Fifa inicia nova guerra no futebol com projeto de Copa do Mundo bienal - Gazeta Esportiva
Fifa inicia nova guerra no futebol com projeto de Copa do Mundo bienal

Fifa inicia nova guerra no futebol com projeto de Copa do Mundo bienal

Gazeta Esportiva

Por AFP

10/09/2021 às 20:31

São Paulo, SP

Ao planejar uma Copa do Mundo a cada dois anos em vez de quatro, a Fifa está colocando o futebol em uma nova guerra, com o risco de divórcio dos clubes e das ligas europeias. Já proposta e descartada nos anos 1990, a ideia de uma Copa do Mundo bienal ressurgiu nos últimos meses. O francês Arsene Wenger, diretor de desenvolvimento da Fifa, ficou encarregado de defendê-la na mídia na semana passada.

Mas não é uma iniciativa isolada. No final de maio, a entidade mundial iniciou "um estudo de viabilidade" solicitado pela Federação Saudita, junto ao presidente da Fifa, Gianni Infantino. O dirigente ítalo-suíço disse estar aberto "a tudo" na reforma do calendário com o único objetivo de combater a desigualdade no futebol.

Uma fase final a cada ano

O principal argumento da Fifa é que organizar a Copa do Mundo a cada dois anos significa mais receita a ser distribuída entre as federações, principalmente as africanas, asiáticas e sul-americanas, mais dependentes do grande torneio do que o próspero futebol europeu.

Segundo Wenger, a ideia seria ter a fase final de um torneio a cada verão a partir de 2025-2026, alternando Copas do Mundo e competições continentais como a Eurocopa e a Copa América, juntando todas as Eliminatórias em outubro ou em outubro e março. Desta forma, os jogadores de seleções reduziriam as viagens longas e se beneficiariam de "pelo menos 25 dias" de descanso após as suas competições do verão europeu.

Presidente Gianni Infantino e diretor de desenvolvimento Arsene Wenger (Foto: Karim Jaafar/AFP)


O presidente da Uefa, Aleksander Ceferin, criticou esta proposta em meados de junho, julgando-a "impossível" em uma entrevista à AFP, mas o debate ressurgiu esta semana. Segundo Infantino, "uma decisão" será tomada antes "do final do ano".

Nesta segunda-feira, Ceferin argumentou que o aumento da frequência do torneio, que acontece a cada quatro anos desde 1930 (1991, nas competições femininas), iria "diluir" a "joia" do futebol mundial.

A Associação Europeia de Clubes (ECA) estimou que "não há lugar" no calendário atual para uma fase final a cada ano, especificando que não recebeu "nenhuma proposta concreta" da Fifa para discuti-la.

Vários treinadores criticaram a ideia de uma Copa do Mundo bienal, como Jurgen Klopp (Liverpool), que avalia que neste projeto "só o dinheiro importa".

Para a Conmebol, uma Copa do Mundo a cada dois anos poderia "distorcer" a competição, "rebaixando sua qualidade e prejudicando seu caráter de exclusividade e seus atuais padrões de exigência".

Por fim, o Fórum das Ligas Mundiais (WLF) prometeu na quarta-feira "enfrentar" este projeto que atende "aos interesses de curto prazo da Fifa em detrimento da economia do futebol e da saúde dos jogadores".

Maioria silenciosa?


Mal posicionada na batalha de opiniões, a Fifa se apoiou em um punhado de ex-jogadores e treinadores em Doha nesta quinta-feira. "Todos estamos de acordo", disse o dinamarquês Peter Schmeichel à imprensa, enquanto o brasileiro Ronaldo garantiu que, se alguém perguntar a Messi ou Cristiano Ronaldo, "eles dirão que sim".

Apesar das reações negativas, é a FIFA que detém a chave para a decisão final, por meio de seu comitê executivo e de seu congresso. No momento, os adversários declarados do projeto são minoria. Mesmo que a entidade internacional atinja o seu objetivo, os clubes europeus podem não concordar em ceder seus jogadores durante vários meses e assumir um risco maior de lesões.

A recente recusa de alguns clubes ingleses em liberar seus atletas para países com alto risco de covid-19 ilustra o que pode ser sua guerra com a Fifa, que pode ter seus planos levados à Justiça.

Finalmente, Ceferin alertou na quinta-feira no jornal The Times sobre um boicote das federações europeias, cujos países venceram as últimas quatro Copas do Mundo. "Podemos decidir não jogar. Pelo que eu sei, os sul-americanos estão na mesma linha, então boa sorte em uma Copa do Mundo como essa", disse ele.

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