"Ayrton não habita mais a esfera do tempo e do espaço" - Gazeta Esportiva
Lorenzo Meyer*
São Paulo, SP
05/02/2019 08:00:59
 

Grande símbolo do patriotismo, Ayrton Senna é um marco na vida dos brasileiros que vivenciaram seus feitos. Quando o piloto entrava em pista, todos acordavam nos domingos pela manhã, ligavam a televisão e esperavam ansiosamente pelo tricampeão da Fórmula 1 cruzar a linha de chegada na ponta para levantar a flâmula verde e amarela.

Em uma nação desacreditada por conta de um momento social, político e econômico difícil, seu acidente na Tamburello foi um dos grandes baques da história. Não há quem não se lembre o que estava fazendo no momento em que sua morte foi anunciada pela imprensa. Ayrton deixou nos corações dos brasileiros a marca de alguém que lutou pelos seus sonhos e orgulhou seu povo até o último instante de sua existência, como reiterou sua sobrinha Bianca Senna.

Senna significa o exemplo de alguém que não teve medo de chegar no seu sonho e, mais do que tudo, de ser brasileiro, de ter orgulho de ser brasileiro, de amar sua nação. A gente precisa muito ter isso no Brasil

Viviane Senna ao lado de Xuxa durante o Senna Day (Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

Passados 25 anos, Senna segue vivo na memória dos compatriotas. Mesmo aqueles que não viram o piloto em pista, sabem das alegrias que deu ao Brasil e, principalmente, dos valores em que se baseou para construir uma trajetória vitoriosa. Responsável por manter ativo o Instituto Ayrton Senna, idealizado pelo ídolo nacional em seu último ano de vida, Viviane Senna comentou os princípios que fizeram do irmão uma personalidade imortal na memória brasileira.

“A gente olha o Ayrton e acha que ele era mágico, porque ele ganhava na chuva, ganhava de todos os jeitos. Achamos que ele fazia isso magicamente, mas não é bem assim. Ao lado do talento, que de fato tinha, ele possuía algo que era tão importante quanto, que era garra, determinação, disciplina, trabalho duro e persistência. Isso foi o que levou ele a desenvolver esse talento em potencial numa capacidade que o fez ganhar”, disse.

“Se ele tivesse só o talento, como o (Albert) Einstein tinha um potencial incrível na matemática, não seria suficiente. Você precisa ter sempre a atitude certa para desenvolver o potencial. É preciso garra, determinação, disciplina, foco, não desistir no primeiro fracasso, não desistir nas primeiras dificuldades. E o Ayrton fazia isso, então, é muito diferente pensar que isso é só talento. Tem toda uma postura, os valores, que estão por trás dessas vitórias. Serve para um piloto ganhar uma corrida e para qualquer pessoa dar certo na área em que escolher para a vida, qualquer profissão, casamento, em qualquer área a gente precisa ter esses valores”, completou.

25 anos após a morte de Senna, Viviane não poupou palavras nem comparações para exaltar o irmão. Segundo ela, o piloto entrou na classe de pessoas “míticas”, como Mahatma Gandhi, ativista indiano a favor da não-violência, e Nelson Mandela, líder sul-africano.

“Tem uma geração grande que nem chegou a ver Ayrton, não tinham nem nascido, e, quando você encontra as pessoas, falam dele como se tivessem assistido. Aí eu pergunto: ‘Como você sabe?’ ‘Meu pai contou, minha mãe falou, a gente viu o filme junto, as corridas, meu pai foi explicado tudo o que acontecia e eu sou mega fã do Ayrton, acho ele um máximo’. Então não importa a geração, é uma coisa que independe do tempo, do espaço”, disse Viviane.

Ayrton ultrapassou a categoria de pessoa famosa, ele entrou em uma categoria mítica, que vai além do tempo e do espaço. Não habita mais essa esfera do tempo e do espaço, como (Mahatma) Gandhi e (Nelson) Mandela, pessoas que são assim. Eu acho que o Ayrton está nesse patamar.

*Especial para a Gazeta Esportiva



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