Maior artilheira da história dos Jogos, Cristiane quer ampliar marca pelo ouro - Gazeta Esportiva
Bruno Calió *
São Paulo, SP
07/19/2016 08:00:10
 

Grande parte da esperança do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) de o futebol feminino conquistar uma medalha de ouro para o Brasil recai nos pés de Cristiane. Maior artilheira da história dos Jogos Olímpicos com 12 gols, a atacante da Seleção Brasileira irá disputar sua quarta edição de Olimpíadas.

Cristiane esteve presente nas duas medalhas de prata conquistadas pela modalidade na competição. Em Atenas 2004, a centroavante de 31 anos marcou cinco gols, feito que repetiu em Pequim 2008. Já em Londres 2012, o Brasil foi eliminado pelo Japão e a atacante balançou as redes em apenas duas oportunidades.

Para vencer o ouro inédito, a camisa 9 espera se isolar ainda mais na artilharia dos Jogos. “Tomara que eu possa marcar mais gols e me afastar ainda mais de quem vem atrás (risos)”, disse a matadora, em entrevista exclusiva à GazetaEsportiva.com.

Se depender do desempenho recente de Cristiane, os torcedores brasileiros podem ficar animados para ver o Brasil no lugar mais alto do pódio. Na temporada 2015/2016, atuando pelo Paris Saint-Germain, a jogadora marcou 23 gols, o que garantiu à ela uma renovação de contrato por mais um ano, mesmo com o clube optando por trocar toda a sua comissão técnica.

Confira a entrevista completa da maior esperança de gols da Seleção Brasileira feminina nesta edição dos Jogos Olímpicos:

Cristiane, jogadora da seleção brasileria de futebol, Itu SP, 15/07/2016, Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press
Cristiane foi medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2007 e 2015 (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

Gazeta Esportiva – Você foi artilheira na última temporada pelo PSG e renovou seu contrato por mais uma temporada. Como foi essa ampliação do vínculo?
Cristiane – Foi uma alegria grande. Por tudo que eu fiz no ano, mesmo trocando a comissão técnica, o treinador teve interesse em me manter no time porque acompanhou bastante os meus jogos. O vice-presidente também gostou muito do meu desempenho. Acho que fiz por merecer. Quando você faz por merecer, tem um retorno, tem uma ajuda maior. É uma alegria imensa.

Gazeta Esportiva – Você já soma 12 gols nas três Olimpíadas que disputou e é a maior artilheira da história dos Jogos. Qual sua expectativa para esta edição no Rio de Janeiro?
Cristiane – Minha intenção primeiramente é brigar pela medalha. (A artilharia) vai ser consequência. Todo mundo vai esperar isso em casa, principalmente para manter esse recorde que eu tenho. Tomara que eu possa marcar mais gols e me afastar ainda mais de quem vem atrás (risos).

Gazeta Esportiva – Como está a preparação para as Olimpíadas?
Cristiane – A preparação está ocorrendo da melhor maneira possível. Ainda não estamos com o grupo completo, semana que vem chegam outras meninas. Estamos conseguindo corrigir erros que tivemos no passado em amistosos e outras competições. Temos que acertar tudo agora para estrear bem.

Gazeta Esportiva – Você foi duas vezes campeã dos Jogos Pan-Americanos, sendo uma delas no Rio de Janeiro, em 2007. Quais as semelhanças e diferenças entre esta competição e disputar os Jogos Olímpicos em casa?
Cristiane – Olimpíada é um peso maior. Sem diminuir o Pan, mas os Jogos são uma competição mais importante. Esperamos que a torcida seja a mesma que lotou o Maracanã na final (do Pan-Americano Rio 2007) com 70 mil pessoas. Que eles possam dar uma força e nos acompanhar. É uma alegria maior poder jogar em casa e isso dá uma motivação especial. Esperamos brigar pela medalha.

Cristiane, jogadora da seleção brasileria de futebol, Itu SP, 15/07/2016, Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press
Cristiane está concentrada com a delegação brasileira na cidade de Itu, em São Paulo (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

Gazeta Esportiva – Ao mesmo tempo em que não temos atletas convocadas atuando no Brasil, quatro selecionadas jogam na China. O futebol feminino praticado no Brasil está defasado em relação aos outros países? 
Cristiane – Acho que esse período na Seleção, a Copa do Mundo, o Pan-Americano acabou abrindo portas para que outras meninas pudessem sair. O mercado chinês cresceu absurdamente, vimos até pelo masculino. Na Seleção agora temos meninas que jogam lá, e a Europa também tem aberto as portas para as brasileiras. É uma alegria poder ter ficado todo este período trabalhando e abdicando de várias coisas para depois ser recompensada. Esperamos que, com a vinda da medalha, possamos abrir portas para outras meninas. Vai haver uma renovação natural e elas têm que ter a mesma oportunidade que nós tivemos.

Gazeta Esportiva – As melhores atletas brasileiras estão atuando fora do Brasil. Por que isso ocorre?
Cristiane – O problema é que no Brasil, se tivesse uma estrutura bacana e uma boa condição financeira, ninguém sairia. Eu não sairia. A pior coisa para nós é partir, largar a família, deixar quem a gente ama. Isso é muito difícil. Engraçado, nós não temos a facilidade que o masculino tem de levar a família inteira, o cachorro, enfim, todo mundo. Não tenho isso e essa é a nossa maior dificuldade. Se tivesse essa organização financeira legal para a gente poder se manter, porque a nossa carreira é curta e não tem a mesma visibilidade do masculino, ninguém sairia. Acabamos partindo por isso, por necessidade.

Gazeta Esportiva – Pretende voltar a jogar no Brasil no futuro?
Cristiane – Não me programo de voltar. Não teria o menor problema de fazer isso, como já retornei outras vezes. Em algumas eu até tentei ver se com a minha presença a modalidade poderia ter uma visibilidade maior, mas isso não aconteceu. É difícil. Queremos regressar para dar uma ajuda para o futebol feminino, mas o pessoal meio que não se importa muito. Tenho vontade de voltar para ficar em casa, com a família. Tenho saudade de todo mundo. Infelizmente não tenho essa facilidade do masculino, senão minha vida seria totalmente diferente.

Gazeta Esportiva – Esta será sua última disputa de uma edição de Jogos Olímpicos?
Cristiane – Vai depender de muita coisa. Tenho vontade de continuar trabalhando com futebol e principalmente com categoria de base, porque eu não tive isso. Cresci sem base e cresci sem ter muita coisa, então vejo o quanto faz falta para essas meninas. Vemos muitas vezes em competições como a Copa do Mundo de seleções de base o quanto as meninas tem dificuldade em disputar os campeonatos com outras seleções.

* Especial para a Gazeta Esportiva