O Novo Horizonte de Eduardo Baptista - Gazeta Esportiva
Bruno Calió
São Paulo (SP)
04/01/2017 11:30:11
 

Pela segunda vez, um membro da família Baptista comandará sua equipe na cidade de Novo Horizonte, cerca de 400km da capital paulista, buscando a glória de seu primeiro título na carreira dentro de São Paulo. 27 anos após Nelsinho encarar o Bragantino na final do Paulistão, seu filho Eduardo treinará o Palmeiras contra o Novorizontino, pelas quartas de final do Estadual.

Em 1990, quando Eduardo tinha apenas 18 anos, Nelsinho comandou o extinto Grêmio Esportivo Novorizontino (o rival do Palmeiras foi criado apenas 2010), na primeira final da história do Campeonato Paulista entre duas equipes do interior. Além do inédito confronto entre os caipiras, o torneio ficou marcado pela revelação de Baptista e Vanderlei Luxemburgo, então desconhecido técnico do Massa Bruta.

(Foto: Reprodução/GazetaPress)

“Acho que houve uma acomodação dos times da capital. Quando eles abriram os olhos, já era tarde demais”, afirmou Nelsinho à Gazeta Esportiva. À época, a chegada dos pequenos à final provocou até mesmo uma crise nos gigantes Palmeiras e Corinthians.

O Campeonato Paulista de 90 foi disputado por 24 times, que avançaram até a terceira e decisiva fase, onde 14 equipes foram divididas em duas chaves. No Grupo Vermelho, o Novorizontino conquistou sua vaga na grande final ao ficar em primeiro lugar, eliminando o Palmeiras, que ficou na segunda posição.

(Foto: Reprodução/GazetaPress)

Na última rodada, o Verdão precisava de apenas uma vitória contra a já eliminada Ferroviária para se classificar, mas acabou empatando por 0 a 0. Já o Novorizontino encarou a Portuguesa e também ficou na igualdade sem gols, garantindo a primeira posição. A queda do Palmeiras no Estadual começou uma crise imediata no clube, que fez grande investimento para a disputa.

Logo após o empate contra a Ferroviária, Márcio Papa, vice de futebol, e Nicola Racciopi, diretor, colocaram seus cargos à disposição do presidente Carlos Facchina. A torcida alviverde, porém, não achou a medida suficiente e invadiu a sede do Palestra Itália, depredando a sala de troféus do clube. Facchina então elaborou uma lista de dispensas no clube e acalmou o ânimo da massa com a contratação de Jorginho Cantinflas, que veio da Portuguesa sob grande badalação.

Do outro lado, a Gazeta Esportiva noticiava o “Carnaval” em Novo Horizonte pela classificação do time local. “No caminho para Novo Horizonte, ao longo da Via Anhanguera, a delegação já era acompanhada pelos ônibus dos torcedores que vieram a São Paulo ver de perto a equipe. O treinador Nelsinho demonstrava uma alegria incontida em virtude da classificação à final”, relata o jornal.

“Com muito empenho, garra e determinação, chegamos à disputa do título. Independentemente de sermos ou não campeões, acredito que o nosso trabalho foi recompensado”, disse Nelsinho Baptista à Gazeta Esportiva, mostrando um discurso modesto, mas que ainda mudaria antes da decisão.

Bragantino também surpreende e elimina o Corinthians

(Foto: Reprodução/GazetaPress)

No Grupo Preto, o Bragantino também conseguiu sua vaga na final com um ponto de vantagem sobre o segundo colocado Corinthians. Ao contrário da classificação do Novorizontino, porém, a disputa entre as equipes foi direta na última rodada, com o Timão precisando do triunfo para avançar. Sob muita chuva, o Massa Bruta se defendeu durante todos os 90 minutos e conseguiu segurar o empate por 0 a 0.

Sob o comando de Vanderlei Luxemburgo, e a liderança do jovem volante Mauro Silva, que depois chegou à Seleção Brasileira, o Bragantino teve a melhor campanha geral da Divisão Especial do Paulista, terminando também como melhor ataque e melhor defesa. Com moral, Massa Bruta levou o embate contra o Corinthians também para fora de campo, com o presidente do clube de Bragança, Nabi Abi Chedid, trocando farpas com o corintiano Vicente Matheus.

Em uma dessas discussões, Chedid, candidato à deputado estadual pela oitava vez, ainda antes de a partida começar, oficializou uma proposta de dois milhões de dólares pela compra do passe de Neto, meia do Timão e que se tornou ídolo no clube.

“Queremos ser campeões do Brasil. O Neto seria um reforço considerável para a nossa equipe. Já tenho esse dinheiro disponível É só o meu amigo Matheus topar, compro o jogador amanhã mesmo”, disse o dirigente e político à Gazeta Esportiva.

Primeiro jogo, semana da decisão e título do Bragantino

(Foto: Reprodução/GazetaPress)

A partida de ida da grande final aconteceu em Novo Horizonte, onde as duas equipes empataram por 1 a 1. O time local abriu o placar, mas sofreu o empate do Bragantino, que, conforme relata a Gazeta Esportiva, foi melhor durante todo o confronto.

Na semana do jogo decisivo, o discurso de Nelsinho Baptista se mostrou muito diferente ao anterior, e a fala do treinador se opôs a de Luxemburgo. Antes se mostrando satisfeito com a classificação do Novorizontino à final, o treinador passou a apostar no título.

“Gostei da atuação do time no jogo de anteontem. Agora o que nos resta é vencer e dar a volta olímpica. Confio no potencial da minha equipe”, afirmou Baptista, que precisava de um triunfo em Bragança, já que o Massa Bruta tinha a vantagem de poder conquistar dois empates por ser a melhor campanha do torneio.

Corinthians ficou com o troféu em 2003 (Foto: Djalma Vassao/Gazeta Press)

Do outro lado, Luxemburgo pregava calma à sua equipe. “Eu não discuto que a vantagem existe, mas futebol se define dentro de campo. Domingo teremos pela frente um time que virá para o tudo ou nada, e isso é mais perigoso, evidentemente, do que se eles jogassem na defesa”, disse o treinador.

Poucos dias antes da decisão, as duas equipes ganharam ainda mais um motivo para lutar pelo título. “A Federação Paulista de Futebol apresentou  à Imprensa, na boate Gallery, a Copa Governador Orestes Quércia, que será entregue ao campeão da Primeira Divisão desta temporada”.

(Foto: Reprodução/GazetaPress)

O troféu do Paulistão tratava-se de uma réplica de 65 quilos do Palácio dos Bandeirantes, de onde Orestes Quércia governou São Paulo de 1987 a 1991. A peça feita de bronze maciço seria entregue ao clube que vencesse as próximas três edições do Campeonato Paulista de forma consecutiva, ou três delas de maneira alternada.

Hoje uma tática comum dos times de Vanderlei Luxemburgo, o treinador inovou à época ao levar todo o time do Bragantino para se concentrar na cidade de Igaraçu do Tietê, no estado de São Paulo. A novidade provocou polêmica à época , com a Gazeta Esportiva chegando a noticiar que o “Bragantino fugia da cidade”. A decisão, porém, conforme explica o treinador, era para afastar sua equipe da euforia local, provada dias depois.

(Foto: Reprodução/GazetaPress)

No dia da partida de volta, que poderia determinar o sucesso na carreira de um dos treinadores, a prefeitura de Bragança organizou uma festa na cidade desde as primeiras horas da manhã, parte pela confiança no título, e parte pela alegria de estar na decisão.

Ao contrário da empolgação nas arquibancadas, porém, o jogo começou sem grande emoção. O Bragantino tinha o desfalque do zagueiro Nei, além de Mazinho e Mauro Silva sem totais condições de atuar. Diferente da primeira partida, o Novorizontino era melhor e abriu o placar aos 21 minutos do segundo tempo. Cinco depois, no entanto, o time da casa empatou e levou o jogo para a prorrogação. Nos minutos finais, o Massa Bruta segurou o resultado e ficou com o título paulista.

(Foto: Reprodução/GazetaPress)

“O vice-campeonato não é o que nós queríamos. Não tenho do que reclamar. O Bragantino levou a vantagem na classificação geral, jogou com o regulamento. Na fase final, fomos iguais, mas caímos diante do campeão estadual”, disse Nelsinho, ainda no gramado após a partida, antes de encontrar com o filho.

“Eu estava no sub-20 da Ponte Preta, não pude acompanhar muito a competição, mas fui nos jogos finais. Estava nas decisões contra o Bragantino. O time (Novorizontino) é outro (em relação ao atual), o clube é outro, mas guardamos muito carinho pela cidade”, afirmou Eduardo.

Na ocasião, o atual comandante do Palmeiras era zagueiro e ainda buscava ser jogador de futebol profissional. Pouco tempo depois, porém, ele e o pai perceberam que o beque não teria destaque na carreira e, assim, Eduardo iniciou os estudos em Educação Física, curso no qual se formou e fez pós-graduação e mestrado.

Eduardo e Nelsinho trabalharam juntos também no Sport (Foto: Divulgação)

Enquanto adquiria sua formação, porém, Eduardo não deixou o futebol de lado e já trabalhava como preparador físico no pequeno Campinas. Passou também pelo Santo André e sub-20 da Portuguesa. A chance de trabalhar com Nelsinho, porém, demorou a acontecer, vindo apenas 2002, no Goiás, quando Eduardo começou a observar o pai e aprimorar seus conhecimentos no esporte.

Depois de estar com o Nelsinho no Corinthians, Flamengo e diversos outros clubes por quase 12 anos, todos como preparador físico, a oportunidade como treinador finalmente aconteceu em 2014, no Sport, onde sua carreira começou a decolar. Mesmo técnico de um grande clube, porém, os puxões de orelha do pai demoraram a parar.

“A gente conversa bastante, o tempo de puxar orelha passou, ainda bem (risos). Estava aprendendo e amadurecemos. Agora, temos uma troca de experiências, de ideias, metodologias diferentes. Trocamos para poder evoluir”, afirmou Eduardo.

Assim como seu pai, neste domingo, às 19h (de Brasília), Eduardo Baptista não terá a vantagem de obter dois resultados iguais pelo sucesso no Campeonato Paulista. Apesar de o Palmeiras ter a melhor campanha do torneio com 25 pontos ganhos, em caso da repetição de placares, a decisão irá para os pênaltis no estádio do Pacaembu, sexta-feira, 7 de abril, às 20h30.

Apesar do carinho de Nelsinho por Novo Horizonte, Eduardo não tem dúvidas à respeito da torcida do pai nestas quartas de final do Paulistão. “Ele é Eduardo futebol clube”.