Andrés tenta unir situação e rebate ataques dos seus adversários - Gazeta Esportiva
Helder Júnior e Tomás Rosolino
São Paulo (SP)
02/02/2018 07:23:21
 

A eleição deste fim de semana deverá ser a mais difícil para o grupo Renovação e Transparência desde que Andrés Sanchez assumiu a presidência do Corinthians pela primeira vez, em 2007. O hoje deputado federal diz que só se candidatou novamente para evitar um racha ainda maior entre os seus aliados – um deles, Felipe Ezabella, virou adversário no pleito. E já não disfarça o incômodo com os ataques de quem também passou por cargos administrativos no clube e “não fez nada”, segundo ele.

Para esmiuçar os projetos dos cinco candidatos à presidência do Corinthians, a Gazeta Esportiva colheu longos depoimentos de Andrés Sanchez, Antonio Roque Citadini, Felipe Ezabella, Paulo Garcia e Romeu Tuma Júnior. Cada um deles teve aproximadamente uma hora para defender as suas ideias e palpitar sobre os mais variados assuntos, da política corintiana à gestão da dívida do Estádio de Itaquera.

Na semana que termina com a eleição no Parque São Jorge, marcada para o sábado de 3 de fevereiro, as explanações dos postulantes ao cargo de Roberto de Andrade foram publicadas diariamente pelo portal, uma a uma, seguindo a ordem da realização das entrevistas. Abaixo, leia o que falou Andrés Sanchez.

Por que ser candidato
Não é que eu tenha me motivado. Eu não queria mais, não. Mas, desde a metade do ano passado, o meu grupo está se reunindo por causa da eleição. Houve uma pequena dissidência do Ezabella (lançou candidatura própria) e, se eu não fosse candidato, teríamos mais três ou quatro candidatos saídos do grupo. Não estávamos conseguindo chegar a um consenso em torno de um nome. Isso me convenceu muito.

Líder do grupo Renovação e Transparência alega que se candidatou para resolver racha interno (foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

Além disso, temos alguns pepinos para resolver – a readequação financeira da arena, fazer o CT da base, entre outros. Será o encerramento de um ciclo. E tenho as minhas responsabilidades no Corinthians, que é a minha paixão, então nada mais justo do que aguentar outros três anos se ganhar a eleição.

O que mudar em relação à atual gestão
É simples: vamos melhorar o que está bom e fazer bem o que está ruim. Todos os presidentes que passaram pelo Corinthians erraram e acertaram. Existem algumas coisas que estão fazendo nos últimos anos que eu melhoraria. Outras, não faria em hipótese alguma. Só que isso faz parte.

O que posso dizer é que precisamos voltar a dar uma atenção maior ao clube social, que foi deixado um pouco de lado nos últimos anos. Aquilo lá é uma cidade. Em todos os anos, precisamos melhorar as coisas. É isso o que vamos fazer, até por eu gostar e frequentar o clube.

É claro que o principal sempre será o futebol, mas o futebol ganhou tudo nos últimos 10 anos. Então, vamos mexer o mínimo possível, melhorando o que já está bom.

Estádio de Itaquera: bom ou mau negócio?
Excelente negócio. Tirando a torcida, o estádio será o maior patrimônio do Corinthians. Só que a gente comprou uma casa financiada e tem 10, 12 anos para pagar. Quando está pagando a sua casa própria, você também passa por um sofrimento maior. Mas isso não está envolvendo nada do clube.

Andrés concorda que a Copa do Mundo facilitou a construção do estádio, mas aumentou a dívida corintiana (foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

Hoje, a única coisa que eu mudaria é o estádio como sede da Copa do Mundo. Eu não faria a Copa! Tivemos gastos muito maiores por causa disso. Por exemplo, R$ 100 milhões que a Prefeitura pagaria e não pagou. O Corinthians teve que assumir. Esse tipo de coisa poderíamos ter deixado de lado. Mas, talvez, se não fosse a Copa do Mundo, não teríamos a facilidade que tivemos para construir. Uma coisa acaba compensando a outra.

Agora, devemos fazer uma equação financeira. Eu era assessorado pelo escritório Machado Meyer, pelo jurídico do clube, e essa parte financeira foi cuidada pelo Luis Paulo Rosenberg. Vamos melhorar o que for possível.

Como resolver o problema da dívida de Itaquera
Vamos assumir primeiro. Mas, que precisa ter uma solução, precisa. Não dá para pagar tudo em um mandato, obviamente. Temos 10, 12 anos para isso. Se os CIDs (Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento) funcionarem 100% e conseguirmos vender o nome do estádio, 90% estará pago.

Direitos de nome do estádio
Sem isso, a gente vai sofrer mais. Mas, repito: se vendermos os CIDs e o nome – seja por R$ 200 milhões, R$ 300 milhões, R$ 400 milhões ou R$ 500 milhões –, 90% estará pago. É que tivemos problemas com essas duas coisas.

Andrés assume que falhou na comercialização do nome do estádio que passou a chamar de Arena Corinthians (foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

Um dia, vamos vender o nome. Que está atrasado, está. É uma coisa nova no Brasil. Poucos clubes batizam as suas arenas assim. A imprensa pouco fala os nomes que foram vendidos. Isso é cultural. Na Europa, já acontece há décadas. Nos Estados Unidos, então, nem se fala. E, aqui, todo o mundo ainda vai saber que é uma fonte muito grande de receita para os clubes.

O problema financeiro do Brasil também influenciou um pouco no nosso caso, mas não vou dar desculpa. Não conseguimos fechar mesmo. Não sei se será na próxima gestão. Espero que sim.

Parceria com a Omni, gestora do programa Fiel Torcedor
Vamos lá: o Fiel Torcedor é um dos melhores programas do Brasil. Que precisa melhor sempre, precisa. Só que você paga uma mensalidade e tem desconto no ingresso de até 40%. Então, esses 60% do valor do ingresso que você pagou a mais, são uma renda de sócio-torcedor ou não? Juntando isso com a mensalidade, é o programa que mais arrecada no futebol brasileiro! Em alguns times aí, você paga R$ 300 por mês e tem direito a três, quatro ingressos. Isso é programa de sócio-torcedor ou de venda de ingressos? Não sei dizer. Precisa ver como eles colocam nos balanços. Mas, p…, 40% ficam com a Omni e 45%, 55%, 60%, com o Corinthians. E os 40% da Omni são em cima da receita da mensalidade! Nada de ingresso! Eu posso ficar com 95% e pagar toda a despesa, deixando a Omni com 5%. Mas a gente vai assumir os 180 funcionários deles? Toda a tecnologia? Vai de você querer pagar ou não. É opção de negócio. Quem fez o contrato da Omni foi o Luis Paulo Rosenberg, que é um economista. Se ele errou, você acha que ia… Meu! Se você é candidato do Corinthians, precisa atacar alguma coisa, né? Tem que criticar. Faz parte.

Mas é claro que precisamos melhorar depois de nove anos. Vamos procurar ideias novas, buscar mais sócios, dar mais benefícios… Eles falam de colocar o sócio do clube como sócio-torcedor. Isso não vai acontecer nunca! Você pode facilitar que o sócio compre ingressos, mas não torná-lo sócio-torcedor. É que, quando está em campanha, todo o mundo fala tudo!

Candidato da situação, que decorou a sala do comitê com essa frase, irrita-se com as críticas dos concorrentes (foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

Busca por um patrocinador máster
Isso é obrigação de todo o mundo, cara! É uma fonte de renda do clube. Ficou sem o patrocinador de junho para cá (abril, na verdade). Faz parte. É um processo.

Vocês trabalham onde? A empresa de vocês está buscando patrocinador também. Uns conseguem. Outros, não. É um trabalho diário, pô! Agora, vou falar que, se assumir a presidência, consigo o patrocínio amanhã? Isso é mentir! Vou trabalhar para conseguir o mais rapidamente possível.

Publicidade para pequenas empresas
Mas 70% dos patrocínios másters do Brasil são da Caixa, né? Os outros espaços são receitas que você pode pegar ou não. É uma escolha do clube. Sou contra deixar patrocínio pontual no lugar do máster, por exemplo. Alguns acham que deve ser feito. É opção de cada um. E, em relação a empresas menos conhecidas, qual é o problema? Estão pagando? Pô! Talvez elas queiram pagar exatamente porque são pequenas e querem crescer.

Como, sem dinheiro, investir no departamento de futebol
O Corinthians está investindo, né? Foi campeão brasileiro. E vocês dizem que está quebrado, não dizem? Gastou R$ 20 milhões à vista para trazer jogador em janeiro. Queria eu estar quebrado assim. Tenho a minha política. Não faço o que eles fizeram. Não gasto dinheiro em jogador. Gosto de jogador baratinho. Você precisa contratar jogador em ascensão pelo valor mais barato possível. Quando é jogador consagrado, você pode gastar uma fortuna e ter ou não retorno. Contratação boa é aquela que dá certo. Um dos problemas do clube foi esse, gastando quase R$ 300 milhões em contratações nos últimos cinco anos. Da minha parte, pontualmente, até posso apostar em um jogador consagrado. Mas não pagando por isso. Vou gastar € 5 milhões no Vagner Love? Só se bater a cabeça.

Andrés só gastará dinheiro com reforço renomado para o Corinthians “se bater a cabeça” (foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

Planos para as categorias de base
A partir do momento em que terminarmos o CT da base – talvez o maior erro do Mário e do Roberto (Mário Gobbi e Roberto de Andrade, ex-presidentes) –, muita coisa vai melhorar. Com isso, a base estará acoplada ao time profissional e as pessoas ficarão mais em cima. Será um grande passo para o futebol de base do Corinthians, como foi quando o profissional saiu da Fazendinha.

Falam dos porcentuais divididos dos jogadores da base, mas isso nem existe mais. A Fifa proibiu a participação de terceiros há dois anos e meio. E os clubes só não continuam com essa prática porque não podem. Se não fosse a proibição, São Paulo, Corinthians, Palmeiras, Santos e todos os outros venderiam porcentuais para parceiros. O jogador é um ativo do clube. Posso vender uma parte ou não. É que vocês, da imprensa, cobram só os casos dos jogadores que deram certo. Muitos foram vendidos e não viraram nada.

O desafio de assumir um clube que tem sido vencedor em campo
Todos os presidentes têm a obrigação de construir um time vencedor. Vamos tentar manter assim, procurando reforçar o máximo possível. Mas nada de loucuras.

Agora, será muito mais fácil do que da primeira vez em que assumi a presidência (em 2007, ano do rebaixamento à segunda divisão). Pfff…! Não tem nem comparação!

Futuro do gerente de futebol e da comissão técnica
O futebol está ganhando? Então, vamos mexer o mínimo possível. Agora, vai ter que se enquadrar dentro daquilo que eu quero. Quem não se enquadrar naquilo que eu quero que se mude do Corinthians, do treinador para baixo.

Gerente de futebol Alessandro tem respaldo para seguir no clube, mas precisa se adequar à filosofia de Andrés (foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

As pessoas me elogiam porque mantive o Tite depois que perdemos para o Tolima. É porque deu certo, né? Se tivesse dado errado, ele era burro e eu, mais ainda. Como deu certo, somos heróis.

Em relação ao Carille, sou contra fazer contrato de mais de um ano com treinador (Fábio Carille prorrogou o seu vínculo com o Corinthians até o final de 2019). Mas foi feito, e ele é uma grande pessoa, um grande profissional, que conhece muito bem o clube. Está lá há 10 anos.

Cobranças por resultados e relação com a torcida
A minha relação não vai mudar em nada. Será como sempre foi. Quando quiserem falar comigo, vou receber abertamente, sem problema nenhum. É diferente dos outros, que fazem reunião escondidos. Sou candidato e nunca fui falar com as torcidas por causa disso. Todos foram. Eles não falam, né? Comigo, não. Faço às claras. Agora, também sou mais cobrado por ser mais aberto, mais acessível. Fica mais fácil.

Processo de impeachment de Roberto de Andrade
Foi triste para o clube. Não havia motivo para fazer um impeachment dele, mas são opções de cada um.

Conselho Deliberativo dividido em chapinhas, e não mais com um chapão
Sou contra. Deveria ser voto proporcional ou individual. Do jeito que está, virou uma grande guerra dentro do clube. São vários partidos. Fica difícil. Amanhã, qualquer um é eleito presidente e aparecem cinco chapinhas contrárias. Como faz para administrar? Política é dar cargo, e o clube só tem 11 cargos. Todo o mundo quer um. Aí, vai depender da atitude do presidente.

Andrés lidou com um Conselho Deliberativo menos plural após a sua primeira vitória em uma eleição presidencial (foto: Marcelo Ferrelli/Gazeta Press)

E não é questão de o chapão ser pior ou não. As chapinhas têm 24 donos, cada um com a sua. Quem ganhar vai querer algo para te apoiar. Assim, começa. É por isso que falo que deveria ser voto proporcional ou individual.

Mas será uma eleição com um contexto diferente, sim. Podem ter mais ou menos votantes do que o de costume. Muita gente vai ao clube para eleger o presidente e acabará não votando em chapinha nenhuma. Todo o mundo tem um amigo em uma chapinha. E cada cidadão pode votar em uma chapinha só. Talvez uma chapinha seja eleita com 40 votos. Que representatividade é essa em um eleitorado de 3.000, 4.000 pessoas?

Chances de vencer a eleição
A mais difícil eleição para o meu grupo foi a primeira. Não faço estudo algum. Se eles me colocam como candidato a ser batido, é por isso que batem em mim. Pessoas que ficaram sete, oito anos na minha administração estão criticando agora. O Raul Corrêa (aliado do candidato Felipe Ezabella) ficou sete anos e meio no departamento financeiro do clube. Fico triste, mas é uma opção de cada um. Dessa chapa, o que menos ficou na gestão passou quatro anos e meio.

Fui presidente, mas a maioria dos candidatos já teve cargo importante no clube. E não fez nada! O Corinthians é uma responsabilidade. Estou lá desde os 2 anos. Quando você é procurado para ser candidato por uma avalanche de pessoas, não dá para falar “não”, deixar para trás. Algumas coisas não partem de você.

Relacionamento com os demais candidatos
É muito bom com todos. Não tenho problema nenhum.

Investimentos em outras modalidades esportivas
Quem começou com o futsal? Quem começou com a natação? O basquete está voltando agora a pedido de quem? O presidente do Corinthians precisa sempre buscar novos torcedores. Tenho que fazer o garoto de cinco, seis anos virar corintiano. E alguns desses garotos não gostam de futebol. Preferem basquete, vôlei, futebol de salão, esse tipo de coisa. Devemos fazer ações em todos os lugares, como foi na Fórmula Truck, para atrair esses garotos apaixonados.

Querendo cativar garotos, Andrés apostou até na Fórmula Truck quando estava na presidência do Corinthians (foto: acervo/Gazeta Press)

Hoje, o Corinthians está fazendo algumas parcerias, como no vôlei. Tudo depende do projeto. O basquete foi feito por nós mesmos porque não tinha com quem montar parceria. Cada negócio é um negócio. Agora, com vôlei, basquete, futebol de salão e natação, o clube já está mais ou menos representado. E não adianta entrar meia-boca nos campeonatos, que vai ter problema. O Corinthians precisa ser competitivo até em cuspe à distância.

Quanto ao Parque São Jorge, vamos fazer o quê? Em três anos, não dá. Posso começar um projeto, discutir ideias, como derrubar a Fazendinha e construir uma arena multiuso. Há 1.000 possibilidades. Vamos ver o que se viabiliza. Só não será feito em três anos.



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