Donas da torcida - Gazeta Esportiva

04/27/2023 07:00:06
 

Por Rodrigo Matuck – Santos/SP

A Vila Belmiro contou com um público diferente na noite desta quarta-feira. Apenas mulheres, crianças de até 12 anos e pessoas com deficiência puderam assistir à vitória de 1 a 0 do Santos sobre o Botafogo-SP, pela partida de volta da terceira fase da Copa do Brasil de 2023.

A medida foi em virtude de uma punição referente à invasão de torcedores santistas no clássico contra o Corinthians, nas oitavas de final da Copa do Brasil do ano passado.

Antes da partida começar, o clima era de muita tranquilidade no entorno da Vila Belmiro. Normalmente cheios, os bares que rondam o estádio estavam com o movimento fraco. O público chegou tarde. Muitas pessoas entraram já com a bola rolando.

Nas arquibancadas, as torcedoras ficaram nos setores 1, 2, 17 e 25 e nas cadeiras cativas. O setor destinado às torcidas organizadas (7 e 8) ficou fechado. A maior concentração de pessoas foi no setor 1 e 2. Era lá onde os cânticos eram puxados.

Antes do apito inicial, os jogadores do Santos tiveram bastante incentivo das arquibancadas. Nos primeiros minutos, o time correspondeu em campo e animou ainda mais as fãs. Contudo, com o passar do tempo, os gritos de apoio passaram a dar lugar para a apreensão e cobranças.

O primeiro tempo terminou 0 a 0 e com vaias na Vila Belmiro. Já na volta do intervalo, veio o alívio. Com cinco minutos, Messias marcou de cabeça e, enfim, desentalou o grito de gol dos torcedores, que foram à loucura. A partir de então, o jogo caiu de rendimento e, consequentemente, o clima nas arquibancadas esfriou. O público só voltou a fazer barulho após o apito final, com a vitória confirmada.

Apesar do sofrimento dentro de campo, a experiência foi aprovada pela torcida. Presente na maioria das partidas do Santos no Urbano Caldeira, Anita destacou a importância de dar mais espaço e voz às mulheres.

“A Vila podia estar mais cheia, acho que teve um problema na hora da cobrança dos ingressos, isso prejudicou o público. Mas acho legal ver pessoas que as vezes não se sentem tão à vontade de estarem em um jogo normal, estarem se sentindo donas da torcida. É muito legal ver essas crianças imitando os torcedores mais velhos. Você consegue ver quanto eles estão felizes de terem a voz ouvida. Apesar de ser a punição por algo ruim, dá mais espaço para nós, que muitas vezes fica invisível no futebol”, disse a alvinegra, que também cobrou por um futebol melhor.

“As pessoas estão tentando incentivar e cobrar também, pois precisa de um futebol melhor. Mas estou sentindo um ambiente muito saudável. Um clima tranquilo e que todos podem aproveitar, apesar do futebol”, completou.

Outro ponto que chamou atenção foi a segurança. As torcedores alegaram se sentir mais tranquilas na partida. Assim, além de crianças, também foi possível ver muitas idosas sentadas nas cadeiras da casa santista.

“Você fica mais tranquila, pois as mulheres vêm para se divertir e torcer para o time do coração. Os homens parecem que vem para o estádio para brigar. Incrível, né?”, comentou Idalba, que foi ao estádio acompanhada da sua irmã Gláucia, que completou: “A gente percebe que as crianças ficam muito felizes. Eles torcem bastante. A gente também acaba torcendo. É muito gostoso, achei bem melhor do que quando estão os homens. Assim eu estou achando bem melhor, mais tranquilo”.

Em entrevista coletiva, o técnico Odair Hellmann valorizou e agradeceu as 1.788 pessoas que estiveram na Vila Belmiro nesta quarta-feira.

“Agradecer a mulheres e crianças que vieram. Fizeram a diferença, com certeza, deram um brilho todo diferente. Essa vitória é para todos, claro, mas é especial para quem esteve presente aqui e conseguiu motivar esses jogadores”, disse o comandante.

O Santos volta a campo agora no próximo sábado, contra o América-MG, na Vila Belmiro, sem restrições de torcida. A bola rola a partir das 18h30 (de Brasília).