"Precursor" e ex-técnico de Carille, Eduardo Amorim vê Derby como essencial - Gazeta Esportiva
Tomás Rosolino
São Paulo (SP)
02/22/2017 06:43:43
 

Comandante do Corinthians campeão paulista e da Copa do Brasil em 1995, Eduardo Amorim até tenta, mas não consegue se lembrar do lateral esquerdo Fábio Luiz, que treinou com ele durante boa parte daquela temporada, mas não foi aproveitado. “Fábio Luiz? Fábio Luiz, lateral… Olha, não estou lembrando, não”, disse o ex-técnico alvinegro por telefone à Gazeta Esportiva, sem lembrar de um dos laços que o liga ao seu ex-atleta, hoje conhecido como Fábio Carille, treinador do Timão.

Pouco marcante como jogador, Carille e seu momento atual suscitam ao antigo chefe lembranças do período em que esteve à frente do clube do Parque São Jorge. Conduzido ao cargo em situação semelhante à do técnico de hoje, após alguns anos como auxiliar, Amorim sabe reviver como ninguém a receita do sucesso utilizada naquela época e a desconfiança enfrentada por não ter experiência na função. Algo superado, principalmente, por vitórias em clássicos como o que o Corinthians terá pela frente nesta quarta-feira, diante do Palmeiras, às 21h45 (de Brasília), no estádio de Itaquera.

Dono de triunfos marcantes sobre o arquirrival, incluindo o obtido na decisão do Estadual de 1995, com golaços de Marcelinho Carioca e Elivélton para selar um título celebrado perante a um Palmeiras que dominava o futebol nacional à época (bicampeão brasileiro), Amorim torce para que Carille consiga vitórias marcantes que lhe deem maior sossego para trabalhar.

“Tem que ser um jogo apertado e convincente, senão o pessoal cai em cima. Até sendo um placar magro, se for resultado adverso, será perigoso. O pessoal começa a falar que não tem força pra jogar com time grande. Tem que ganhar e ser Corinthians, porque o Corinthians sempre briga até o final”, disse o mineiro de 67 anos, relembrando a estreia com vitória por 2 a 1 frente ao São Paulo de Telê, seguida, semanas depois, por um novo 2 a 1, dessa vez em um Derby, com dois gols de Marcelinho Carioca.

“Começar com um clássico de frente é muito complicado, ainda mais para um cara que não tem moral. Eu sabia que tinha de ganhar para continuar e com o Carille vai ser igual. Na minha vez, deu certo. Nós ganhamos os dois clássicos e aí, no Corinthians, ninguém segura”, avisou, reconhecendo, porém, que a missão é bem mais difícil sem um Marcelinho no time. “Vai ter que viver da garra e da harmonia com o time”, alertou.

Comandado por Eduardo Amorim fora de campo e Marcelinho dentro dele, Corinthians consagrou-se após vencer o Derby na final do Paulista (Foto: Acervo/Gazeta Press)
Comandado por Eduardo Amorim, o Corinthians consagrou-se após vencer o Derby na final do Paulista de 1995 (Foto: Acervo/Gazeta Press)

Gazeta Esportiva: Qual foi a importância dos Derbys na sua passagem pelo Corinthians?

Eduardo Amorim: É uma tradição de torcida, rivalidade, jogo de suma importância. Nós tínhamos um time muito bom quando eu estava no Corinthians, mas o Palmeiras estava embalado por tudo o que fez nos anos anteriores. Clássico é sempre um jogo que marca bastante. Não vai ser diferente na quarta-feira. O Corinthians não atravessa um momento de firmeza, mas no clássico o time sempre cresce.

Gazeta Esportiva: O Palmeiras foi o time que mais investiu na última janela e defende o título de campeão brasileiro. Mas você enfrentou o da Era Parmalat e foi campeão paulista sobre ele em 1995.

Eduardo Amorim:  Nossa, tinha Rivaldo, Roberto Carlos… um monte de jogador de Seleção Brasileira. Já a gente tinha um time mais aguerrido. O Palmeiras tinha um time de mais qualidade técnica, e a gente apostava em alguns jogadores da base, Sylvinho, André Santos, tinha um cara para decidir, como foi o Marcelinho nas decisões. O que posso dizer é que o Corinthians sempre cresce numa hora dessas. Era um time bom e conseguiu superar um Palmeiras tecnicamente superior.

Gazeta Esportiva: Acha que a diferença hoje é parecida?

Eduardo Amorim: Eu vi o jogo do Palmeiras, é uma equipe que está com as contratações caras, mas eu acho que está tudo muito igual ainda. O Palmeiras ganhou do Linense, eu assisti, mas não é um parâmetro de clássico. Tecnicamente, o Palmeiras é superior, mas o Corinthians nessa situação empolga, iguala. Ainda está muito equilibrado. Vai demorar um pouco ainda para estabelecer uma diferença.

Gazeta Esportiva: Ainda falando em 1995, você teve um jogador chamado Fábio Luiz naquela época, lateral esquerdo. Lembra dele?

Eduardo Amorim: Fábio Luiz? Fábio, Fábio… Fábio Luiz, lateral… Olha, eu não estou lembrando, não.

Gazeta Esportiva: Esse jogador hoje é o técnico do Corinthians, Fábio Carille.

Eduardo Amorim: Ah, verdade. Ele fez uns treinamentos, mas não teve aquele convívio direto, sabe? Foi um jogador que esteve no clube, mas não integrou a equipe mesmo. Já tínhamos uma formação bem definida naquela época, encaixada. O Fábio treinou, eu não lembrava, mas já me fizeram lembrar quando ele surgiu como técnico no Corinthians.

Gazeta Esportiva: E o que você tem a falar para o Fábio da sua experiência no clube? O Derby é um divisor de águas?

Eduardo Amorim: Tem que ganhar, tem que convencer. São quatro jogos até agora. Se chegar ao décimo e não convencer, ninguém segura. Eu comecei numa prova de fogo muito difícil. Tinha clássico contra São Paulo, à época com o Telê, e depois tinha o Palmeiras. Começar com um clássico de frente é muito complicado, ainda mais para um cara que não tem moral. Eu sabia que tinha de ganhar para continuar, e com o Carille vai ser igual. Na minha vez, deu certo. Ganhamos os dois clássicos, e, aí, no Corinthians, ninguém segura. O Carille é a mesma coisa, vai ter que convencer. Pelo que eu vivi lá dentro, é muito importante ganhar clássico. Contra o Palmeiras, então, mais ainda.

Gazeta Esportiva: Assim como ele tem enfrentado, você passou por muita desconfiança no começo do trabalho também?

Eduardo Amorim: Muita, você não pode errar. Isso vale para o (Eduardo) Baptista lá no Palmeiras também. Imagina uma derrota como aconteceu no São Paulo e Santos (3 a 1 para o Tricolor na Vila Belmiro)? Tem que ser um jogo apertado e convincente, senão o pessoal cai em cima. Até sendo um placar magro, se for resultado adverso será perigoso. O pessoal começa a falar que não tem força pra jogar com time grande. Tem que ganhar e ser Corinthians, porque o Corinthians sempre briga até o final.

Gazeta Esportiva: Quando as pessoas se convenceram de que você era a pessoa certa para o cargo?

Eduardo Amorim: Teve contestação no início, no meio e lá na reta final da Copa do Brasil teve uma pressão muito grande. No clube, o pessoal falava: “Ele não tem experiência para chegar à final da Copa do Brasil”. Teve esse zum-zum-zum, e eu fiquei sabendo. Era antes da semifinal da Copa do Brasil. Cheguei para os jogadores e falei que precisávamos ganhar. Fomos ao Rio, ganhamos do Vasco por 1 a 0, voltamos e goleamos por 4 a 1 (Nota: o jogo, na verdade, foi 5 a 0). Foi aí que me respeitaram. Já tinha feito algumas coisas, mas isso eu ouvi na época, não entendia por que e tive de lidar. Como sempre, tem que ganhar e convencer, ganhar jogo grande.

Gazeta Esportiva: Então vai demorar para o Fábio Carille chegar a esse patamar de técnico respeitado?

Eduardo Amorim: Olha, para você ter uma ideia, mesmo quando eu estava bem no Corinthians, não fizeram contrato comigo antes de eu ser campeão, esperaram até o último momento. Fui campeão da Copa do Brasil ganhando como auxiliar. Era uma pressão grande, a diretoria estava contando com os dois títulos e queriam um terceiro na Libertadores do ano seguinte. Nós perdemos para o Grêmio e foi aí que eu saí. Hoje é outra história. Se o Carille ganhar um título, está ótimo. Só que ele tem que ganhar, não tem outra solução. Corinthians é isso. É pressão total.

Gazeta Esportiva: Você, pelo menos, não tinha a “sombra” do Tite. Isso atrapalha também?

Eduardo Amorim: Atrapalha muito e vai atrapalhar todos que passarem pelo cargo. O Tite fez um trabalho excelente, convenceu todo o mundo, dentro e fora do Corinthians, isso vai atrapalhar para sempre. Todo o mundo pesa o que ele fez para avaliar quem veio depois. Uma coisa boa é que o Carille foi auxiliar do Tite, e isso eleva um pouco a confiança da torcida. No Palmeiras tem um pouco também, a torcida já até gritou o nome do Cuca. A pressão é essa mesmo, não tem como escapar.

Gazeta Esportiva: Em 1995, para chegar a esses resultados todos, você teve um Marcelinho Carioca inspirado. Desta vez, quem pode ser o Marcelinho Carioca do Carille?

Eduardo Amorim: (Risos) Não tem um Marcelinho, não vejo ninguém que chegue perto dele nesse time do Corinthians. Você vê um jogador como o Romero, se fosse em outra época, já tinha saído há muito tempo do Corinthians. Antes era uma chance. Se não convenceu no primeiro ano, já saía. É um jogador aguerrido, mas não é o cara como era o Marcelinho.

Gazeta Esportiva: Nem o Jadson?

Eduardo Amorim: Mesmo o Jadson não é jogador de levantar a torcida, que vai limpar dois jogadores, sofrer falta, chamar a responsabilidade. O Corinthians sempre teve isso, mas é uma época em que essa figura está escassa. Já o Palmeiras tem mais jogadores, um cara tipo o Dudu, uma defesa boa. O Carille tem que viver da garra mesmo e da harmonia com o time para conseguir se dar bem.