Reeleito por 12 a 0 e procurações, Argolo vive isolamento no NE - Gazeta Esportiva
André Sender e Bruno Ceccon
São Paulo (SP)
05/14/2015 00:22:04
 

Na presidência da Confederação Brasileira de Surfe (CBS) desde 2010, o baiano Adalvo Argolo foi reeleito por unanimidade para mais quatro anos à frente da entidade no fim de 2013, em um pleito com dois terços dos votos por procuração e apoio maciço do Nordeste.

Este é o quarto capítulo da série especial de reportagens Tempestade no Deserto da Gazeta Esportiva, retratando os problemas de organização do surfe. O esporte ganhou atenção repentina do público brasileiro após o inédito título de Gabriel Medina no Circuito Mundial (WCT) em 2014. Nesta semana, o Rio de Janeiro recebe a etapa nacional do campeonato.

A reeleição de Adalvo Argolo ocorreu na cidade de Fortaleza, capital cearense. Das 18 entidades filiadas à CBS, apenas 12 participaram da votação, oito via procuração. O dirigente baiano venceu o pleito de forma unânime, já que a oposição não foi capaz de concretizar uma chapa.

A Federação de Surfe do Rio de Janeiro (Feserj) e a Associação Brasileira de Surfe Profissional (Abrasp) não compareceram nem enviaram representantes. Já quatro filiados à CBS não puderam participar em função de pendências com a entidade, entre eles a Federação Paulista de Surfe (FPS) e a Federação Catarinense de Surfe (Fecasurf).

“Não pago taxa de uma coisa que não está me trazendo nada de volta. Para mim, a Confederação não existe. A entidade máxima não tem credibilidade”, disse Silvio da Silva, o Silvério, presidente da FPS, para quem a eleição foi um jogo de cartas marcadas. “Nem valia a pena montar uma chapa de oposição. A coisa já estava ganha.”

A série de procurações, para o presidente da FPS, compromete a legitimidade da eleição. A prática, no entanto, é permitida pelo estatuto da CBS e costumeira nos pleitos da entidade, em que uma pessoa pode até se apresentar como procuradora de mais de uma filiada.

dalvo Argolo comanda a Confederação Brasileira de Surfe desde 2010 e tem mandato até 2017 (Foto: Acervo Pessoal)
Adalvo Argolo comanda a Confederação Brasileira de Surfe desde 2010 e tem mandato até 2017 (Foto: Acervo Pessoal)

“Se o dirigente já tem sua preferência definida, não há necessidade de gastar dinheiro para ir lá dar o voto e depois voltar para a casa. Na primeira vez que fui eleito também quase todos os votos foram por procuração. Sempre é isso”, disse Argolo.

As eleições foram marcadas para o começo de dezembro, mês de alta temporada em Fortaleza, tradicional polo turístico nordestino. Alguns presidentes de federação das regiões Sul e Sudeste interpretaram a data e o local do pleito como uma tentativa de dificultar suas presenças.

Pensando em economizar recursos com passagem e hospedagem, Abílio Fernandes, presidente da Feserj, descartou a possibilidade de viajar e nomeou um procurador do Rio Grande do Norte para oficializar seu voto contra a reeleição de Adalvo Argolo, mas o emissário não foi ao pleito. “O cara me quebrou. Fiquei muito chateado”, lamentou.

“Espero que em 2017 haja mais opção. Sempre digo que não adianta ter oposição se não houver opção. Alegar que a Confederação não funciona e por isso não pagar e não mandar documento é se omitir do processo eleitoral. Você tem que trabalhar para mostrar a opção”, afirmou Adalvo Argolo.

Ao imaginar uma solução, Pedro Falcão, diretor executivo da Abrasp, cita o basquete como exemplo. Com uma confederação desacreditada, o esporte encolheu e perdeu terreno para o vôlei, mas vem dando sinais de recuperação desde a criação de uma liga de clubes para gerir a principal competição nacional, em 2008.

Surfe brasileiro tem guerra política entre CBS e federações, circuito sucateado, dívida... (Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)
Surfe brasileiro tem guerra política entre CBS e federações, circuito sucateado, dívida… (Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

“É difícil mudar essa questão política. No basquete, criaram a liga nacional e depois o pessoal se uniu. No futebol, existia o Clube dos 13. O surfe tem que buscar uma liga, encontrar o próprio caminho e se organizar. Não adianta ficar falando mal sem arrumar a casa”, declarou.

Na reeleição de Argolo, os únicos a votar de corpo presente foram Amélio Júnior, da Federação Cearense de Surfe, Ailton Júnior, da Associação Brasileira de Surfe Universitário, sediada em Fortaleza, e Noélio Sobrinho, da Associação Brasileira de Surfe na Pororoca e da Federação Paraense de Surfe.

O isolamento no Nordeste é uma das marcas da gestão de Argolo à frente da CBS. No ano passado, das quatro etapas do Circuito Brasileiro, três foram realizadas na região e uma no Norte. Em 2015, o torneio nacional, boicotado por São Paulo e Santa Catarina, também não passará por outras regiões.
Com o município de Ilhéus como reduto, Argolo presidiu a Federação Baiana de Surfe (FBS) antes de assumir o cargo máximo da CBS. Atualmente, Brício Argolo, irmão do mandatário, é vice da entidade do Estado, onde a família tem lojas de surfwear.

“O que está acontecendo acaba rasgando o Brasil ao meio, como nas eleições. Para mim pode fazer quatro etapas no Pará, não tem problema nenhum. Pode ser no Norte ou na Paraíba. Esse não é o problema. Poder ser tudo lá, ou tudo aqui. O problema é a falta de transparência”, declarou Silvério.



×