. Quais diferenças você identificou entre o futebol brasileiro e o alemão?

A dinâmica do jogo é um dos pontos que eu mais vejo diferença. Os posicionamentos dos times também, que são bastante organizados, eles priorizam muito a parte tática, fica repetitivo na sua cabeça. Todos os times, até os que brigam para não cair, são organizados, dinâmicos, jogam sempre para frente. Já o nosso futebol tem mais drible, tem mais técnica, é mais gostoso de se ver jogar. Essa foi a principal dificuldade que eu senti aqui.

3. Ultimamente você tem sido alvo de investida de grandes europeus. A Roma é uma delas. Você teria interesse pelo time, ou vontade de jogar em alguma outra grande equipe da Europa?

Estou feliz aqui. Fiquei feliz pelo interesse da Roma, ou de qualquer outro clube que se interessou por mim, porque mostra que estou fazendo meu trabalho. Mas isso é algo que deixo para o empresário resolver. Fico muito contente em saber que a Roma está interessada no meu futebol, no meu estilo de jogo. Sobre ter interesse em jogar em outro clube, não tenho um time só definido. Estou no Leverkusen que é a terceira força da Alemanha e todos respeitam. Espero tudo no tempo de Deus, sou muito fiel e não quero dar um passo maior do que a perna.

4. Considerando o ótimo momento da Seleção Brasileira, a Alemanha talvez seja a candidata mais forte para disputar com o título do mundial de 2018. Você, que joga no país, consegue identificar o porquê de a seleção alemã ter tido esta ascensão nos últimos anos?

Acho que a principal característica é a manutenção de um projeto, de uma linha de trabalho. O técnico é o mesmo há muito tempo, por exemplo (Joachim Low assumiu a Alemanha em 2006, antes, era auxiliar desde 2004). Eles são muito corretos neste aspecto. Tenho certeza que, depois do Brasil, a Alemanha está muito bem, no mesmo nível. Espero que o Brasil consiga o título, mas a briga é muito boa. Eles (alemães) respeitam mais o nosso futebol de hoje.

5. A safra também é das melhores. O time Sub-21 acabou de ser campeão da Euro, juntamente com a Copa das Confederações, utilizando um time alternativo. Isso mostra a força da seleção e da base deles. Qual a grande diferença da criação dos jogadores alemães para os brasileiros?

Aqui eles formam primeiro o cidadão. Por exemplo, a gente ia jogar as oitavas da Champions com o Atlético de Madrid, e o meia Kai Havertz não participou, porque tinha prova na escola. Na minha época de colégio, quando tinha jogo, a gente não ia pra aula, porque tinha que viajar. Aqui não, eles crescem focados no que tem que fazer. Trabalham muito a cabeça do jogador. Os times também não têm medo de usar a base. Não é que nem no Brasil que a torcida pressiona e a imprensa não tem tanta paciência. Aí, tem que pensar que nem todos são como o Neymar que tem cabeça pra jogar em alto nível com 17 anos. Aqui, os caras dessa idade são mais preparados, tem mais tranquilidade. Chegam sempre como a sensação e geralmente conseguem manter isso.

Especial para a Gazeta Esportiva*