A Ferroviária é a grande sensação do Campeonato Paulista. Após cinco rodadas, o time de Araraquara soma três vitórias, um empate e uma derrota, campanha que o deixa na primeira colocação do Grupo C, à frente do grande favorito na chave, o São Paulo. O sucesso recente, no entanto, não é por acaso e o trabalho vem sendo realizado há muito tempo. Treinador europeu, gestão empresarial e estrutura fazem parte do segredo de um dos mais tradicionais clubes do interior de São Paulo que chegou a dar um sufoco no badalado Corinthians no final de semana.
Perto de declarar falência, a Ferroviária passou por uma verdadeira transformação a partir de 2003. Na época prefeito de Araraquara, Edinho Silva sugeriu que fosse implementado um modelo de gestão empresarial no clube para que a Locomotiva pudesse se reerguer e conquistar o principal objetivo: o retorno à elite do futebol paulista. Foi um longo período de trabalho duro, mas no ano passado, após 19 anos, a equipe na época comandada pelo técnico Milton Mendes, garantiu o acesso com três rodadas antes do fim da Série A2, diante do Guaratinguetá.
Já em 2016 a equipe comandada pelo técnico Sérgio Vieira, de apenas 33 anos, não começou bem. Estreou com derrota para o Água Santa por 1 a 0 no Campeonato Paulista. Os novatos na elite se recuperaram, embalaram na competição e contrariaram todos que já desconfiavam do novo treinador português. Com qualificação da Uefa e adotando uma filosofia europeia ele prosseguiu o trabalho e hoje colhe frutos como o bom desempenho de sua equipe contra o Corinthians no último domingo, quando por pouco não venceu os atuais campeões brasileiros, chegando a estar à frente no placar duas vezes, mas cedendo o empate.
Quem também tem grande importância na evolução da equipe é o Atlético-PR. Nos últimos cinco anos o clube firmou parceria com a Ferroviária, cedendo jogadores e realizando intercâmbios para seus profissionais, que agregaram no processo do clube do interior paulista, fato reconhecido pelo atual presidente Carlos Alberto Salmazo em entrevista à Gazeta Esportiva.
Gazeta Esportiva.com: No ano passado a Ferroviária conseguiu o acesso para voltar à elite depois de 19 anos. Sensação de dever cumprido?
Carlos Alberto Salmazo: Foi muita emoção. Sou torcedor da Ferroviária desde menino. Um ano à frente na administração e conseguimos isso. Evidentemente tem todo o trabalho das diretorias anteriores, mas conseguimos agregar a força viva da cidade, prefeitura, empresários e essa união foi fundamental para que o processo se consolidasse. A parceria com o Atlético-PR foi elementar. O clube disponibilizou alguns jogadores, o professor Milton Mendes e com isso conseguimos voltar à primeira divisão do futebol paulista.
Gazeta Esportiva.com: Você esperava esse início da equipe no Campeonato Paulista antes de iniciar a competição?
Carlos Alberto Salmazo: O nosso projeto de futebol sempre tem a expectativa do sucesso. Em substituição ao Milton Mendes trouxemos outro treinador (Sergio Vieira) que estamos acreditando, também indicado pelo Atlético-PR, com uma mentalidade europeia, de modernização, escola portuguesa. Montamos uma equipe que era realmente para ter um retorno dentro do campo. A surpresa é relativa, futebol é imponderável, às vezes a gente monta uma boa equipe, mas não encaixa. Com nós deu certo, a comissão técnica do time é competente, a diretoria dá toda a retaguarda e alguns times têm carência disso. Temos profissional de fisiologia, equipamentos adquiridos, nutricionista contratada, engenheira de alimentos que orienta a manipulação dos alimentos na cozinha do clube, temos uma equipe de análise de desempenho, investimos em equipamentos de tecnologia de mídia. Todos nossos jogos e dos adversários são analisados, o professor reúne diariamente os jogadores para estudar as formas de jogo.
Gazeta Esportiva.com: Como foi formado o atual elenco? De onde vieram os jogadores?
Carlos Alberto Salmazo: Nós temos vários jogadores do Atlético-PR hoje. Desde a categoria sub-23 e dois ou três com idade acima disso. Fizemos também uma troca de jogadores com o Atlético-MG e Fluminense. O atacante Samuel, por exemplo, veio do Fluminense. Todos analisados pelo técnico Sérgio Vieira de acordo com o modelo de jogo que adotou para a equipe. O departamento de futebol do clube também tem feito um trabalho importante para a montagem do elenco.
Gazeta Esportiva.com: Qual a folha salarial do time?
Carlos Alberto Salmazo: Aproximadamente R$ 380 mil. Os salários dos jogadores que pertencem aos clubes com os quais temos parceria são divididos entre nós e eles, o que ajuda a amenizar as despesas.
Gazeta Esportiva.com: Em 2003 o prefeito de Araraquara surgiu com a ideia de montar um time/empresa para evitar que a Ferroviária fechasse as portas. Como foi esse processo?
Carlos Alberto Salmazo: Enquanto colaborador eu participei do início, na década de 2000, na formação disso aí. Embora temos um estatuto “S/A”, administramos o futebol como deve ser. Não adianta querer fazer muita mágica, mas tenho um conselho de administração, diretoria profissionalizada, temos balanço, publicamos o balanço periodicamente, há reuniões de conselho. Acho que o grande feito nosso foi ter conseguido conciliar um modelo empresarial com o futebol.
Quais são as próximas ambições do clube após o fim do Paulistão?
Carlos Alberto Salmazo: Conseguir se classificar para a Série D do Campeonato Brasileiro. Na Copa do Brasil também entramos para conseguir os melhore resultados possíveis, temos dois importantes jogos contra o Salgueiro e iremos encará-los com o objetivo de avançar na competição, mas é claro que a intenção principal é conseguir a vaga para a Série D.
*especial para a Gazeta Esportiva