Dívida da CBS afasta brasileiros de competições internacionais - Gazeta Esportiva
André Sender e Bruno Ceccon
São Paulo (SP)
05/13/2015 00:09:22
 

Os atletas do Brasil estão afastados das competições da Associação Pan-Americana de Surfe (Pasa) desde 2009 porque a Confederação Brasileira de Surfe (CBS) deve US$ 6 mil à entidade internacional. Contraído na realização do Pan-Americano daquele ano, em Ilhéus, o débito impede a participação de representantes nacionais nos eventos organizados pela instituição e também o voto do País nas assembleias.

Este é o terceiro capítulo da série especial de reportagens Tempestade no Deserto da Gazeta Esportiva, retratando os problemas de organização do surfe. O esporte ganhou atenção repentina do público brasileiro após o inédito título de Gabriel Medina no Circuito Mundial (WCT) em 2014. Nesta semana, o Rio de Janeiro recebe a etapa nacional do campeonato.

“É importantíssimo contar com o Brasil nos Jogos Pan-Americanos e em todos os processos. O País é protagonista não apenas no surfe pan-americano, mas mundial. É um dos que congregam a maior quantidade de surfistas. Juntos, Brasil e Estados Unidos respondem por mais de 50% do surfe nas Américas”, disse o peruano Karin Sierralta, vice-presidente da Associação Internacional de Surfe (ISA) e eleito em janeiro para dirigir a Pasa.

O Brasil venceu nove das dez edições já realizadas do Campeonato Pan-Americano de Surfe e utilizava o evento para dar experiência internacional a algumas de suas principais promessas. Em 2009, na Bahia, o ganhador da categoria júnior foi Gabriel Medina, que cinco anos depois se tornou o primeiro atleta nacional campeão do WCT.

A dívida foi originada justamente na competição vencida por Medina. O Brasil assegurou em 2007 o direito de receber a edição seguinte do evento, programada para 2009. A CBS, então dirigida pelo paranaense Juca de Barros, cedeu a organização e promoção do campeonato à Federação Baiana de Surfe (FBS), cujo mandatário era Adalvo Argolo, à época também vice-presidente da CBS.

No Pan-Americano de 2009 (à esquerda), jovem Gabriel Medina ganhou experiência para ser campeão mundial (Fotos: Divulgação)
No Pan-Americano de 2009 (à esquerda), jovem Gabriel Medina ganhou experiência para ser campeão mundial (Fotos: Divulgação)

Por contrato, a organização seria responsável pelo custeio dos exames antidoping dos atletas, o que segundo a Pasa não ocorreu. As passagens até o Brasil da havaiana Maile Aguerre, então presidente da entidade continental, e do norte-americano Paul Walker, secretário, também ficaram pendentes. Os débitos acabaram assumidos pela Pasa, que ainda não foi ressarcida.

“Desde que conheço o Adalvo, sempre vi nele uma vontade muito grande de ter poder, de mandar em todo o mundo, de fazer as coisas como queria. Ele já me propôs montar um campeonato ‘para que a gente pudesse ganhar dinheiro’. Por fora é realmente muito simpático e acaba ganhando as pessoas na lábia, mas na verdade é uma pessoa perigosa”, acusou Maile Aguerre, que presidiu a Pasa até o começo de 2015.

À Gazeta Esportiva, Adalvo Argolo, presidente da CBS desde 2010, negou a pendência. De acordo com ele, as passagens eram responsabilidade de outra empresa, contratada em um pool de companhias para realizar o Pan-Americano de 2009. O dirigente alega não haver provas do débito da entidade que dirige, embora a nova administração da Pasa sustente a existência da dívida.

“Não sei como ficou. A Maile disse ter combinado com o pessoal que compraria as passagens e seria reembolsada aqui. Mas eu, particularmente, não sei dessa história”, disse o brasileiro. “Ela é uma pessoa superlegal, de cabeça boa e ofereceu muito ao surfe, não só das Américas, mas do mundo. Tem todos os méritos, mas infelizmente a época que pegou na Pasa não foi uma gestão legal”, completou.

Por causa da dívida, o Brasil não pôde participar da edição de 2011 do Pan-Americano, na Ilha de Guadalupe, nem votar nas eleições da entidade naquele ano. Em 2013, o torneio seria realizado na República Dominicana, mas acabou cancelado. Argolo considera o evento caro e de baixo nível técnico. “É até chato falar isso, mas nossos atletas não querem competir contra Argentina e Venezuela”, disse.

Por contrato, organização do Pan-Americano de 2009 deveria arcar com exames antidoping e passagens aéreas (Foto: Repodução)
Por contrato, organização do Pan-Americano de 2009 deveria arcar com exames antidoping e passagens aéreas (Foto: Repodução)

Já sem apoio significativo entre os filiados da Pasa, Maile Aguerre resolveu não participar das últimas eleições. O peruano Karin Sierralta, como candidato único, venceu o pleito realizado em janeiro e recebeu uma doação de US$ 500,00 de sua antecessora, preocupada com os sérios problemas financeiros da entidade. A CBS não pôde votar por causa da dívida de 2009.

Buscar recursos financeiros e retomar contato com os países que se afastaram da Pasa, entre eles o Brasil, está entre as prioridades de Sierralta como novo presidente da entidade. Para ser eleito, ele contou com apoio de Adalvo Argolo, com quem espera conversar em breve para chegar a um acordo em torno da dívida originada em 2009.

“Tenho uma relação muito boa com o Adalvo, a quem considero um amigo. Nesse momento, mais importante do que o dinheiro é que o Brasil se reintegre. Minha ideia é buscar uma maneira de reduzir a dívida ao máximo e encontrar uma forma para que o País financie esse valor. Sei que posso chegar a um acordo com o Adalvo, há muito diálogo entre nós”, afirmou Sierralta.

Com o cancelamento do Campeonato Pan-Americano de 2013, o evento está paralisado desde 2011. No próximo mês de outubro, o novo presidente da Pasa planeja retomar a disputa com uma edição no Peru, de preferência com a presença do Brasil.

“Disputar o Pan-Americano é importante para que os jovens surfistas brasileiros consigam mais visibilidade para suas carreiras e sigam o caminho de competir em alto nível”, disse Sierralta, com o sonho de promover no País uma versão universitária ou escolar do evento. “É importante para a Pasa voltar a realizar competições no Brasil”, afirmou.



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