Professor Casagrande - Gazeta Esportiva
Tiago Salazar
São Paulo - SP
04/30/2019 04:00:57
 

Walter Casagrande Júnior tinha apenas 18 anos quando foi promovido ao elenco profissional do Corinthians. Era o início da década de 1980, uma época em que grandes esquadrões comandavam o futebol brasileiro. O que dizer então da Seleção, que em 82 fez muita gente chorar não apenas pela dolorosa derrota para a Itália, mas sim pela consciência de que caia ali um dos melhores times de todos os tempos do futebol.

As referências do ex-centroavante explicam sua postura combativa e intolerante ao dito futebol de resultado, aquele que pouco se preocupa com a plasticidade e não se envergonha em apostar na força defensiva e física para triunfar.

Casagrande reviveu sua carreira com os arquivos da Gazeta Esportiva em meio a entrevista (Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

No terceiro capítulo da entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva, o hoje comentarista não perdoou desempenhos como o do Corinthians tricampeão paulista de Fábio Carille.

“O futebol é um espetáculo, sempre foi um espetáculo. Você não pode acabar com o espetáculo. Seria um crime você acabar com o espetáculo. Pega o Ajax, que está jogando a Champions agora. Pega o City, que perdeu, mas pega o City jogando. Pega o Barcelona com o Messi. Pega o Real Madrid, que tinha o Cristiano Ronaldo. Pega o Liverpool agora. Esses times são times dos anos 80. E eles têm desempenho e ganham”, esbravejou.

Inquieto na cadeira e firme nas palavras, Casão, de repente, se depara com uma foto ao lado de Serginho Chulapa em meio ao arquivo de sua carreira na Gazeta Press. Chulapa fora justamente o centroavante do Brasil na Copa do Mundo da Espanha. Quatro anos depois, Casagrande receberia a chance de ser convocado por Telê Santana.

“Essa foto aqui com o Serginho é bem legal”, comentou, aproveitando o momento para um respiro que lhe faria imaginar-se à beira do campo.

“Por que os outros não podem fazer? Por que a maioria prefere se defender, dar carrinho, jogar feio só para ganhar, só para ter resultado? Eu não concordo com isso. Se você me chama para ser treinador de um time, a minha primeira preocupação é fazer um time que jogue bem. E eu ia fazer esse time, que joga bem, ser competitivo para ser campeão. É daí que eu vou partir. Os treinadores de hoje não fazem isso. Eles vão se defender por uma bola. Uma bola está bom. É muito feio, né?”, questionou.

Serginho Chulapa, antigo amigo de Casagrande, concorda que Dener seria o melhor jogador do mundo (Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

A lembrança dos craques de três décadas atrás remeteu a Dener, a eterna promessa brasileira. No mês que a morte do ‘Reizinho do Canindé’ completou 25 anos, Casagrande cravou que o ex-jogador da Portuguesa teria uma carreira superior a de gênios consagrados do futebol.

“Romário, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho eram jogadores de outro patamar. O Dener seria igual a eles. Do mesmo patamar que esses caras, mas eu acho que o Dener ia passar todos esses caras, ganhar mais Bola de Ouro que esses caras ganharam, ia ser mais determinante para a Seleção Brasileira, e eles foram pra cacete. Mas o Dener foi uma coisa inexplicável”.

Em uma rápida análise do que acontece no Brasil, dentro de seus ideais futebolísticos, o sempre lembrado parceiro de Sócrates só enxerga um técnico preocupado em não obter vitórias a qualquer custo. E este é argentino. Fernando Diniz, então, é lembrado pelo repórter, mas Casão já tinha a resposta na ponta da língua

“O Sampaoli é essa linha. O Mano está no meio do caminho, o Mano alcançou um equilíbrio. O Fernando Diniz, cara, é o seguinte: ele tem a intenção boa, mas ele ainda não pegou um time com jogadores que saibam fazer aquilo que ele quer. Aí não adianta. Não adianta você ser o Sampaoli e ir treinar, como todo respeito, sei lá, o Marília, o Santo André. Vai tomar porrada em todos os jogos”, avaliou.

“O Fernando Diniz é isso. O Fluminense não tem jogadores com qualidade suficiente para ele fazer isso. O Atlético-PR, a defesa principalmente, não era de qualidade para isso. Ele erra nesse sentido. Ele tinha de pegar um time com bons jogadores e fazer isso. Aí ele sobe de patamar”, concluiu.



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