Atrasos, poluição e dúvidas: o Rio de Janeiro a um ano das Olimpíadas - Gazeta Esportiva
Atrasos, poluição e dúvidas: o Rio de Janeiro a um ano das Olimpíadas

Atrasos, poluição e dúvidas: o Rio de Janeiro a um ano das Olimpíadas

Gazeta Esportiva

Por Juliana Arreguy*

05/08/2015 às 09:00 • Atualizado: 05/08/2015 às 09:55

São Paulo, SP

Quando a candidatura do Rio de Janeiro para cidade-sede das Olimpíadas de 2016 foi anunciada, em 2008, o governo brasileiro calculou que, ao todo, o evento custaria R$ 28 bilhões aos cofres públicos. Com a confirmação da capital fluminense como sede, no ano seguinte, a prefeitura prometeu projetos e obras que visavam deixar um legado olímpico ao município, buscando beneficiar futuras gerações com o maior incentivo esportivo em diversas modalidades.

Mas a um ano do início dos Jogos, a realidade do Rio de Janeiro é contemplada por atrasos de repasses financeiros da União, obras inacabadas e superfaturadas, além de polêmicas envolvendo alguns dos locais onde serão disputadas determinadas modalidades. Se antes a estimativa financeira para o evento não alcançava a casa dos R$ 30 bilhões, hoje já ultrapassa os R$38,2 bi, superando os gastos da Copa do Mundo de 2014, que ficaram em torno de R$ 27,1 bi.

Do valor estimado, R$ 24,6 bilhões são destinados ao legado olímpico, que prevê também melhorias na infraestrutura da cidade. De acordo com o Comitê Organizador do Rio, R$ 7,4 bilhões de despesas são de orçamento privado, que é responsável pela logística do evento - incluindo o transporte dos atletas e a organização das competições e cerimônias. O restante, portanto, ficaria para a compra de equipamentos especializados e a construção de ginásios e arenas.

 Marina da Glória corre risco de "perder" competições de vela por excesso de poluição (Foto: VANDERLEI ALMEIDA/AFP)
Marina da Glória corre risco de "perder" competições de vela por excesso de poluição (Foto: Vanderlei Almeirda/AFP)


Obras atrasadas obrigam Rio a acelerar processo no ‘contra-relógio’

Segundo o jornal Valor Econômico, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, teria reclamado da demora em receber a verba da União para a realização das obras, fruto dos cortes de orçamento feitos em 2015 pelo governo de Dilma Rousseff. Sem o dinheiro em mãos de prontidão, a própria prefeitura estaria gerenciando os preparativos. Para ele, o principal inimigo na organização dos Jogos Olímpicos tem sido a burocracia imposta no repasse financeiro.

Se no início do ano o discurso era de que não haveria atrasos na entrega das instalações para o evento mundial, a realidade já aponta o contrário. O próprio portal de transparência do governo já dá a construção do velódromo como atrasada – com 51,24% dos procedimentos concluídos, a expectativa é que a obra fosse entregue em dezembro deste ano. Localizado na região da Barra da Tijuca, o local contém 14 das 31 instalações e é considerado o principal ponto dos Jogos, principalmente por abrigar a Vila Olímpica. Também na Barra, o Centro Olímpico de Tênis é outra obra que deve ser entregue após o prazo final, apesar do status de “normal” apontado pela organização do evento. Com a data de finalização prevista para o dia 21 deste mês, apenas 60.62% da construção foi concluída.

Os procedimentos do Parque Olímpico têm sido realizados pelo consórcio Rio Mais, formado pelas construtoras Odebrecht, Andrade Gutierrez e Carvalho Hosken. As duas primeiras têm sido investigadas na operação Lava-Jato, embora algumas autoridades afirmem que a situação não deve interferir no planejamento das Olimpíadas.

Centro Olímpico de Tênis preocupa pelo atraso nas obras (Foto: YASUYOSHI CHIBA/AFP)
Centro Olímpico de Tênis preocupa pelo atraso nas obras (Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP)


"Sabemos que a cobertura da imprensa sobre o assunto é grande, mas as obras olímpicas estão sendo feitas em consórcios robustos. O que o Comitê Organizador informou aos membros do COI (Comitê Olímpico Internacional) é que não há qualquer problema com as obras", afirmou o diretor executivo do COI, Christophe Dubi, em fevereiro deste ano.

Outras três regiões da cidade ficarão encarregadas de receber as modalidades: Deodoro, Maracanã e Copacabana. Na primeira, o complexo esportivo deveria ser entregue em fevereiro de 2016, mas já consta como atrasado no cronograma: apenas 42,98% da obra está pronta. O local abrigará modalidades como basquete, pentatlo, hóquei sobre grama, rúgbi, hipismo, tiro esportivo e ciclismo.

Já na Região Maracanã, o Engenhão deveria estar livre de reparos desde novembro de 2014. No entanto, uma reforma no reforço estrutural da cobertura do estádio ainda é prevista pelo consórcio que cuida da obra, formado pelas empresas Odebrecht e AOS. Interditado em março de 2013, o local só foi reaberto em fevereiro deste ano.

Baía de Guanabara: risco à saúde e ao evento

Além da atenção com as obras inacabadas, outra preocupação passou a rondar o cenário pré-Olimpíadas no Rio de Janeiro: a poluição na Baía de Guanabara, na praia de Copacabana e na Lagoa Rodrigo de Freitas.

Atletas de modalidades como vela, canoagem, triatlo e maratona aquática precisarão encarar águas semelhantes ao esgoto, com altas taxas de poluição. Uma reportagem divulgada pela AP (Associated Press) no mês de julho mostrou níveis perigosos indicando a presença de vírus e bactérias nos locais, colocando em risco a saúde dos competidores. A rota de fuga à Baía seria levar as competições da vela para o mar aberto.

Na ocasião da candidatura olímpica, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, falou em realizar mais investimentos na infraestrutura de saneamento básico da cidade, prometendo a limpeza de até 80% da Baía de Guanabara. Sete anos depois, com a investigação da AP vindo à tona, o político até lançou uma tentativa de ampliar o programa de despoluição, mas admitiu que nada pode ser feito a tempo dos Jogos.

“Nós erramos, eu não vou errar de novo, é minha fala. Quero acertar, estou trazendo as universidades, os ambientalistas, a população e todos os órgãos do governo”, anunciou o governador na última semana ao apresentar o novo projeto. Um acordo foi feito entre sete universidades e três institutos de pesquisa para apresentar soluções e melhoras na limpeza do local. “Vamos juntar todas as opiniões ver o quanto isso que estamos investindo vai impactar para poder falar esses números”, complementou.

Baía de Guanabara pode oferecer risco sério à saúde de 1400 atletas (Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP)
Baía de Guanabara pode oferecer risco sério à saúde de 1400 atletas (Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP)


O legado olímpico

Mesmo com as dificuldades citadas acima, há quem enxergue a execução dos Jogos em 2016 com otimismo. Marcus Vinícius Freire, diretor executivo de esportes do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), avaliou o rendimento de atletas brasileiros em competições olímpicas de alta relevância em 2015.

"Está sendo o melhor quadriênio da história olímpica brasileira. Depois de Londres nós acompanhamos que em 2013 foram 27 medalhas em Campeonatos Mundiais ou competições equivalentes e em 2014, conquistamos 24 medalhas. Duas marcas nunca antes atingidas nos primeiros e segundos anos do ciclo. Agora, em 2015, tivemos os Jogos Pan-Americanos de Toronto, onde ficamos na terceira colocação do quadro de medalhas. Neste ano, ainda temos vários importantes mundiais, que servirão de parâmetro para o que pretendemos avaliar em relação aos Jogos Rio 2016. Já estamos na fase de atacarmos os detalhes, mas os ajustes sempre podem ser feitos", afirmou Freire.

Com 353 vagas garantidas, a expectativa do COB é de ter 400 atletas participando das Olimpíadas. O gerente geral de performance esportiva, Jorge Bichara, já traçou a estratégia brasileira para os Jogos observando a demanda de medalhas em cada modalidade.

"Desde que montamos o mapa estratégico do COB em 2009, identificamos a necessidade de conquista de medalhas de no mínimo 12 modalidades em 2016. Desta forma, focamos o investimento em um número superior a isso. Seria impossível selecionarmos as 12 e ganhar medalhas em todas elas. Por isso temos uma abrangência maior. A preparação é a melhor possível, mas a diferença entre um atleta medalhista e outro não será definida em centímetros ou milésimos de segundo", disse.

Participação do Brasil no Pan (foto) foi bem avaliada por autoridades do COB, que esperam bom desempenho nas Olimpíadas (Divulgação/COB)
Participação do Brasil no Pan (foto) foi bem avaliada por autoridades, que esperam bom desempenho nas Olimpíadas (Divulgação/COB)


Evento-teste inicia contagem regressiva


A contagem regressiva para as Olimpíadas do Rio de Janeiro inicia já nesta quarta-feira. A presidente Dilma Rousseff se encontrará com o presidente do COI, Thomas Bach, o governador Pezão, o prefeito Eduardo Paes e o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, em um evento realizado na própria capital fluminense. Medalhistas de edições anteriores e representantes de delegações internacionais também estarão presentes.

No mesmo dia, terá início o Campeonato Mundial Júnior de Remo, que servirá de evento-teste da modalidade. Já na quinta-feira, as instalações do hipismo, na Região de Deodoro, também serão testadas.

A 365 dias do início dos Jogos Olímpicos, ainda há muitas obras inacabadas (Foto: Vanderlei Almeida/AFP)
A 365 dias do início dos Jogos Olímpicos, ainda há muitas obras inacabadas (Foto: Vanderlei Almeida/AFP)


*especial para a GE.net

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